A História do Brazil contada por Vilas Boas

imagemPor Policarpo Quaresma
Jornal O Poder Popular

Através da sua conta no Twitter, o chefe das forças armadas, General Vilas Boas, anunciou a reabertura da análise sobre o levante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935. A insurreição também é chamada pela historiografia conservadora de “intentona comunista”. Segundo o chefe militar, o objetivo seria evitar um novo “derramamento de sangue verde e amarelo” causado por “ideologias diversionistas”.

A Aliança Nacional Libertadora foi um amplo movimento de massas em defesa de reformas sociais e econômicas estruturais para o Brasil e contra o fascismo. Com forte influência do PCB e tendo Luiz Carlos Prestes como presidente de honra, a ANL reunia diversos setores populares, intelectuais, profissionais liberais, militares nacionalistas e artistas antifascistas e descontentes com a ausência de mudanças reais no país. Até então, Getúlio Vargas ensaiava uma aproximação com os integralistas, movimento de extrema direita da época. Além disso, o contexto mundial era de golpes, insurreições e instalação de ditaduras fascistas que suprimiam as liberdades democráticas, como na Itália, Alemanha, Portugal e, mais tarde, na Espanha e outros países.

Em que pesem seus erros e possíveis críticas ao movimento, o levante de 1935 faz parte da história de lutas e resistências do povo brasileiro contra o fascismo e em defesa da real emancipação social e econômica do Brasil. Enquanto que, historicamente, nossas elites derramaram sangue para impor a escravidão, o poder do latifúndio e políticas em favor de seus interesses particulares, nosso povo sempre organizou movimentos que lutaram contra o trabalho escravo, como na Conjuração Baiana e na Revolução Pernambucana; contra a discriminação e a prática da tortura dentro das forças armadas, como na Revolta da Chibata; contra o poder das grandes oligarquias latifundiárias, como em Canudos ou no Contestado, e em defesa dos direitos trabalhistas, como na greve geral de 1917.

O revisionismo historiográfico de Vilas Boas é seletivo e reacionário. Será que o general pedirá investigação sobre a Farroupilha? A revolução da oligarquia paulista de 1932? Os crimes hediondos do regime militar (1964-85)? É muito certo que não. Para o general, a história do Brasil é uma caricatura desenhada pelas elites que somente escrevem o nome de nosso país com “z”.