Davos 2019: miséria crescente, protestos e repúdio a Bolsonaro
3.400 milhões de pessoas – quase a metade da população mundial -, em particular mulheres, beiram a pobreza extrema e vivem com menos de 5,50 dólares por dia. Enquanto isso, bilionários ganham 2.500 milhões de dólares por dia, sendo que 26 bilionários detêm metade da riqueza da população mundial.
A ausência de dirigentes mundiais proeminentes marca a edição de 2019 do Fórum Econômico Mundial, que acontece entre 22 e 25 de janeiro em Davos. No último minuto, decidiram não ir à cidade alpina suíça Donald Trump, preso em seu desligamento, nem Theresa May, confrontada com o quebra-cabeça do Brexit, nem Emmanuel Macron, confrontado pelas mobilizações sociais que vêm sacudindo a França há semanas.
Por outro lado, cerca de 3.000 representantes da grande potência mundial estão presentes. Essencialmente líderes políticos e representantes das multinacionais mais conhecidas se reuniram para debater sobre “Globalização 4.0: modelando uma arquitetura global na era da quarta revolução industrial”.
Dentre os participantes está o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, cuja presença em Davos desencadeou múltiplos repúdios públicos em suas mais diversas manifestações. Cerca de vinte ONGs dedicadas a cooperação, associações de solidariedade, sindicatos e organizações políticas suíças (como o Partido Verde), por iniciativa do Solifonds, enviaram uma carta na segunda-feira 21 exigindo que o governo suíço não se encontrasse com Bolsonaro e sua comitiva.
A carta, assinada entre outros por KOBRA, Tierra de Hombres Suiza, o sindicato SIT, Multiwatch, Campax, ALBA Suíça, Juristas Democráticos, Greenpeace Suíça e o Fórum Democrático Cidadão, denunciaram não somente o discurso homofóbico, sexista, antiambiental e racista do presidente brasileiro, mas também as primeiras medidas antissociais, anti-indígenas e antiecológicas do novo governo. Em paralelo, a Sociedade em Defesa dos Povos Ameaçados distribuiu uma declaração exigindo que a Confederação Suíça defenda os direitos dos povos indígenas diante do presidente sul-americano. Um grupo de brasileiros e suíços protestou na segunda-feira 21 em frente ao hotel onde o presidente se hospedou em sua chegada a Zurique, em trânsito para Davos.
Embora menos numeroso do que os tradicionais protestos anti-Davos da década passada, o ato de protesto reuniu mais de mil pessoas, que marcharam no sábado nas ruas de Berna contra a presença da elite mundial, iniciativa que se repetiu na quarta-feira, 23 de janeiro, nas ações convocadas em Davos pela Juventude Socialista.
A luta contra o sistema, a solidariedade internacional e a proteção ambiental aparecem como eixos da mobilização da sociedade civil suíça nestes últimos dias. O mais surpreendente, por seu impacto, é a “greve em defesa do clima” que mobilizou mais de 20 mil estudantes secundários e universitários na terceira sexta-feira de janeiro em todo o país, que se repetirá em 2 de fevereiro. O movimento estudantil pró-defesa ambiental, que começou há alguns meses na Suécia, já adquiriu uma relevância especial em vários países europeus. Uma distribuição dramática da riqueza
Riqueza versus pobreza crescente aparece novamente como a maior contradição desta edição de Davos. O Fórum de Davos é uma iniciativa permanente que reúne cerca de mil parceiros que são empresas com uma média de 5.000 milhões de dólares de atividade comercial anual e que pagam cerca de 45.000 dólares por ano ao Fórum. A categoria de parceiro industrial estratégico, com mais poder de decisão, implica uma cotação de US $ 250.000 ou US $ 500.000 por ano.
Muitos desses membros e parceiros do Fórum de Davos fazem parte dos bilionários cuja riqueza aumentou 900 bilhões de dólares no ano passado, para uma média de cerca de 2.500 milhões diários. Como declarado no último relatório da OXFAM (“Bem-estar público ou benefício privado?), que foi publicado na terceira semana de janeiro, 26 bilionários – um ano antes eram 43 – hoje têm a mesma riqueza que os 3.800 milhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade.
O relatório também observa que 3,4 bilhões de pessoas – quase metade da população mundial -, especialmente mulheres, estão próximos da extrema pobreza e vivem com menos de US $ 5,50 por dia.
O documento da Oxfam argumenta que, se os 1% mais ricos do planeta pagassem 0,5% mais impostos sobre a riqueza, haveria dinheiro suficiente para escolarizar as 262 milhões de crianças que atualmente não têm acesso à educação e se poderia fornecer serviços de saúde para salvar a vida de 3,3 milhões de pessoas. Além disso, o relatório enfatiza que 7,6 trilhões de dólares das fortunas mais concentradas escapam a toda forma de controle fiscal, protegidos pelos paraísos fiscais.
http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/01/24/foro-de-davos-2019-miseria-creciente-protestas-sociales-repudio-a-bolsonaro/