Cúcuta (Colômbia): um campo de experimentação neoliberal
Via Granma – Missão Verdade
A operação contra a Venezuela do passado fim de semana teve por base a cidade colombiana de Cúcuta. A cidade paupérrima longamente abandonada pela oligarquia tornou-se uma base operacional da guerra econômica: contrabando de bens e de divisas, mecanismos criminosos de sabotagem e ruptura cambial. E o departamento em que se situa tem uma das mais elevadas taxas de assassinatos de líderes sociais.
Cúcuta é a cidade dos sonhos para as elites neoliberais, e quando o dizemos não exageramos. Aquilo que eles chamam neoliberalismo baseia-se em diluir o Estado para o converter em bilheteira do interesse para-econômico, esse que exerce o poder de fato chamando de “mão invisível” o seu modo mais confortável de saquear tudo o que se move. Seja força de trabalho, vida não humana (ou natureza) ou recursos financeiros.
A cidade do abandono e do isolamento
Nenhum presidente colombiano tinha ido à capital do departamento Norte de Santander até que, em agosto de 2015, o ex-presidente Juan Manuel Santos foi o primeiro, obrigado a isso pelo encerramento da fronteira ordenado pelo presidente Nicolas Maduro. Não é casual que nesta cidade de fronteira os mais graves índices de exclusão da Colômbia concorram com o papel de base operacional de uma guerra continuada e multiforme contra um processo que procura a inclusão como o venezuelano. Esta competição foi imposta pela oligarquia mais cruel da América Latina: a colombiana.
A exclusão em Cúcuta tornou-se mais evidente após terem fortemente aflorado as contradições entre o Comandante Chávez e Álvaro Uribe Velez. O abandono da população cucuteña por parte de uma elite hiperacumuladora intensificou-se até se tornar uma das cidades com o maior índice de desemprego da Colômbia, e a realidade desta cidade é tão inocultável que até mesmo um órgão como o El Espectador a evidencia.
Com uma taxa de desemprego que não baixa de 14% desde 2009, segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE) colombiano, a economia do departamento começou a depender única e exclusivamente “da situação do país.” Assim observou a empresária Lina Iscalá, do Observatório Econômico da Câmara de Comércio de Cúcuta ao jornal La Opinion. Isso evidencia que, antes desse ano e com trânsito terrestre oficial, se vivia em Cúcuta o mel do cadivismo.
O DANE registra também que Cúcuta ocupa o primeiro posto nacional no que diz respeito à economia informal, com 69,8%, acima da média nacional (48%) e de cidades com alta densidade populacional como Bogotá (41,3%), Medellín (40,6%) e Manizales (38,5 %).
Com a crise econômica venezuelana, em grande parte induzida pela sistemática sabotagem, bloqueio e boicote empresarial, tem sido crescente o número de pessoas que emigraram para vários países latino-americanos procurando melhorar a sua situação. Segundo um sindicato, Caracol atribuiu o crescimento do desemprego em Cúcuta à emigração da Venezuela e não ao problema estrutural que essa cidade vive por causa do contrabando da Venezuela e da precariedade da rede viária.
Por outro lado, a Universidade de Pamplona estudou as causas da insegurança alimentar entre 2007 e 2011, e demonstrou como desde então os baixos rendimentos dos moradores os impediam de ter acesso a alimentação básica e a repercussão desse fato na nutrição da primeira infância, basicamente. Uma em cada cinco crianças dali sofre de desnutrição grave, que pode levar a um atraso no crescimento e aumenta o risco de contrair doenças, em especial as infecciosas. Não é o “efeito Venezuela” que leva a fome ao Norte de Santander, é o programa de ensaios neoliberais impulsionado por antichavistas raivosos como Andrés Pastrana, Uribe e Santos há mais de duas décadas.
As entrevistas com a população cucuteña mostram a sua “inquietação” perante uma guerra entre Venezuela e Colômbia, e pareceria que eles não sabem que essa guerra já vem acontecendo há algum tempo e que as baixas transitam nas suas ruas à procura de trabalho ou de emigrar para outros países onde a coisa seja ‘normal’ . Mais ainda, a guerra contra a Venezuela é contra eles próprios: em 2015 o departamento Norte de Santander já exportava para a Venezuela cerca de 95% menos do que em 2009.
