Colômbia: segue intensa a mobilização

imagemImagem da resistência na Colômbia ao longo de 37 dias (arquivo)

Créditos / @PaolaPteleSUR

Entre negociações frustradas e forte repressão

AbrilAbril

Nesta quarta-feira, dia 02 de junho, milhares de pessoas foram novamente para as ruas do país sul-americano em protesto contra o governo de Iván Duque, que insiste em bloquear as negociações com o Comitê de Greve.

No contexto de uma jornada de luta mais uma vez convocada sob a designação «Tomada das Cidades Capitais», houve manifestações na maioria das capitais dos 32 departamentos colombianos e em outras cidades para exigir ao governo o fim da militarização dos protestos e das políticas neoliberais, apoios imediatos para as camadas mais pobres da população e o cumprimento dos acordos de paz firmados com as FARC-EP.

Professores, estudantes, mulheres, operários, indígenas, representantes de organizações sindicais, de partidos políticos e de múltiplos setores do país rejeitam o governo de Duque e as suas políticas.

Reivindicam ainda um rendimento mínimo para as famílias necessitadas, melhor educação e emprego para os jovens, bem como o fim da violência policial e o desmantelamento do chamado corpo de elite da Polícia – o Esquadrão Móvel Anti-Distúrbios (Esmad), cujos métodos de atuação – «a matar» – eram conhecidos há muito e agora estão novamente na boca de algum mundo (não do «mundo português», onde a Colômbia existia para falar das FARC-EP ou do vizinho ocidental), por serem apontados como responsáveis por vários assassinatos de manifestantes ao longo da greve que teve início em 28 de abril último.

Um deles é o de um jovem da cidade de Cáli, Daniel Sánchez, de 16 anos, cuja família afirma que entrou num veículo blindado do Esmad, no passado dia 28 de maio, e apareceu, calcinado e com golpes de armas brancas, num estabelecimento comercial. O Esmad nega envolvimento nos fatos. A família teve de fugir para parte incerta, uma vez que, depois do enterro do jovem e das denúncias realizadas, sofreu várias ameaças.

Isto diz a TeleSur. Em Portugal, os problemas do «crime» e da «agitação» dos grandes grupos midiáticos resolvem-se, por exemplo, com um «assalto» em Loures ou com «tiros» no Seixal, enquanto se espera por uma afirmação «explosiva» de um «opositor» contra Maduro para que aquela zona do globo mereça uma atenção «espetacular» e «sensacional». À falta de melhor, para 37 dias de greve e protestos na Colômbia, ergue-se a «dissidência» contra Putin e Lukashenko.

Negociações bloqueadas: governo recusa-se a assinar pré-acordo
As mobilizações de 02 de junho ocorreram depois de, no dia anterior, o Comitê de Greve ter afirmado que ia avançar com o levantamento de mais de 40 «pontos de resistência» ou cortes de estrada, como «demonstração de vontade» para as negociações com o executivo colombiano.

No entanto, nem com o sinal de boa vontade as autoridades colombianas se mostraram dispostas a assinar o pré-acordo a que tinham chegado com o Comitê de Greve, no dia 24 de maio, ao cabo de nove dias de «exploração». Um documento que visa consolidar as garantias do direito ao protesto e avançar na avaliação dos pontos do caderno reivindicativo entregue ao governo pelas diversas organizações que integram o Comitê.

Em comunicado, o Comitê explicou que o executivo colombiano não só não assinou o texto como apresentou um novo, o que, na prática, significa deitar por terra o pré-acordo.

«Insiste em militarizar os protestos e não aceita cumprir o estabelecido na legislação, na jurisprudência e nos padrões internacionais», destacou o Comitê no texto divulgado.

Mais do mesmo: uma noite de repressão
Tal como acontece desde o início destas mobilizações em 28 de abril, a Polícia, o Esmad e «civis» – que dão um jeito enorme ao Esmad para se livrar de «culpas» – voltaram a atacar os manifestantes nesta quarta à tarde, à noite e de madrugada em várias cidades colombianas.

Em Bogotá, Polícia e Esmad agrediram manifestantes e jornalistas, e lançaram gás lacrimogêneo para dentro das casas na zona de Usme, afetando crianças e idosos. De acordo com a TeleSur, também se registaram ações de repressão, por parte do Esmad, no Bairro de Marichuela, a sul da capital colombiana. Ainda em Bogotá, a região de Suba foi palco de incidentes entre um grupo de manifestantes e policiais.

Em Popayán, capital do departamento do Cauca, residentes e organizações de defesa dos direitos humanos reportaram a forte presença policial e de agentes do Esmad no bairro de La Esmeralda, bem como a intervenção violenta dos últimos.

Na cidade de Bucaramanga (capital do departamento de Santander), registaram-se vários feridos e detenções arbitrárias, refere a TeleSur, acrescentando que, no departamento de Medellín, o serviço de Atendimento pré-Hospitalar (APH) registou 50 pessoas gravemente feridas no contexto dos protestos, além de outras cem que sofreram problemas devido à inalação de gás lacrimogêneo. Pelo menos dez tiveram de ser hospitalizadas.

Apesar da atitude do governo de Duque, da intensa repressão policial e militar e do número crescente de vítimas mortais e de feridos (3.789 até 31 de maio, segundo a ONG Temblores), o Comitê de Greve não desmobiliza, tendo convocado uma manifestação para a capital do país no próximo dia 9, a que chamou «Tomada de Bogotá».