100 anos da Internacional Comunista
Iniciativa dos Partidos Comunistas e Operários. Luta pelo Comunismo: 100 anos de patrimônio político
Nos marcos das comemorações pelo Centenário da Internacional Comunista (III Internacional), que se celebra neste mês de março, se reuniu em Istambul, Turquia, o Encontro «Luta pelo Comunismo: 100 anos de patrimônio político», para estudar cuidadosamente as lições da história e trocar experiências sobre os combates dos Partidos Comunistas em cada país.
Nos dias 16 e 17 de fevereiro, o Partido Comunista da Turquia (TKP) foi o anfitrião das organizações que compõem a Iniciativa Comunista Europeia (ICE) presentes na atividade.
Com base na rica experiência histórica dos Partidos Comunistas trabalhando juntos –tanto durante a Internacional Comunista como depois de sua dissolução em 1943–, os Partidos da ICE discutiram e esclareceram posições a respeito de diversos problemas históricos e conjunturas críticas na história do movimento comunista internacional.
Para as organizações da ICE, isto constitui não apenas uma necessidade, mas um dever político-ideológico para os Partidos de vanguarda de hoje, recordando que V.I. Lênin, em seu discurso no primeiro Congresso da Internacional Comunista, afirmou: «O proletariado não deve temer a verdade, deve enfrentá-la diretamente e sacar todas as conclusões políticas necessárias».
No link seguinte pode se acessar todas as intervenções feitas no evento:
Encontro «Luta pelo Comunismo: 100 anos de patrimônio político»
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DISCURSO INAUGURAL Kemal Okuyan, Secretário Geral do Partido Comunista da Turquía (TKP)
Estimados companheiras e companheiros,
Há cem anos, 54 delegados, dos quais 35 com direito de voto, se reuniram em Moscou. Tinham o desejo de libertar a humanidade da exploração, dar um golpe fatal a um sistema social marcado pela desigualdade e injustiça, unir as lutas pelo comunismo que eram levadas a cabo em cada país em uma só força, divulgar a disposição da classe operária russa, já no poder desde 1917, à Europa e a todos os povos do mundo. O encerramento se deu em 2 de março de 1919.
Na verdade, pode-se dizer que “há exatamente cem anos”… O congresso constituinte da Internacional Comunista ia se reunir em 15 de fevereiro. A Internacional Comunista, a organização da qual centenas de milhares de pessoas se sentiam orgulhosas, por serem militantes num posto de trabalho ou em uma greve, na barricada ou nas masmorras da Gestapo, na tribuna do parlamento ou num campo de concentração… Ia ser fundada em 15 de fevereiro, se os bandos contrarrevolucionários, sob as ordens dos governos reacionários que responderam aos levantes da classe trabalhadora com o terror branco, não tivessem feito todo o possível para impedir que os delegados chegassem a Moscou.
De toda maneira, não puderam evitar que se fundasse o Komintern, nem que a família dos partidos comunistas, embora pequenos e impotentes (exceto o russo) se convertesse em um dos fatores determinantes da luta de classes.
O Komintern, até o ano de 1943, quando sua existência terminou, se dedicou a lutas difíceis e obteve grandes êxitos. No mesmo período também houve derrotas, com resultados trágicos para o Komintern e os partidos membros. Sem dúvida, o que dizemos é válido para todas as fases de nossa história comum depois da fundação da Internacional Comunista. Hoje, enquanto abraçamos orgulhosamente esta história com todos os seus momentos corretos e erros cometidos, também saudamos a todos os militantes de nossa luta digna, particularmente aqueles que têm dado suas vidas pelo objetivo do comunismo.
No período no qual o Komintern foi fundado, os que pensavam que o capitalismo já não tinha muito tempo para sobreviver constituíam a maioria. Nem mesmo os mais cuidadosos podiam imaginar que o capitalismo seguiria existindo como um sistema mundial depois de um século. Hoje, nós que perseguimos o caminho estabelecido pelos companheiros que mostraram a decisão de fundar o Partido Mundial em 1919 miramos o passado com nossa fé inquebrantável no fato de que a burguesia será derrotada e perguntamos: “por que a vitória tardou tanto?”
