O terrorismo nuclear de Israel contra o Irã
A bandeira do Irã ondeia diante do edificio da sede da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, em suas siglas em inglês), em Viena.
REUTERS/Leonhard Foeger
Nazanín Armanian
ODIARIO.INFO
A agressividade terrorista de Israel acrescenta chamas à explosiva fogueira do Oriente Médio. A administração Biden dá-lhe toda a cobertura: a política externa de Biden em nada rompe com a de Trump, tal como a deste prosseguiu o que Obama já fizera, e assim por diante. Não é mudando o pessoal de serviço que se altera a ação do imperialismo EUA e dos seus aliados. E se o sionismo vê na sistemática desestabilização um meio de iludir as suas contradições internas, do lado do Irã as perspectivas são igualmente pouco animadoras.
Enquanto a diplomacia está conseguindo em Viena que as delegações do Irã, dos Estados Unidos, da União Europeia, da China e da Rússia voltem a procurar acordos que reavivem o Plano de Ação Integral Conjunto sobre o programa nuclear do Irã assinado em 2015, Israel reconhece ter sido responsável pela explosão de 11 de abril na central nuclear iraniana de Natanz, a 45 metros de profundidade.
O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert afirma que a causa da explosão foi a ativação de uma bomba que foi colocada na central iraniana durante o seu mandato, há mais de dez anos. Por seu lado, a República Islâmica aponta como autor da sabotagem um espião israelense que conseguiu fugir, não só do recinto ultraprotegido e militarizado, mas também do país e suas controladíssimas e distantes fronteiras.
Explicações surrealistas, embora seja muito real o facto de que o “incidente” aconteceu no mesmo dia que Joe Biden enviou a Tel Aviv para falar do Irã o seu Secretário da Defesa, Lloyd Austin (e não o Secretário de Estado). Quando Donald Trump estava prestes a deixar a Casa Branca, decidiu transferir o centro de operações do comando central dos EUA (CENTCOM na sigla inglesa) para Israel precisamente para coordenar as ações militares em relação ao Irã. O atentado com bomba de lupa de 7 de abril contra o navio iraniano Saviz no Mar Vermelho foi coordenado com o Pentágono: horas antes, o porta-aviões norte-americano Dwight D. Eisenhower afastou-se do local. Em resposta, em 13 de abril, um grupo supostamente ligado aos militares iranianos atacou a sede do Mossad no Curdistão iraquiano, resultando em numerosas vítimas. Assim, Israel intensifica os ataques às instalações nucleares e militares iranianas, colocando em risco a vida de milhões de pessoas na região.
O Estado judeu, que possui pelo menos 80 ogivas nucleares ilegais, mostra que o seu problema com o Irã não são as armas de destruição em massa que pode fabricar, mas um Irã imensamente rico, grande, sólido e poderoso, capaz de disputar a hegemonia da região – sobretudo econômica -, independentemente de quem governa. O seu sonho é destruir essa possibilidade, como conseguiu fazer com Iraque, Líbia e Síria, sempre com o apoio dos EUA e de outros aliados. Recorde-se de como em 2003, ano da brutal agressão militar contra o Iraque, George W. Bush se ofereceu à Líbia retirá-la da lista do “eixo do mal” se destruísse as suas armas químicas? Kadafi o fez, embora tenha aprendido em 2011, e a ponto de ser linchado pela turba patrocinada por Hilary Clinton, que nunca se deve confiar na palavra do imperialismo.
Em janeiro, o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, e o chefe do Estado-Maior, Aviv Kochavi, reconheceram ter preparados planos para desmantelar o programa nuclear iraniano. Porque é que, ante uma ameaça de guerra de tal envergadura, as instituições internacionais não reagem?
Que procura Israel?
