Dinheiro do FGTS engorda superávit fiscal

BRASÍLIA. Depois da confusão criada pela decisão inédita do governo de usar recursos doFGTS para reforçar o superávit primário, o Tesouro Nacional decidiu que devolverá o dinheiroao Fundo corrigido, para que os trabalhadores não tenham perdas. Será aplicada aos recursosbloqueados (R$ 2,96 bilhões) a remuneração da conta única, que equivale ao rendimentodos títulos públicos depositados no Banco Central. Essa remuneração tem superado a Selic,destaca fonte da área econômica:

– O FGTS não vai perder, só vamos atrasar o repasse.O valor bloqueado refere-se às receitas anuais com a arrecadação da contribuição social de10%, paga pelos empregadores nas demissões de trabalhadores, além da multa de 40%. Osconselheiros do FGTS e o Ministério do Trabalho, responsáveis pela gestão do Fundo, forampegos de surpresa, pois desconheciam o artifício encontrado pelo governo para fechar ascontas do ajuste de R$ 55 bilhões feito no Orçamento de 2012. O esforço fiscal anunciadopela equipe econômica em fevereiro foi viabilizado com cortes de despesas do Orçamento eretenção de receitas, incluindo os recursos do FGTS, como noticiou ontem o colunista IlimarFranco.

– Não fomos consultados. Ficamos sabendo pela imprensa e imediatamente pedimosesclarecimentos ao Ministério da Fazenda – disse um conselheiro.

O assunto foi tratado na reunião do Conselho Curador de anteontem, quando o secretário-adjunto do Tesouro Marcus Aurélio explicou que o governo decidira reter os recursos porqueo FGTS tem dinheiro sobrando no caixa e fechara 2011 com uma disponibilidade de R$ 96bilhões.

A decisão de devolver o dinheiro corrigido foi tomada ontem, em resposta à pressão dosconselheiros do FGTS, que alertaram para as perdas decorrentes da medida. Apesar dadecisão do Tesouro de devolver o dinheiro ao Fundo com correção, ainda não foi definida adata do repasse, que anteriormente era feita no mesmo mês da arrecadação.

No relatório de receitas e despesas divulgado em fevereiro, a equipe econômica justificoua decisão de reter os recursos do FGTS alegando que não há exigência legal de repasseimediato dos valores arrecadados. Porém, desde a criação dessa contribuição (LeiComplementar 110/2001) – para ajudar a pagar a despesa da correção dos planos Verão eCollor I nas contas do FGTS – o Executivo vinha fazendo os repasses regularmente.

A lei que criou a contribuição permitiu a retenção de 20% dos recursos, referentes àDesvinculação das Receitas da União (DRU), desde 2004, mas os repasses foram integrais. Adecisão do governo tem respaldo legal, explicou um interlocutor. Os recursos são recolhidos naCaixa, mas como se trata de uma contribuição, precisam ser registrados no caixa do Tesouro.Em julho, a Caixa vai zerar o expurgo dos planos econômicos no balanço do FGTS e não farámais sentido a vigência da contribuição. Mas para que seja suspensa é preciso alterar a lei,que não fixou prazo para a cobrança.

Embora os recursos arrecadados sejam destinados ao caixa do FGTS e não migrem para ascontas individuais dos trabalhadores, as centrais sindicais estão contra o governo e ameaçamrecorrer à Justiça.

– É um absurdo o governo pôr a mão no dinheiro do trabalhador para fazer superávit. Se nãorecuar, vamos entrar na Justiça – disse Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.- A CUT é contra – reforçou o presidente Artur Henrique.

Depois de participar de uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e comlíderes de partidos aliados no Senado, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti,avisou que a presidente Dilma Rousseff deve vetar, mais uma vez, o dispositivo que permiteo uso de recursos do FIF-FGTS em obras nas cidades que vão sediar a Copa do Mundo e asOlimpíadas. A possibilidade de usar os recursos foi aprovada pelo Senado e pela Câmara,numa manobra do PMDB que incluiu a matéria na Medida Provisória 545. A proposta vai àsanção de Dilma, que deve vetar.

Em dezembro, texto semelhante foi aprovado na MP 540, e Dilma vetou , com ustificativa deque os recursos do FGTS são usados para moradia, e porque os investimentos em Copa eOlimpíadas têm regras próprias. Na ocasião, o veto criou mal-estar entre Planalto e PMDB.Agora, o governo crê que não haverá desgaste na repetição do veto.