Esta pergunta é diferente da pergunta “quais foram nossos erros?”. Já aprendemos, depois de tanta experiência, que basear uma avaliação histórica na pergunta “quais foram nossos erros?” prepara o terreno para o negacionismo e até a traição. Está claro que inteirar-nos dos erros do passado é um dever indispensável. Mas a primeira condição para aprender as lições do passado é vincular todas as nossas avaliações à resposta à pergunta “como podemos vencer?”. Por exemplo, as razões da queda da União Soviética são muito importantes para nós, porém, a queda da União Soviética não deve sobrepor uma sombra sobre as conquistas da Revolução de Outubro de 1917 e do período seguinte da construção socialista.
Podemos entender quais foram nossos erros por ter em conta que em todo o processo as conquistas formam uma totalidade dialética com os fracassos, que há que se distinguir das condições objetivas e das inevitabilidades. Assim, não temos que temer o nosso passado, não nos dirigiremos à negação por vergonha, como alguns têm feito. Se a classe operária chegou ao poder em uma série de países no século 20, neste século 21 alcançará o poder em ainda mais países. Miramos o passado buscando os caminhos para realizar esta vontade, aprendemos as lições para isto.
Vamos dizer umas palavras muito simples aos que, depois de anos de refletir sobre a pergunta “quais foram nossos erros?” por anos, se encontraram nas fileiras decadentes da socialdemocracia: superaremos nossos erros no caminho da revolução, no caminho os corrigimos. Porém, o capitalismo não se pode corrigir, é por princípio um erro histórico, uma anomalia, um tumor, uma monstruosidade. A firmeza que tivemos há cem anos para derrotar o capitalismo é igualmente válida e viva: o capitalismo será derrotado.
Estimados companheiras e companheiros,
Durante estes dois dias, vamos discutir importantes fases de nossa história comum. O que necessitamos é um trabalho valente e criativo. É certo que, considerando os períodos e acontecimentos que temos em nossa agenda, muitas dinâmicas tão complexas que não cabem em modelos tiveram papéis importantes. São os princípios inquebrantáveis do marxismo-leninismo o nosso motivo para pensar os acontecimentos históricos: aproveitar as oportunidades que enfrentaremos em nossa luta pelo comunismo da melhor maneira possível.
Permita-nos compartilhar, como partido anfitrião desta reunião, alguns resultados que temos obtido com nossa análise da história do movimento comunista mundial:
1. O centro do movimento operário mundial mudou duas vezes entre 1848 e 1917. Entre 1848 e 1871, o movimento destacado era o francês, mas com a derrota da Comuna de Paris, o movimento operário e socialdemocracia da Alemanha passou ao primeiro plano e se converteu na autoridade indiscutível no movimento operário. Não podemos dizer que os resultados negativos desta autoridade da socialdemocracia alemã começam com a grande traição de 1914, quando os partidos socialdemocratas participaram na aliança de guerra com seus governos burgueses. O fato de que a Rússia passou a ser o centro do movimento operário internacional com a Revolução de Outubro de 1917 não somente significou que a classe operária que conquistou a revolução alcançara a autoridade e o respeito que merecia. A Revolução de Outubro também deve ser considerada como uma ruptura da tendência multifacetada de corrupção e reformismo que começou muito antes de 1914 no movimento operário internacional.
2. Sabemos que Lênin e os outros bolcheviques atuaram com o otimismo de que a revolução se difundiria na Europa e outras regiões quando estava madura, nos fins de 1918, a ideia de uma nova internacional. Este otimismo se baseava em vários fenômenos: o grande descontentamento nos países capitalistas, o fortalecimento do movimento das massas operárias por causa deste descontentamento, a difusão das ideias revolucionárias entre os soldados em muitos países, o fato de que a guerra não resolveu, mas, pelo contrário, fortaleceu os conflitos entre os imperialistas, o surgimento de uma crise de governo da classe capitalista em alguns países, o ascenso da luta de libertação nacional ao redor do mundo, especialmente no mundo das colônias, encabeçado pelo imperialismo inglês … Tudo isto foi verdadeiro e atuar tendo em conta estes fenômenos não era uma aventura, senão uma responsabilidade revolucionária. Porém, o problema é que, em muitos países, a classe operária já estava sob a influência da socialdemocracia, que havia se convertido em um partido burguês, e os comunistas constituíam uma minoria entre as massas.
