Chico Buarque: ícone da cultura brasileira

Foto: Roberto Arrais

Chico Buarque chega aos 81 anos como um ícone de coerência, compromisso e esperança

Autor: Roberto Arrais – membro do Comitê Central do PCB

“O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Meu maestro soberano/ Foi Antonio Brasileiro.” Esses são os primeiros versos da canção “Para todos”, gravada por Chico Buarque em 1993.

Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944. Ele se transformou num dos maiores ícones da música brasileira. E escreveu poesia de resistência à ditadura empresarial-militar instalada no Brasil em 1964.

Ele foi um dos artistas mais perseguidos e censurados pelos ditadores de plantão, especialmente no final dos anos 60, quando decretaram mais medidas de exceção com o AI5, em 1968. Mesmo assim, Chico escrevia de forma brilhante verdadeiras poesias para tentar driblar a censura, e às vezes, num primeiro instante até algumas eram liberadas, como foi “Apesar de Você”, que logo explodiu nas rádios e nas lojas de discos pelo Brasil. Isso em 1970 quando ele voltou do autoexílio na Itália, em 1969. Os censores foram punidos por terem liberado a música, pois, quando perguntado, Chico disse que se tratava de uma briga de casal. Em 1971 ela foi proibida de tocar nas rádios, suas cópias foram recolhidas e destruídas todas as que restavam na gravadora.

Essa e outras músicas de Chico foram transformadas em verdadeiros hinos da resistência contra a ditadura. Eram cantadas em comícios e eventos estudantis e dos trabalhadores. Chico Buarque esteve presente na passeata dos Cem mil no Rio de Janeiro, em 1968, participou das campanhas da oposição em 1974, 1978, seguiu apoiando os opositores do regime militar e defendendo com firmeza as liberdades democráticas. Hoje continua se posicionando ao lado das esquerdas e dos progressistas, contra o fascismo e a extrema direita.

Ainda nos anos 70/80 ele se associou a um investimento numa empresa de metalurgia em São Bernardo do Campo para poder reintegrar Lula, na época o grande líder metalúrgico das greves no ABC paulista e, assim, viabilizar a sua volta à direção do sindicato. Isso foi contado há cerca de 3 anos, no livro escrito por Fernando Morais sobre Lula.

Em 1982 ele foi a Pernambuco prestar apoio à campanha eleitoral de Marcos Freire a governador pelo PMDB. Também naquele momento declarou apoio a Miguel Arraes, aos senadores da Frente Popular e vestiu a camisa de Gregório Bezerra, para divulgar sua candidatura, tirando fotos ao lado do líder comunista, que concorria a deputado federal. Mais um gesto grandioso.

As músicas de Chico de Buarque são cantadas desde os anos 60 até os dias de hoje, por pessoas de diferentes gerações. Boa parte de suas composições são temas de debate nas escolas e universidades, pois falam das lutas, da resistência, do povo oprimido, da esperança, do amor e da solidariedade internacional. Assim ele fez com Cuba, sendo um dos primeiros artistas brasileiros a visitar a Ilha, mesmo quando ainda não havia relações diplomáticas com o Brasil. Depois gravou com Pablo Milanés e cantou “Pequeña Serenata Diurna”, de Silvio Rodriguez, expoentes da Nova Trova Cubana. Fez o mesmo com Angola, cantando “Morena de Angola” e citando o MPLA na letra da música. Apoiou abertamente a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura salazarista em Portugal. Fez shows com Mercedes Sosa, denunciando as ditaduras latino-americanas e sendo solidário com artistas desses países.

Em 1980 o cantor Jamaicano Bob Marley veio ao Rio de Janeiro para lançar um disco e foi proibido de fazer shows, porém, Chico Buarque o recepcionou e, junto com o jogador Paulo César Caju, jogaram uma boa partida de futebol e conversaram muito. Chico também se destacou como escritor e dramaturgo, ganhando prêmios Jabutis e o maior Prêmio de literatura da Língua Portuguesa, o Prêmio Camões em Portugal.

Chico Buarque tem uma obra potente e encantadora. Suas canções, seus livros e suas palavras se fundamentam no amor ao outro, à vida, à liberdade e à esperança por um tempo e um mundo melhor, mais igualitário para se viver.

Viva Chico Buarque de Holanda! Que continue com suas palavras nos livros e nas canções, inspirando as gerações presentes e futuras.