 


MPF cria grupo para investigar crimes da ditadura

 

Agência Estado

O Ministério Público Federal anunciou hoje a criação no Rio de Janeiro do Grupo de TrabalhoJustiça de Transição, para investigar violações de direitos humanos cometidas durante aditadura militar no Brasil e processar criminalmente os seus supostos autores. O GT, criadopor orientação da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, investigará também crimesocorridos após a ditadura, como formação de quadrilha, sequestro qualificado, ocultação decadáver e outros, se envolverem ações para impedir as investigações sobre delitos ocorridosdurante o regime de exceção e cometidos por seus agentes.

A 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF é um órgão nacional do MPF. Sua decisão,no fim do ano passado, foi tomada após a sentença da Corte Interamericana de DireitosHumanos, em Washington, que condenou o Brasil por não ter providenciado Justiça às vítimasde violações de direitos humanos ocorridas durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, nosanos 70.

A iniciativa da 2ª Câmara levou à criação de grupos de procuradores federais, coordenados apartir de Brasília, nos Estados de Rio Grande do Sul, Sergipe, Santa Catarina, Paraná e SãoPaulo, onde o MPF já investigava alguns casos de violação . A Procuradoria no Rio de Janeiro,agora, se junta às investigações. No próximo dia 12, no Distrito Federal, haverá uma reuniãode procuradores empenhados nas apurações.

“Em atendimento ao decidido pela Corte Interamericana, a 2ª Câmara do Ministério PúblicoFederal reconheceu que os tratados internacionais de Direitos Humanos firmados pelo Paísimpõem ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal a investigação e a persecução dosilícitos cometidos durante a ditadura militar no Brasil. Assim, desde o final do ano passado,as unidades do Ministério Público Federal vêm se reunindo e organizando para dar cabodessa missão”, afirma o procurador da República Luiz Fernando Lessa. Para ele, não cabe aalegação de prescrição dos crimes, repudiada na sentença da Corte.

Lessa considerou prematuro adiantar quais casos serão investigados, mas disse quecertamente, entre as prioridades estarão os episódios de desaparecimento e outros crimesocorridos no Rio. “Não dá para adiantar por onde começaremos, ainda não temos asprioridades, como dividiremos esses processos”, explicou. “Se houver necessidade deabrir inquérito policial, abriremos. O que poderemos fazer será realizar os nossos própriosprocedimentos de investigação.”

 


Contagem regressiva para a greve da educação

 

CNTE

Representantes das 44 entidades filiadas à CNTE estiveram reunidos com a direção executivada entidade nesta quarta-feira (29/02), em Brasília, para acertar os últimos preparativos para agreve nacional programada para os dias 14 a 16.

Cerca de 30 entidades já estão com a programação definida para os três dias de paralisação.Assembleias, aulas-cidadãs, audiências públicas nas assembleias legislativas, passeatas,panfletagens e atos em praças públicas serão algumas das atividades previstas parachamar a atenção da sociedade para a falta de compromisso dos gestores com a qualidadeda educação. A greve é pelo cumprimento da Lei do Piso, em vigor desde 2008, planosde carreira, 1/3 da jornada para atividades extraclasse e por 10% do PIB no PNE o parafinanciamento da educação.

Antecipando a pauta de reivindicações, trabalhadores em educação de Rondônia, Goiás ePiauí deflagraram greve estadual já no mês de fevereiro. Outros sindicatos como a APEOESP/SP, vão promover assembleia no dia 16 para avaliar se darão continuidade à paralisação.

 


O risco do protecionismo

 

Valor Econômico

Elas estão no Brasil há até um século, foram fornecedoras do primeiro bondinho do Pão deAçucar e de turbinas para Itaipu; têm nomes familiares como Ericsson, Electrolux, AstraZeneca, Asea Brown Boveri (ABB), Saab; e o presidente da holding maior acionista individual dessasempresas veio ao Brasil nesta semana. Marcus Wallenberg, cuja família detém, na holdingInvestor, ativos equivalentes a quase 6% do Produto Interno Bruto de toda a Suécia, disse aoValor que os altos e baixos do câmbio não o preocupam tanto quanto a tendência – “mundial”,diz ele – de protecionismo comercial.