Centro operacional da ilegalidade e da guerra contra a Venezuela
Um dia em Cúcuta se vive na presença dos ensaios neoliberais contra a estabilidade venezuelana; a deformação da taxa de câmbio instrumentada para destruir o bolívar, o contrabando de extração e de dinheiro, bem como o tráfico de gasolina, são usuais e diários.
A cidade torna-se atraente para a economia delinquente colombiana conduzida por elites que impõem estado de sítio a cada movimento financeiro, tanto dentro dela como no resto do país.
Para legalizar as casas de câmbio que atacam sistematicamente a moeda venezuelana baseiam-se na Resolução Externa mº 8 do Banco da República aprovado sob a administração Pastrana em 2000, que estabelece no artigo 70º que: “Os intermediários poderão conveniar operações de compra e venda de moeda em espécie para execução dentro de três dias úteis imediatamente a seguir e anunciarão diariamente as taxas de compra e venda oferecidas ao público para as suas operações através de uma janela”.
Não existe qualquer instrumento jurídico que obrigue as casas de câmbio cucuteñas a tomarem como referência a taxa oficial do Banco da República, contam com licenças e autoridades para desvalorizar o bolívar e promover o contrabando de notas e de produtos.
O contrabando e a hiperdesvalorização funcionam sinergicamente e estão também inscritos na vida diária em ambos os lados da fronteira. Daquele lado existem mais de 50 casas de câmbio, em muitas das quais se lava dinheiro do narcotráfico associado a grupos paramilitares e o peso colombiano é indiscriminadamente cotado acima da moeda venezuelana. Tal desequilíbrio monetário induz ao desequilíbrio da taxa de câmbio. Esta flutua caprichosamente, embora não seja o mecanismo oficial na Venezuela; as máfias decretam a taxa “pelo dinamismo do dólar” ou por “acordos que o mercado de câmbio estabeleça”, conforme a quantidade de bolívares que entre na Colômbia.
Ao mesmo tempo, e de forma engrenada com o ataque cambiário, centenas de pessoas atravessam a fronteira para trocar bolívares em dinheiro e receber uma maior quantia de dinheiro, tendo como principal requisito o de ter uma conta bancária na Venezuela, de preferência no “Banesco Banco Universal” para maiores ” benefícios “. O contrabando de bolívares acelerou a entrada da moeda venezuelana na Colômbia e, portanto, a taxa de câmbio diminui. Assim, as pessoas recebem mais bolívares quando trocam pesos.
A ilegalidade tomou conta da economia a tal ponto que alguns analistas sugerem que o contrabando e a fraude de câmbio mobilizam os dólares dez vezes mais do que o intercâmbio legal. Domina circuitos de produção, distribuição, consumo, rotas marítimas de extração, terrestre e até mesmo aéreo criando uma assimetria que se comporta como um vórtice que devora todos os produtos fabricados ou importados pela Venezuela e os coloca para fora das suas fronteiras através de redes multiformes.
Algumas ações do governo venezuelano têm procurado diminuir o efeito dessa agressão; no entanto, o inimigo muda e procura reagir face a novos cenários, o que torna tudo mais complexo a cada vez.
Campo de experimentação de zumbificação neoliberal
Uma cidade onde impor o caos ao país vizinho é a razão de ser da economia é o modelo que a elite oligárquica colombiana vende, é onde eles desembarcaram líderes do Grupo de Lima para ativar as suas baterias midiáticas de cerco e descrédito contra a Venezuela.
Daí induzem outra fase desta guerra já longa e desgastante, que também tem um teatro de operações local: Norte de Santander é um dos departamentos com alta taxa de assassinatos de líderes sociais: até dezembro de 2018 registraram-se 23 assassinatos de ativistas comunitários .
O governo colombiano insiste em que o seu interesse em resolver os problemas da Venezuela tem a ver com que assim a Colômbia estará melhor. Como de costume não especifica muito sobre este tema, porque tanto Uribe como Santos tiveram a oportunidade de integrar Cúcuta ao resto do país e preferiram transformá-la num campo experimental de guerra e neoliberalismo, valha a redundância.
Fonte: http://www.granma.cu/mundo/2019-02-28/cucuta-un-campo-de-concentracion-neoliberal-28-02-2019-14-02-49