Sobre os acontecimentos na Síria e a posição do governo português
Sexta 1 de Junho de 2012
Nota do Partido Comunista Português
Face aos recentes acontecimentos na Síria e à decisão do governo português de considerar “persona non grata” a Embaixadora da Síria acreditada em Portugal, o PCP:
1 – Condena o massacre terrorista na localidade de Al-Houla, na Síria, que vitimou mais de uma centena de civis inocentes, na sua maioria mulheres e crianças. Este brutal atentado, praticado por via de assassinatos à queima-roupa ou degolações, que surge na sequência de uma onda de violência marcada por vários outros massacres e atentados bombistas, vem demonstrar o carácter terrorista da acção de bandos armados – alguns dos quais confessadamente armados e pagos por países estrangeiros – uma componente indesmentível da campanha de desestabilização interna da Síria que dura há mais de um ano.
2 – Chama a atenção para o facto de que este massacre não pode deixar de ser analisado à luz da estratégia de militarização, subversão, agressão, ingerência e guerra do auto-apelidado “grupo de amigos da Síria” integrado pelas principais potências imperialistas e ditaduras fundamentalistas do golfo-pérsico. Uma estratégia, afirmada sem pejo e amplamente noticiada na comunicação social mundial, que passa pelo financiamento, armamento e treino de grupos armados que várias fontes identificam com ligações a redes terroristas, e que continuam a operar na Síria.
3 – Alerta para as dramáticas consequências que qualquer tentativa de enveredar por uma “solução militar” para a questão síria teria para o povo sírio, para toda a região do Médio Oriente e mesmo no plano internacional. Rejeita liminarmente as declarações de responsáveis políticos e militares norte-americanos e da União Europeia que apontam para a possibilidade de uma agressão militar externa contra a Síria, com ou sem a cobertura de uma resolução do CS da ONU. Tais posições colocam-se objectivamente no campo dos que desenvolvem a sua acção contra os esforços entretanto realizados para manter no campo político e diplomático a resolução da questão Síria e acima de tudo contra os legítimos direitos democráticos e nacionais do povo sírio, nomeadamente o direito à paz, à soberania, independência e integridade territorial do seu país.
4 – Recorda que foi com base em campanhas similares à que se desenvolve hoje relativamente à Síria (e que entretanto a história se encarregou de demonstrar que se trataram de falsificações e conspirações em torno de supostos massacres ou arsenais de armas de destruição massiva) que, do Kosovo ao Afeganistão, do Iraque à Líbia, se desencadearam sangrentas guerras de agressão e ocupação que resultaram na morte de muitos milhares de vidas, empurraram milhões de pessoas para a condição de refugiados, destruíram países inteiros, alimentaram o terrorismo e criaram novos focos de tensão desde o Magrebe até à Ásia Central. Guerras de agressão, perpetradas hipocritamente em nome da “democracia” e dos “direitos humanos” cujos reais motivos foram os interesses económicos e geoestratégicos das principais potências imperialistas da NATO e os lucros do complexo industrial militar e das multinacionais a si associadas.
5 – Condena igualmente os massacres de centenas de civis perpetrados pelas forças militares dos EUA e da NATO nas últimas semanas no Afeganistão, Paquistão, Iémen, entre outros, nomeadamente com o recurso a aviões não tripulados. Massacres que constituindo agressões condenadas pelos governos dos países visados, não mereceram, nem por parte das grandes cadeias internacionais de comunicação social, nem por parte dos aliados dos EUA na NATO, uma única palavra de condenação.
6 – Alerta para o facto de que os acontecimentos na Síria, no Médio Oriente e Ásia Central – elementos de uma mesma estratégia imperialista de crescente agressividade, belicismo e recolonização – são inseparáveis por um lado dos objectivos do imperialismo de controlo dos enormes recursos naturais e energéticos destas regiões e por outro do agravamento da crise do capitalismo.
7 – Deplora a inaceitável e vergonhosa postura do Governo português – e em especial do MNE Paulo Portas – de alinhamento com a estratégia de guerra, agressão e ingerência externa das principais potências da NATO. Postura de que a decisão de considerar a embaixadora da Síria acreditada em Portugal «persona non grata» é uma lamentável prova. Uma postura tão mais grave quanto Portugal como membro do Conselho de Segurança da ONU deveria pautar a sua actuação pela busca de soluções políticas e diplomáticas para os conflitos. Uma postura bem exemplificativa da política externa seguida pelo actual MNE profundamente contrária à Constituição da República Portuguesa e aos princípios da Carta das Nações Unidas.
8 – Apela aos trabalhadores e ao povo português, e aos movimentos unitários pela paz e pela defesa dos direitos nacionais dos povos, que se mobilizem e expressem a sua voz em defesa da resolução pacífica dos conflitos, contra a guerra, pela paz e a cooperação entre os povos.