“É importante para as empresas suecas que sejamos tão a favor do livre comércio e dosacordos internacionais”, comenta ele, ao falar da tendência de aproveitar cada vez maiso Brasil na cadeia produtiva global de empresas como Ericsson, de comunicações, ou agigante de automação e energia ABB, resultado da fusão de uma empresa suíça e outrasueca. “Estamos preocupados em ver que esses acordos deixaram de ser prioridadeglobalmente”.

Outro fator essencial é a garantia do governo de que manterá a responsabilidade nas contaspúblicas, diz o executivo, que vê na estabilidade de regras componente fundamental nasdecisões de investimento. “A estabilidade fiscal tem sido muito boa para atrair investimentos aoBrasil”, afirma.

Para brasileiros acostumados com a exuberância e onipresença de um Eike Batista, osmembros da família Wallenberg, considerados uma dinastia secular na Suécia, impressionampelo oposto: o lema é “essere no videre”, frase latina que significa “ser; não ser visto”. Marcus,que, com o Investor, detém 22% do segundo maior banco sueco, o SEB, fica corado aoresponder se é verdade que costuma viajar de avião em classe econômica. “Viagens de lazer,com filhos, sim”, garante. Apesar do crescente desconforto da classe econômica? “Não paramim”, diz, sorrindo.

Os dividendos e gratificações das principais companhias da carteira da Investor são aplicadosem uma fundação da família, que usa os recursos para financiar bolsas de estudo, pesquisae desenvolvimento no país. A manutenção da fortuna em trusts familiares, sem que nenhummembro da família controle os ativos diretamente, é apontada como uma das razões para alonga duração do poder dos Wallenberg. O bisavô do executivo, também Marcus, pressionouo governo a permitir que bancos detivessem o controle de empresas e ajudou a formação daEscola de Economia de Estocolmo, em 1909, cinco anos após queixar-se de que a Suéciatinha ótimos engenheiros e bons trabalhadores, mas carecia de empreendedores.O atual Marcus Wallenberg veio ao Brasil acompanhando missão empresarial liderada pelopresidente do parlamento sueco, Per Westerberg, que teve, entre outros objetivos, o lobbypelo caça sueco Gripen, da Saab, na disputa pelo fornecimento de novos aviões-caça à ForçaAérea Brasileira (FAB). Ao comentar a necessidade de investir em inovação e tecnologiapara escapar à crise, tanto Wallenberg quanto Westerberg encontram uma maneira suavede lembrar a proposta da Saab, que envolve intensa participação da engenharia brasileira nodesenvolvimento do novo caça.

“O Gripen não é uma caixa-preta”, lembrou o presidente do parlamento sueco, ao ser recebido,ontem, pelo presidente do Senado, José Sarney e pela senadora Marta Suplicy. A condiçãode país neutro, em plena Guerra Fria, fez a Suécia dar grande atenção à independênciatecnológica, diz ele. Os suecos estiveram também com o presidente da Câmara, Marco Maia,e com o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira. “Ouvi noBrasil o mesmo que na Suíça: não podemos esquecer a necessidade de criar um ambiente quebeneficie a inovação, e a preocupação em pensar globalmente”, diz Wallenberg.

Não é apenas discurso: os Wallenberg atribuem a longevidade de seus negócios ao esforçoem planejar para o longo prazo, mas buscando agilidade na resposta às mudanças. “Adisposição de mudar e de se adaptar é uma parte importante: temos de reconhecer que ascoisas mudam hoje muito mais rápido”, diz Wallenberg, para quem o foco em empresas de altatecnologia faz parte da estratégia de desenvolvimento da Suécia.

Wallenberg elogia os governos Lula e Dilma Rousseff pela disposição em investir em bolsas deestudo, universidades e centros de pesquisa. “São questões que tomam tempo, como construirempresas; mas o importante é que a disposição de enfrentar o desafio está aí”, defende.

As pressões de custo sentidas pelo Brasil, com a moeda valorizada também foram sentidas,em menor grau, pela Suécia, e as empresas tiveram de se adaptar, comenta ele. Wallenbergdá o exemplo da Electrolux, que, há vinte anos, tinha 50 fábricas em território sueco, onde,hoje, só mantém duas. São Paulo costuma ser apontada pela família como o maior parqueindustrial da Suécia hoje em dia, pela forte presença das empresas suecas que empregam seismil funcionários no Brasil.

