Por que se organizar no Partido?

Foto: UJC RJ

Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC)

De forma justificada, os elementos fundamentais da organização do trabalho militante do Partido são atribuídos a Lênin, numa superação dialética de Marx. Contudo, em Marx também encontramos contribuições fundamentais para entender a importância do Partido, do trabalho coletivo e justificar, contrário às saídas individuais, o porquê de se organizar.

No capítulo 11 d’O Capital, intitulado de Cooperação, Marx introduz a discussão sobre as características do trabalho cooperativo, ou da cooperação no trabalho. Esse capítulo está na Parte Quarta, dedicada à produção da mais-valia relativa, e precede as discussões sobre divisão do trabalho, manufatura, maquinário e indústria moderna. A própria organização da obra nos dá os indícios para desvelar o fundamento da cooperação: o aumento da produtividade do trabalho.

Mas, sem pressa, estabeleçamos alguns princípios. Primeiro: o que é o trabalho cooperativo para Marx? Encontramos rapidamente essa definição:

Chama-se cooperação a forma de trabalho em que muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos. (MARX, p. 374)1

E, logo após, ao perguntar: “Para que serve a cooperação?” – No que nos interessa o trabalho político:

O poder de ataque de um esquadrão de cavalaria ou o poder de resistência de um regime de infantaria difere essencialmente da soma das forças individuais de cada cavalariano, ou de cada infante. (MARX, p. 374)

Podemos ainda colocar que isso decorre de uma das leis do materialismo histórico-dialético, pela qual mudanças quantitativas se acumulam para formar mudanças qualitativas. Especificamente, que a soma do trabalho individual de vários vai se acumulando até formar algo novo, qualitativamente diferente do trabalho individual, o que chamamos de trabalho coletivo.

Para superar o capital: organizar a classe
Explicamos então por que se organizar, o porquê de a construção de nosso futuro socialista ter uma base coletiva inegociável. O capital foi revolucionário porque coletivizou a produção, superando a escassez pré-moderna. Mas encontra sua limitação ao perpetuar essa escassez pela concentração dos meios de produção, da riqueza produzida. Ele socializa a produção, mas se apropria dos seus frutos de forma privada. Tudo isso só é possível pela organização coletiva, mas subordinada. Nossa tarefa, então, é romper a subordinação, tornar coletivo o controle do que já é produzido coletivamente.

Mas é fantasia pensar que os esforços difusos de milhões, sem uma ação coordenada, podem fazer frente a um aparato político centralizado e organizado, o Estado burguês. Por mais que se tente mascarar, é patente a existência de uma organização política que une os interesses e esforços da classe burguesa. E no jogo político, a organização mais eficiente toma a frente. Logo, para se suplantar o Estado burguês, a organização política que dá base ao sistema capitalista, é preciso uma organização unitária, forte e eficiente que incorpore e execute os interesses do proletariado.

Ou seja, voltamos aqui para as contribuições de Lênin ao analisar a experiência da Comuna de Paris. Como argumenta em O Estado e a Revolução, para se contrapor ao Estado burguês, é necessário erguer um Estado proletário2. Ou seja, para destruir a ordem capitalista, é necessário construir um aparato político centralizado que seja capaz de romper a resistência da burguesia e conduzir as transformações necessárias rumo à ordem comunista.

E qual é essa forma de se organizar?
O que pode levar à construção de um Estado de novo tipo? Podem difusas redes de coletivos, organizações e pequenos partidos, a partir de um novo princípio de funcionamento, fornecer essa alternativa? Para isso, os indícios podem ser buscados na experiência histórica. Nenhuma revolução vitoriosa foi operada por “redes”; as revoluções se construíram com Partidos, Comandos e Frentes Revolucionárias, com organizações centralizadas e capazes de enfrentar a repressão do Estado burguês.

Mas, da mesma forma que a tática revolucionária das barricadas se torna obsoleta com a formação dos exércitos modernos, será que os Partidos estão obsoletos frente a uma “nova” dominação (burguesa) em “rede”? Para isso, basta observar os períodos de crise recente. Rememorar que, durante as grandes manifestações por direitos unificadas no “Não vai ter copa”, são as forças armadas, o Estado centralizador que entram em cena. Não há superação da forma Partido, porque ela é a única a conseguir, historicamente, resistir à violência capitalista e impor a ordem socialista.

E que Partido é esse?
Historicamente, a organização do proletariado em classe assume a forma dos Partidos Comunistas (PCs), em um nível que levou Hobsbawm a afirmar que, no século XX, era impossível ser revolucionário e não estar em um PC3. Contudo, desde a década de 70, com a ofensiva neoliberal e a queda da URSS, temos um cenário diverso: não se consolidaram, em países capitalistas, Partidos capazes de unificar a classe trabalhadora sob sua bandeira.

Isso significa que a forma dos PCs está superada? Não, pelo contrário: não há superação dos princípios que regem a organização comunista, que tornem os PCs irrelevantes. O fortalecimento dos monopólios e dos partidos burgueses torna cada vez mais necessários os elementos fundamentais da Internacional Comunista. Tornam-se necessários a ação política decidida e unificada, o horizonte político revolucionário comum e a unidade inquebrável da classe trabalhadora internacional.

Contudo, não se trabalha com ideais: a situação concreta aponta que não há condições, atualmente, para reconstruir a Internacional Comunista, o partido único do proletariado. Mas nem por isso devem os comunistas ignorar a atuação consequente. Conhecendo as tendências do movimento, apontamos para o horizonte político imediato, palpável e concreto de unificação das lutas: organizar uma Frente Política e Social. Uma Frente que seja capaz de unir todos os elementos anticapitalistas e anti-imperialistas do país.

As organizações de Juventude
E, dentro dessa Frente Política, não podem faltar as organizações de Juventude, sejam do Movimento Estudantil (ME), Popular ou Cultural. São as organizações da juventude trabalhadora que carregam os futuros quadros do movimento comunista. E, sendo o comunismo a juventude do mundo, é a Juventude Comunista que melhor pode nos moldar para esse futuro.

Se apontamos para a unificação dos elementos anticapitalistas e anti-imperialistas, não podemos deixar de construir essa unidade em nossas bases. Excluindo qualquer vínculo estratégico com os setores burgueses, apostamos na organização decidida da classe, no Poder Popular que emana das organizações de massa em movimento. Desenha-se, então, uma linha clara: organizar a unidade com todos aqueles que se coloquem objetivamente contra os interesses da burguesia, sem conciliação.

Nesse sentido, concluímos: para superar o capital, é necessário ser revolucionário; para ser revolucionário, é preciso se organizar em Partido. E, seguindo a linha construída pelo nosso Partido, continuamos na defesa da Frente Anticapitalista e Anti-imperialista, da unidade dos elementos objetivamente revolucionários contra a burguesia, levamos à frente a organização da juventude sob a bandeira da UJC.

Por Guilherme Corona, militante da UJC na Bahia

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro Primeiro, O Processo de Produção do Capital, Vol. 1. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro
LÊNIN
HOBSBAWM, Eric J.. Revolucionários, Ensaios Contemporâneos. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1985, 2ª edição