3. Em 1919, a Internacional Comunista foi fundada com recursos muito limitados. Considerando a situação que acabo de resumir, não é justo definir seu propósito central como “coordenar um processo de revolução mundial via um partido mundial”. Porque no princípio do ano de 1919, não tinha força e maturidade para poder coordenar os partidos comunistas. Neste sentido, pode-se dizer que a Internacional Comunista foi fundada para romper a influência da socialdemocracia. Lênin repetidamente mencionou que esta influência era o obstáculo fundamental para a revolução na Alemanha e em países similares. Por que destacamos a luta contra a socialdemocracia hoje em dia entre as razões para a fundação da Internacional Comunista? A razão é óbvia: hoje se ignora a verdade de que a socialdemocracia, que nos enfrenta com distintos nomes e formas, não pode ser o sujeito de uma aliança da classe operária, a verdade de que a socialdemocracia é uma das dificuldades maiores na luta revolucionária. Devemos sublinhar repetidamente: a fundação da Internacional Comunista é uma declaração de guerra ideológica e política contra a socialdemocracia. O fato de que depois se deram uns passos atrás desta guerra por necessidades táticas não muda esta verdade.
4. Em relação com esta, a principal razão pela qual a classe trabalhadora não podia tomar ou proteger o poder principalmente na Alemanha e em muitos países não era a força da contrarrevolução, mas o serviço da socialdemocracia à contrarrevolução. Essa verdade, que foi silenciada durante anos em nossas fileiras, deve se fazer visível.
5. Vemos que, na década de 1920, os partidos comunistas alcançaram um nível mais alto de influência, mas também estava claro que as massas trabalhadoras na Europa ainda se situavam sob o controle da socialdemocracia. Portanto, quando a ideia de que a revolução não se espalharia tão fácil e rapidamente como se pensava se uniu ao objetivo de proteger a Rússia Soviética, onde a luta contra o inimigo interno e externo se intensificou, a Internacional Comunista, somente em seu segundo ano enfrentou duas tarefas diferentes que não eram muito compatíveis: aproveitar a onda revolucionária na Europa da melhor maneira e proteger o socialismo em um país. Sem inteirar-se dessa tensão explícita não é possível entender o livro Esquerdismo no Comunismo de Lênin, as discussões no Segundo Congresso do Komintern, a atitude em relação aos movimentos de libertação nacional, as táticas de frente ampla contra o fascismo nos anos seguintes. Além disso, definir retrospectivamente as iniciativas e esforços para que a classe trabalhadora aproveitasse os períodos de ascensão da onda revolucionária como “aventureirismo” é inadequado. Jamais se pode questionar por que os comunistas agiram com o propósito de conquistar o “poder político” durante combates pesados em muitos países europeus entre 1919 e 1923. Deve-se questionar, sim, a falta da preparação necessária, os erros táticos das lideranças ou tentativas de golpes “precoces” sem avaliar bem o equilíbrio de forças.
6. Uma vez que se avaliem cuidadosamente esses erros, o papel de muitos líderes que foram posteriormente afastados do Partido Bolchevique se destaca, considerando-se as decisões contraditórias e errôneas de Zinoviev e Radek, figuras proeminentes na estrutura da Internacional Comunista, Trotsky, que era chefe do Exército Vermelho, como Comissário para a Guerra, mas tinha uma relação íntima com o movimento na Europa, Tukhachevsky, que era o comandante da frente ocidental durante a guerra da Polônia. A guerra vista como um ponto de junção entre a propagação da revolução europeia e a proteção da União Soviética deve ser considerada abertamente e sem uma linguagem de heroísmo. A tese de que o Komintern tinha uma linha inquebrável e independente de indivíduos não é correta. Cem anos depois, os erros cometidos em nome do Komintern, sem hesitação para quem os cometeu, devem ser claramente expostas. Devem servir de lição. E não devemos deixar a historiografia do nosso movimento para os trotskistas e liberais.
7. A fim de avaliar a nossa história de uma maneira correta, temos de olhar mais profundamente as tendências e as pessoas que faziam parte do movimento operário mundial e que em diferentes momentos históricos foram condenados. Há que apresentar aos militantes do nosso partido as obras de algumas figuras que traíram abertamente a luta revolucionária, outros que cometeram erros graves e alguns que foram historicamente refutados, figuras que faziam parte dos debates de seu tempo. Nossos militantes devem entender as fontes teóricas e práticas do reformismo e do liberalismo que ainda são influentes em nossas fileiras. Neste sentido, não apenas figuras como Lasalle, Bakunin, Bernstein, Kautsky, mas também outros como Korsch, Roy, Balabanova, Sultan Galiev, Pannekoek devem ser incluídos na formação de quadros. Devemos examinar profundamente as obras de figuras que tinham atitudes contraditórias como Lukács, Gramsci e Rosa Luxemburgo. Não se pode entender o valor das obras de Marx, Engels e Lênin e a luta de Stálin de outra maneira.