As companhias das quais a Investor é sócia têm planos de expandir atividades no Brasil,garantiu. “As companhias suecas aprenderam há tempos que, para fazer negócios na América e no Brasil, devem estar muito consciente da situação cambial, das mudanças nos parâmetroseconômicos”, minimiza Wallenberg. “Temos muita experiência nessas dificuldades”.

 


Preços de commodities recuam 12,7% em 12 meses

 

Valor Econômico

Depois de ligeira alta em janeiro, o preço médio das commodities com impacto relevante sobrea inflação brasileira, medido pelo Índice de Commodities Brasil (IC-Br), registrou significativaqueda em fevereiro (2,96%). Os números divulgados pelo Banco Central apontam retraçãode 12,68% ao longo de 12 meses, confirmando o “viés desinflacionário” que a autoridademonetária leva em conta para conter a inflação.

Para o economista da Tendências Consultoria, Thiago Curado, o arrefecimento de 2,4% dopreço das commodities no acumulado de 2012 corrobora um cenário mais favorável à inflaçãodoméstica no primeiro trimestre deste ano. A situação é bastante distinta do início de 2011,quando o preço das commodities registrou alta de 10% no primeiro bimestre.

“Este ano, em vez de um choque de alta de preços, temos um choque de baixa”, afirma oeconomista. Segundo ele, esse comportamento é consequência da diminuição da demandainternacional, em decorrência do agravamento da crise financeira. “Do lado interno, estamostão pressionados como no ano passado.”

Dois dos três subíndices que compõem o IC-Br apresentaram queda em fevereiro, comdestaque para os produtos agropecuários, que caíram 3,97% na comparação com o mêsanterior. “Ao menos no curto prazo, as commodities agropecuárias são as que possuemimpacto mais direto e rápido sobre a inflação ao consumidor”, diz Curado. No acumulado em12 meses, a queda é de 14,89%.

Também caiu o preço das commodities energéticas – petróleo brent, gás natural e carvão -1,86% de janeiro para fevereiro. Em 12 meses, o grupo ainda registra alta de 3,93%. Já ascommodities metálicas tiveram leve elevação em fevereiro (0,80%), embora apresentem quedade 15,06% em 12 meses.

 


‘Taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5%’

 

O Globo

Paulo Levy, economista do Ipea, defende que o país crie mais estímulos para o investimentodo que para o consumo. “A taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5% deforma sustentada”. E lembra ainda que é preciso adotar políticas para conciliar redução dedesigualdade e expansão: “O país redistribui renda e sufoca o crescimento”.

O GLOBO: O desempenho da economia em 2011 requer ainda mais cortes de juros?PAULO LEVY: Os resultados do PIB e da produção industrial não deveriam alterar a rotasinalizada pelo Banco Central. O PIB ficou compatível com a inflação elevada e a políticamonetária atua pelo lado da demanda, que, mesmo robusta, não é problema. Com isso, adecisão certa seria cortar juros por mais uma ou duas reuniões, podendo levar a Selic para 9%ou 9,5% ao ano, patamar baixo para os critérios brasileiros.

Mas a política monetária olha para a inflação…

LEVY: A inflação está declinante e deve, em maio, ficar em torno de 5,2% no acumulado em 12meses. A partir daí, com estímulos à demanda e o desempenho dos serviços, os preços devemsubir, menos que em 2011. Então, seria a hora de parar e esperar.

O governo enfrenta dilemas macroeconômicos? Qual deveria ser a sua prioridade?LEVY: A variável chave é poupança. Países com crescimento elevado têm taxa de poupançaelevada. Caso de China e Coreia do Sul. No Brasil, a contribuição do governo para a poupançanacional é negativa: ele despoupa. Como mudar isso? Aumentando o peso dos investimentos ereduzindo o peso relativo dos gastos correntes.

Nossa taxa de investimento é baixa?

LEVY: A taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5% de forma sustentada. Só mesmocom 24%, 25% do PIB (no quarto trimestre foi de 19,3%). O certo seria criar estímulos parao investimento crescer mais que o consumo. Hoje, há uma visão oposta e equivocada. NaChina, o investimento é 47% do PIB; na Coreia, 30%. O Brasil tenta avançar no consumo e noinvestimento ao mesmo tempo. Isso não é factível.

Como segurar o consumo diante de uma classe média ávida por consumir?