1. Sabotar as conversações de Viena e enfurecer o Irã para que abandone a mesa.
2. Debilitar a posição do Irã durante as negociações.
3. Provocar uma resposta contundente da República Islâmica para justificar uma guerra total. Tel Aviv não procura já destruir o programa nuclear iraniano, mas sim uma guerra de desgaste. Se Teerã optar pela contenção, não é de descartar uma operação israelense de falsa bandeira, como fez em 1951 contra o Egito de Gamal Abdel Nasser, quando o Mossad provocou incêndios em vários centros ligados aos Estados Unidos e ao Reino Unido sob o guarda-chuva da ‘Operação Susannah’ (título de uma ópera de Carlisle Floyd), deixando “provas” que implicavam a Irmandade Muçulmana. Esse estratagema teve um duplo objetivo: provocar uma guerra civil e uma ação militar do Ocidente contra o Egito. Os serviços secretos israelenses reconheceram esses fatos em 2005.
4. Desviar a atenção dos israelenses da crise política que levou o país a realizar quatro eleições em dois anos, e dos escândalos de corrupção do próprio primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que sem o slogan “Vêm aí os iranianos!” ficaria sem ter o que dizer.
5. Um Israel em guerra precisaria de um “primeiro-ministro veterano”, insinua Netanyahu, que procura um maior apoio face à sua debilidade política.
6. Torpedear o acordo estratégico entre Pequim e Teerã assinado em março passado, para desestabilizar. Se chega a ser executado, este pacto mudará o equilíbrio de forças na região em prejuízo dos Estados Unidos e de Israel.
7. Espalhar o terror entre a sociedade iraniana.
8. Utilizar a farsa da “ameaça do Irã” para ocultar a “questão palestiniana”, desaparecida das agendas internacionais. Israel, que possui uma avassaladora superioridade militar e tecnológica, sabe que o Irã, mesmo com armas nucleares, não representa nenhuma “ameaça existencial”.
Os EUA e Israel começaram essa guerra de desgaste contra o Irã em 1980, quando apoiaram e organizaram a invasão do território iraniano pelo Iraque; e continuam-na até hoje nos seus formatos econômico, político, diplomático, assassinatos seletivos, ciberataques (com o vírus Stuxnet, que em 2010 destruiu mil computadores na central de Natanz e deixou contaminados milhares de outros de diferentes indústrias) e cerca de 200 bombardeamentos contra as posições do Irã na Síria e no Iraque.
Por uma coexistência pacífica
Mohammad bin Salman, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, que nem mesmo conseguiu “vencer” a brutal guerra que empreendeu no Iêmen, um dos países mais pobres do mundo e que vive uma imensa crise humanitária, assegurou a Netanyahu em dezembro passado que a Força Aérea Saudita se estava a preparar para um confronto total com o Irã.
O braço de ferro entre os dois estados párias da região (tanto Israel como o Irã são países étnica e religiosamente diferentes das restantes nações circundantes, que são principalmente árabes e sunitas), não tem que terminar na destruição mútua: uma “coexistência pacífica” é possível. Se os EUA e a URSS o conseguiram, mesmo com sistemas políticos antagônicos, por que não podem tentar o mesmo duas teocracias capitalistas?
Os iranianos não necessitam de uma indústria nuclear, não apenas porque o seu território está exposto a incontáveis terremotos, mas porque têm como vizinho um Israel perigoso, agressivo e impune. Segundo o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), o seu país desbaratou cerca de US $ 30 milhares de milhões no programa nuclear, valor elevado a US $ 2 milhões de milhões por Alireza Namvar, professor de Ciência Política da Universidade de Toronto. Por seu lado, Ahmad Tavakol, um alto funcionário iraniano, alerta para uma possível rebelião, tendo em conta que 60% da população vive abaixo do limiar da pobreza, o que já gerou protestos e greves. Os militares ultraconservadores que controlam os poderes legislativo, judiciário e econômico estão se preparando para assumir o Executivo nas eleições presidenciais de junho próximo, o que complicaria ainda mais um acordo entre as potências mundiais e Teerã.
A ONU deve conter Israel e o Irã e procurar fórmulas para que, ao invés de incendiar a região e destruir milhões de vidas, se sentem para dialogar e alcançar pactos.
Fonte: https://blogs.publico.es/puntoyseguido/7095/terrorismo-nuclear-de-israel-contra-iran-destruccion-mutua-asegurada-mad/