8. Por último, gostaria de falar sobre os resultados que obtivemos das relações entre os partidos comunistas, à luz da experiência do movimento comunista mundial durante e após o período da Internacional Comunista. A contribuição da Internacional Comunista e depois do Partido Comunista da União Soviética para o movimento comunista mundial, para a fundação e fortalecimento de partidos individuais, não pode ser subestimada. Dito isso, a experiência de um século mostra que os partidos comunistas deveriam dar mais ênfase a aspectos como a autossuficiência, a independência organizativa, a tarefa e a responsabilidade de responder às necessidades da luta de classes com seus próprios recursos. Isso não elimina a necessidade da solidariedade, cooperação e coordenação entre os partidos comunistas, pelo contrário, torna ainda mais importante. Além disso, se não estabelecermos a cultura de debate, avaliação e crítica aberta, honesta e camarada entre os partidos comunistas, não poderemos praticar o princípio de que os partidos comunistas tomem suas próprias decisões estratégicas e táticas. Nenhum Partido Comunista pode proibir que sua posição e luta sejam sujeitas à avaliação por outros partidos, referindo-se à independência dos seus mecanismos de decisão. O importante aqui é o seguinte: não se deve criar uma autoridade absoluta que supere a vontade de um partido que assume a responsabilidade política e organizativa da luta do socialismo em um país e de seus membros. Até que, em algum momento no futuro, quando os partidos comunistas, para dar o golpe fatal ao capitalismo, tomarem a decisão de fundar uma nova organização internacional, devemos levar em conta essa abordagem.
Queridas companheiras e companheiros,
Quando o Partido Comunista da Turquia sediou a reunião dos Partidos Comunistas e Operários do Mundo em 2015, estávamos no processo de eleições parlamentares na Turquia. Não queríamos a possibilidade de que, devido à súbita decisão de realizar as eleições para o governo, a reunião que acontece todos os anos não fosse realizada. Nosso partido organizou o Encontro dos Partidos Comunistas e Operários do Mundo em meio a um trabalho árduo. Os membros do partido que tinham tarefas na reunião saíram para votar entre as sessões e retornaram. Agora, depois de quatro anos, temos o Encontro da Iniciativa Comunista da Europa e novamente as eleições. Felizmente, desta vez temos 40 dias até as eleições, e o TKP tem a força para cumprir suas responsabilidades internacionais e o trabalho das eleições.
As próximas eleições locais são muito importantes para o TKP, porque não há outro partido nas eleições que questione o sistema capitalista. Os partidos fazem alianças uns com os outros, pessoas que não podem ser candidatas de um determinado partido são colocadas na lista de outro, as transferências de outros partidos são feitas apenas para ganhar o governo local. Todos os partidos que participam das eleições têm políticas diferentes em cada localidade, têm candidatos liberais em uma cidade e nacionalistas em outra. Um partido quer votos para cinco partidos diferentes. O TKP está fora desta corrupção, trabalha para explicar o socialismo como uma alternativa para milhões de trabalhadores que a crise atingiu, para conquistá-los para a luta organizada por seus interesses atuais e históricos. Nosso partido tem candidatos para parlamentos locais de todas as 81 cidades e dos 921 municípios. Temos candidatos a governador nas 81 cidades. Em aproximadamente 90 municípios, o povo pode votar em um candidato a governador do TKP. Exceto por seis candidatos, todos os candidatos são do partido. Os seis candidatos são candidatos de alianças locais das quais o TKP também participa.
Usamos novamente um slogan que usamos há 17 anos: se o capital tem o seu domínio, as pessoas têm o TKP. Além disso, temos outro slogan em nossa mídia de propaganda: não estamos no mesmo barco. É isso mesmo, não estamos no mesmo barco. Não estamos no mesmo barco com os exploradores, os monopólios internacionais, as potências imperialistas, os nacionalistas, os racistas, os religiosos reacionários, os liberais. Aquele navio que condena bilhões de pessoas no mundo à fome, à pobreza e ao desemprego afundará. Nós vamos afundar esse navio. O navio dos oprimidos navegará em direção a um mundo sem classes ou exploração.
Nós dizemos isso com uma fé inabalável, uma confiança em nós mesmos no centésimo aniversário da Internacional Comunista. Nós temos uma estrada aberta, camaradas!
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
FONTE: https://prensapcv.wordpress.com/2019/03/01/experiencias-politicas-a-100-anos-de-la-internacional-comunista/