LEVY: Há uma camada da população que tem necessidades básicas a atender. E isso gerauma pressão forte sobre o consumo, o que reduz a taxa de poupança da economia e geradesequilíbrios. É preciso adotar políticas que permitam conciliar redução de desigualdade comcrescimento. caso contrário, o país redistribui renda e sufoca o crescimento. E isso tem vidacurta.

 


Em 13 meses, juro ao consumidor cai mais que o básico

 

O Estado de S. Paulo

Ao contrário do que ocorreu no passado recente, nos últimos tempos bancos, financeiras elojas repassaram mais do que proporcionalmente a redução da taxa básica de juros, a Selic,para o consumidor.

Entre dezembro de 2010 e janeiro deste ano, a Selic caiu 0,25 ponto porcentual, de 10,75%para 10,50% ao ano. Em igual período, a taxa média de juros cobrada do consumidor teveredução de 9,45 pontos porcentuais, de 119,97% para 110,52% ao ano ou 6,50% ao mêsem janeiro último, aponta pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças,Administração e Contabilidade (Anefac).

A maior retração registrada nesse período ocorreu nas taxas dos empréstimos pessoais definanceiras. Em dezembro de 2010, o consumidor desembolsava 9,64% ao mês ou 201,74% aoano pelo empréstimo. Em janeiro deste ano, o custo dessa modalidade de financiamento tinhacaído para 8,29% ao mês ou 160,05% ao ano. A redução da taxa de juros nesse período foi demais de 40 pontos porcentuais na taxa ao ano.

“A forte concorrência entre as instituições financeiras, o bom momento da economia brasileirae o menor risco de calote fizeram com que os bancos mudassem de atitude”, afirma o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

O executivo acredita que essa tendência de cortar juros ao consumidor numa magnitudesuperior à redução do custo de captação do dinheiro, a Selic, deve continuar, especialmentedepois do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2011, que cresceu 2,7% no ano e,no quarto trimestre, foi de apenas 0,3% ante o trimestre anterior, na série que desconta asvariações sazonais.

Distância. Apesar de bancos, lojas e financeiras terem reduzido os juros além do corte nocusto de captação de recursos para bancar os financiamentos, as taxas de juros cobradas dosconsumidores ainda é muito elevada e está num nível bem superior ao da taxa básica de juros.A grande distância entre a taxa básica de juros e os juros ao consumidor é explicada por umasérie de custos e margens de ganho que compõem a taxa final cobrada do consumidor. “Ocusto de captação, a taxa Selic, é apenas uma parte da taxa de juros ao consumidor”, observaRibeiro de Oliveira.

Ele lembra que nesse caminho entre a taxa básica de juros e a taxa final, existe a cunha fiscal,que são os impostos; as despesas administrativas dos bancos, lojas e financeiras; o risco deinadimplência e, finalmente, a margem de ganho do sistema financeiro. Isso explica a diferençaentre o patamar do juro básico e do juro final. “Hoje o que mais pesa é a cunha fiscal, o risco ea margem dos bancos”, diz Ribeiro de Oliveira.

Recorde de baixa. A pesquisa da Anefac mostra que a taxa média de juros cobrada doconsumidor recuou em janeiro para o menor nível da série histórica da pesquisa da Anefac,iniciada em 1995. Entre os encargos financeiros cobrados pelas lojas, administradoras decartão de crédito, cheque especial, CDC e empréstimo pessoal de bancos e empréstimopessoal de financeiras, a taxa média de juros em janeiro ficou em 6,40% ao mês ou 110,52%ao ano. Foi a segunda redução mensal consecutiva. Em novembro, a taxa média estava em6,67% ao mês e caiu para 6,58% em dezembro.

O movimento de corte de juros ao consumidor em janeiro foi quase generalizado. Das seislinhas de crédito pesquisadas, cinco tiveram redução na comparação com o mês anterior e somente uma linha não alterou juros: o cartão de crédito, que tem a taxa mais alta em relaçãoas demais, de 10,69% ao mês ou 238,30% ao ano. Já o maior corte nos juros ocorreu na taxado empréstimo pessoal de financeiras, de 0,37 ponto porcentual.

