Comunicado das FARC-EP aos familiares dos prisioneiros militares do conflito na Colômbia

ASFAMIPAZ, Bogotá.

Prezada senhora:

Além de considerá-la de maneira especial por sua condição de mulher colombiana que trabalha pela paz, dirijo-me à senhora por sua condição de líder do movimento de familiares de militares e policiais prisioneiros de guerra, por cuja liberdade tem travado durante anos uma incansável batalha. Sabemos que a senhora encarna a dor e a esperança de muitas famílias, a quem nos dirigimos por seu intermédio, e as quais procuramos satisfazer com as liberações prometidas.

A acidez característica dos comentaristas da grande imprensa, bem pagos para difamar a nossa luta, repudia enfurecida, de comum acordo com o alto governo, cada uma das nossas atitudes de reconciliação. As classes privilegiadas da Colômbia não só fizeram da guerra um credo, mas também aspiram que esse credo seja o único que alimente a consciência de 46 milhões de nossos compatriotas. Nós, ao contrário, sempre pensamos diferente.

É uma lástima que todos os dias o sangue de colombianos humildes esteja sendo derramado em um longo enfrentamento. Não deveriam morrer militares nem policiais. Tampouco teriam que morrer guerrilheiros. Quem sabe fosse melhor que não existissem nem uns, nem outros. Que não tivéssemos que falar de prisioneiros de ambos os lados. Que houvesse uma democracia real na Colômbia. Que não assassinassem sindicalistas nem opositores políticos. Que não desalojassem milhões de trabalhadores rurais.

Como sentenciou uma vez Balzac, é certo que por trás de toda grande fortuna há um crime, e é por isso que em nosso país existe uma desigualdade social tão escandalosa. Os mortos têm sido tantos quanto gigantesca é a riqueza da elite financeira, industrial e agrária. Militares e policiais são doutrinados e treinados para defender os interesses dessa minoria seleta. A mesma que se mostra insensível e soberba quando os vê em desgraça.

É por isso que permaneceram tantos anos em nossos acampamentos. Ainda que não tantos quanto as guerrilheiras e os guerrilheiros condenados a penas de 50 e 60 anos nas tenebrosas masmorras do Estado colombiano ou dos Estados Unidos. A realidade é dura, isso é certo, porém tem duas caras.

Os soldados e policiais que serão liberados contaram com melhor sorte do que os milhares e milhares de desaparecidos, do que os milhares de vítimas dos falsos positivos, do que os decapitados pelas motosserras, do que os colombianos que tiveram seus ventres rasgados antes de serem atirados nos rios, dos que foram lançados nos criadouros de jacarés. Tudo isso com a cumplicidade aberta das forças militares e da polícia colombianas, com o patrocínio da classe política. As marchas de aplausos organizadas pelo presidente Santos nas áreas controladas pelo paramilitarismo não ressuscitarão os dirigentes dos movimentos de trabalhadores rurais sem-terra que estão sendo assassinados com absoluta impunidade.

É assombroso o manejo midiático com o qual se perverte a realidade em nosso país. Toda a parafernália informativa foi posta ao serviço da máquina assassina do regime, constituindo parte integral de seus planos de guerra. Com ela, pretende-se apoderar da consciência da cidadania, do mais elementar de suas análises. A vocês, cuja dor jamais foi sentida nas alturas do poder, é óbvio que tentarão usá-los para atiçar ainda mais o ódio e a guerra.

Agem assim para que outros militares e policiais sigam morrendo, sigam sendo feridos, ou sigam caindo prisioneiros. Nós cremos que vale a pena tentar romper esse círculo maldito e apostar na reconciliação e na paz.

Dessa dor padecem os filhos, os irmãos, os pais dos humildes policiais e soldados que, por um soldo miserável, arriscam suas vidas todos os dias. Quando assumimos, publicamente, o compromisso de não realizar retenções com fins financeiros, culminamos um processo interno promovido pelo camarada Alfonso Cano, encaminhado a colocar um fim definitivo nessa prática. E os mesmos pregadores da guerra saem agora a nos desqualificar com rebuscados pretextos.

Semelhantes barbaridades são criações da inteligência militar. Nenhuma resistiria a mais sã indagação probatória. Porém, os meios de comunicação as repetem centenas de vezes em obediência às suas tarefas. Observamos que agora tentam convertê-la em líder da luta pela liberação de não sei quantas centenas de sequestrados. Todas essas cifras são também falsas. As percentagens precisas que o “País Libre” cobra das FARC obedecem aelaborações preconcebidas. Até a expressão usada em nosso comunicado para convidá-la a tomar parte da comissão que receberá os prisioneiros na data acordada, que será definida após os acordos dos necessários protocolos, foi maliciosamente manipulada por alguns para insinuar que já existe um prévio acordo entre a senhora e a guerrilha sobre o assunto. Assim são os miseráveis de espírito, os piores inimigos da paz que buscam agora o modo de se aproveitarem de vocês, convertendo em crime qualquer intenção para encontrar uma saída política diferente da rendição e entrega das armas, pressionada por Santos. Não deixaremos que realizem seus planos.

Fraternalmente,

Timoleón Jiménez

Comandante do Estado Maior Central das FARC-EP

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo

Montanhas da Colômbia, 3 de março de 2012.

Fonte: TELESURTV

http://www.telesurtv.net/articulos/farc-aseguran-que-noticias-sobre-atentados-son-creaciones-de-la-inteligencia-militar201d