Lenin, a dependência e a América Latina

Gravura de Leonid Shmatko, 1957

Tribuna Popular – Partido Comunista da Venezuela

Carlos Lazo, membro do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela

O dia 21 de janeiro marca 100 anos desde que Vladimir Ilyich Ulyanov deixou de pensar na transformação revolucionária do mundo e na emancipação da classe trabalhadora do trabalho assalariado. No entanto, as suas ideias ainda hoje marcam o rumo revolucionário das lutas sociais.

Através de uma análise cuidadosa do desenvolvimento do capitalismo até a sua fase imperialista, Lenin mostrou nos seus escritos como os países capitalistas sustentaram o seu crescimento e desenvolvimento através da colonização, da dependência e da sujeição despótica de outras nações. Ciente disso, levantou a necessidade de vincular as lutas da classe trabalhadora dos países capitalistas às lutas de libertação nacional dos países coloniais e dependentes.

Consequentemente, o conteúdo político e propagandístico das táticas dos partidos revolucionários – como instrumento de educação internacionalista dos trabalhadores, das trabalhadoras e dos povos não proprietários dos meios de produção nos países imperialistas – deve necessariamente estar ligado à defesa dos movimentos de libertação nos países coloniais e dependentes. Caso contrário, não há internacionalismo.

Outro aspecto em que Lenin considerou estabelecer os laços de exploração dos países imperialistas com os países coloniais e dependentes foi o desenvolvimento das estradas de ferro. Isto expressou o desenvolvimento das forças produtivas nos ramos da indústria do carvão e do ferro e em todos os ramos e sub-ramos que intervêm na sua produção. Desta forma, o comércio mundial recebeu a infraestrutura necessária ao seu crescimento, fortalecimento e expansão. Consequentemente, a civilização capitalista e a exploração dos povos do mundo foram consolidadas.

A este respeito, Lenin aponta no prólogo de Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo:

“Na realidade, os múltiplos laços capitalistas através dos quais estas empresas estão ligadas à propriedade privada sobre os meios de produção em geral, transformaram esta construção num meio de oprimir bilhões de pessoas (nas colônias e semi-colônias), ou seja, mais da metade da população mundial nos países dependentes e os escravos assalariados do capital nos países ‘civilizados’.”

Já nos primeiros anos do século XX, Lenin havia identificado que o capitalismo havia se tornado “um sistema universal em que um punhado de ‘países avançados’ promove a subjugação colonial e o estrangulamento financeiro da vasta maioria da população do planeta”. O líder revolucionário mergulhou mais fundo neste processo e determinou que a competição entre um punhado de potências para compartilhar os “despojos” globais arrastou os povos para as suas guerras.

Nas Notas críticas sobre a questão nacional (1913), Lenin analisa a tarefa dos revolucionários sobre o direito à autodeterminação dos povos nos países coloniais e dependentes: “A abordagem do nosso programa (sobre a autodeterminação das nações) só pode ser interpretada no sentido da autodeterminação política, isto é, o direito à separação e à formação de um Estado independente.”

Voltaria a esta questão da autodeterminação política alguns anos depois, na obra já citada, Imperialismo, fase superior do capitalismo. Aí ele observa que “o capital financeiro e a correspondente política internacional, que se traduz na disputa das grandes potências pela divisão econômica e política do mundo, dão origem a abundantes formas transitórias de dependência estatal”. “Para esta época são típicos não apenas os dois grupos fundamentales países – os que possuem colônias e as colônias – mas também as diversas formas de países dependentes que, do ponto de vista formal e político, gozam de independência, mas que na realidade estão envolvidos em redes de dependência financeira e diplomática”, acrescenta.

Imperialismo e América Latina

É no contexto das relações de exploração dos países imperialistas com os países dependentes e coloniais que podemos situar a América Latina no pensamento de Lenin. Os Estados Unidos desenvolveram relações de dependência política e econômica e impuseram alianças para a “defesa” do Hemisfério Ocidental, mantém também a política de ameaças e de utilização de intervenções militares para a execução da sua política externa.

O desenvolvimento dos países latino-americanos através do capitalismo, no contexto das relações de dependência descritas por Lenin, condenou a região à reprodução ampliada do atraso e da dependência. As burguesias, através dos seus movimentos e partidos políticos – que do poder subscreveram políticas desenvolvimentistas – não alcançaram os seus objetivos. Pelo contrário, aprofundaram os seus laços de dependência e aumentaram a transferência líquida de capitais para os países imperialistas.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), entre 1980 e 2021, a economia latino-americana exportou capitais para o resto do mundo na ordem de 467,75 bilhões de dólares, que foram destinados a sustentar os processos de acumulação de capital da burguesia internacional, fundamentalmente a dos Estados Unidos. Estes dados mostram a validade das análises que há um século realizou o líder da revolução bolchevique: Lenin conseguiu compreender as relações globais de exploração que sustentam o imperialismo.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)