 


Grécia deve ter êxito na troca de dívida

 

Valor Econômico

É tão complexo quanto grande. A reestruturação de € 206 bilhões em dívidas pela Gréciamergulhou as pessoas em um mar de números, em que lutam para entender o negócio. Osinvestidores vão receber 24 títulos novos em troca de cada bônus já existente, um limitemínimo de 66% para o uso das chamadas “cláusulas de ação coletiva” (CAC), mas umquórum de 50% e uma taxa de participação que precisará ser de 95% – ou será 90% ou 70%?Confuso?

A verdade é que, apesar de toda a sua complexidade, a Grécia estruturou esse acordo demaneira que provavelmente será razoavelmente bem sucedido. A inserção retroativa dascláusulas de ação coletiva, que permite a decisão de uma maioria de detentores de bônustornar-se obrigatória para todos os investidores, pode parecer injusta para aqueles quecustam a concordar com os termos. Mas ela garantirá para a Grécia a participação de todosos detentores dos bônus que estão sujeitos às leis do país, proporcionando uma taxa departicipação de cerca de 86%.

A questão então será ver quantos bônus sujeitos às leis internacionais, que respondem poroutros 14% dos € 206 bilhões, serão oferecidos na troca. É improvável que sejam suficientespara se atingir os 95% que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), são necessáriospara a Grécia reduzir em endividamento a 120% do PIB até 2020.

A Grécia já ameaçou não pagar os detentores indecisos de bônus sujeitos às leisinternacionais. Isso poderia abrir caminho para uma batalha legal. Mas também levanta apossibilidade de Atenas conseguir levantar mais dinheiro que o esperado ao simplesmente nãopagar alguns detentores de bônus.

Tudo isso já é motivo para dor de cabeça. De fato, muitos investidores já emudeceram,sofrendo com uma doença que já dura dois anos e que recebeu o nome de “síndrome dafadiga grega”. Outros zombam do negócio, classificando-o de irrelevante por acreditar que ogoverno grego terá que dar um novo calote em breve para ter chance de ter a carga de seuendividamento reduzida a níveis administráveis.

Mas o swap é importante por várias razões. Primeiro, ele deverá servir como teste parareestruturações futuras na zona do euro, apesar dos protestos em contrário de planejadoreseconômicos.

O alívio de 53,5% na dívida que a Grécia espera conseguir poderá muito bem se mostrar,no futuro, atrativo para políticos de outros países endividados do bloco, como Portugal e atémesmo a Itália ou a Irlanda, especialmente quando pesado contra as demandas por uma maiorausteridade.

Em segundo lugar, o negócio já está, de algumas maneiras, determinando o formato futurodos mercados de bônus soberanos da zona do euro, e não de uma maneira particularmentesaudável. A questão da preferência no recebimento é uma grande preocupação para algunsinvestidores.

O Banco Central Europeu (BCE) conseguiu excluir do swap suas posições em bônus, quesomam mais de € 40 bilhões, numa manobra que irritou muitos investidores. Então, o EuropeanInvestment Bank também garantiu uma preferência implícita de recebimento ao deixar de forado swap sua pequena posição em bônus.

A preferência de recebimento dessas instituições pode ter pouca importância em temposde vacas gordas. Mas em um cenário em que os investidores internacionais abandonaramos mercados periféricos de bônus, a noção de que há detentores que poderão se declararprivilegiados é preocupante.

O possível uso das cláusulas de ação coletiva é também algo que os investidores em bônus degovernos da zona do euro terão que se acostumar, uma vez que elas deverão ser inseridas emtodos os novos títulos de dívida da região. Isso poderá não ser uma coisa ruim, mas o uso dasCACs em Atenas mostra como elas introduzem um elemento extra de risco de crédito para osinvestidores em bônus.

O swap da dívida representa apenas o mais recente passo na estratégia de longo prazo da Europa de tentar ganhar tempo.

É verdade que o acordo do swap da dívida grega, aliado aos empréstimos baratos por trêsanos do BCE dará um certo fôlego. Mas, conforme disse um banqueiro central de fora da zonado euro: “Ganhar tempo só funciona se você usá-lo com algum propósito”.

Nessa base, a estratégia poderá não ser declarada um sucesso total, apesar dos comentáriospositivos dos líderes europeus. Eles ainda precisam garantir que a muralha erguida paraproteger a Itália e a Espanha, em particular, do contágio será a maior possível. Como não sãoinsignificantes as chances de uma combinação de austeridade pública e recessão levar a umacontração econômica dos dois países, a Europa não pode se dar ao luxo de ser complacente.