Defesa do PCV frente à corrente pequeno-burguesa

Este Galo canta, não cacareja

Tribuna Popular – Partido Comunista da Venezuela

Cumaná, 26-02-2023 (Alfredo Ponce)

Após a publicação, em 17 de fevereiro, do artigo da Misión “Verdad” (MV) intitulado “Maduro neoliberal?”, o Sr. William Serafino, editor-chefe do meio, recebeu uma resposta imediata de seus leitores. O texto foi divulgado ou vendido como pão quente devido às acusações “injustificadas” e “maliciosas” feitas contra o presidente Nicolás Maduro sobre sua atuação em questões econômicas. Essas palavras conclamavam, por parte do PSUV, a defender o presidente “operário”.

Outros títulos se somam a este artigo do MV, os quais, em especial, buscam difamar e atacar as ações do Partido Comunista da Venezuela (PCV). Autores como José Gregorio Piña e até o deputado governista Jesús Faría Tortosa culpam o PCV pelas justas lutas dos trabalhadores por um salário digno. Procuram mostrar que as ações do PCV, bem como as mobilizações dos trabalhadores ativos e reformados do país, fazem parte de uma campanha de difamação e ataque contra o Governo e as suas políticas de “proteção” ao povo. No entanto, a realidade é muito diferente do que se afirma.

Desvendaremos em profundidade cada tentativa dos sinistros “think tanks” a serviço do PSUV. Uma das mentiras mais famosas e alardeadas pelo PSUV e seus think tanks (ou “ideotas”, no correto dicionário “Cantinflas”), é que o PCV não se posiciona diante dos ataques que o imperialismo lançou contra nossa economia . Esta afirmação cai por seu próprio peso, uma vez que, ao longo dos seus mais de 90 anos de existência, o PCV tem demonstrado abertamente a sua posição antagônica face a tal ameaça; outra coisa é pretender ser “anti-imperialista” e ser, ao mesmo tempo, anti-trabalhadores (um exercício político muito difícil de sustentar).

Nossa posição anti-imperialista foi ratificada mais uma vez no 16º Congresso Nacional do Partido (novembro de 2022) e é reforçada a cada semana por meio de nossa coletiva de imprensa e, sobretudo, de nossas ações práticas na política nacional. O problema é que, quando vigorava a aliança entre o PSUV e o PCV, o Sistema Nacional de Meios Públicos resenhava as denúncias do Birô Político (BP) do PCV sobre situações como a agressão imperialista contra a Venezuela e os povos do mundo; por outro lado, não deram muito espaço para denúncias sobre corrupção ou ineficiência do governo nacional. No entanto, desde que o PCV se desligou da aliança com o PSUV em 2019 – devido ao reiterado descumprimento pelo presidente Maduro dos 18 pontos do “Acordo Marco Unitário” que ele mesmo assinou naquele ano – apenas um pequeno número de meios alternativos e nosso órgão de difusão, “Tribuna Popular”, são os únicos a publicar o trabalho informativo realizado pelo PCV. Seria conveniente, então, para aqueles bajuladores do Governo que visitam nosso site se inteirar acerca da postura política comunista frente ao que sucede tanto dentro como fora do território venezuelano.

A outra mentira que faz parte do laboratório da guerra suja é a defesa infundada da política econômica do presidente Maduro. Sobre isso, MV tem rodado o mundo, mostrando que Maduro não se enquadra nas declarações que o mencionam como autor da aplicação das políticas neoliberais.

Em seu artigo, William Serafino não aborda as repetidas e ratificadas políticas anti-salariais adotadas pelo Governo, idênticas às de líderes conservadores – como Macri, Bolsonaro, Piñera – e suas polêmicas posições antipopulares. Além disso, Serafino qualifica a abertura econômica do governo às empresas estrangeiras como uma “medida excepcional”, sem levar em conta o alerta feito pelo intelectual Luis Britto García sobre a iminência da instalação de maquiladoras no país. As respostas contra ele foram as desqualificações emitidas pelo Deputado Jesús Faría, para quem o Dr. Luis Britto García “não é intelectual nem revolucionário” (!).

Qualificar como “medidas excepcionais” a eliminação dos controles cambiais, a constante subida do dólar “bom” (BCV) na sua estranha procura do dólar “maluco”, a liberação de preços, a reativação de cassinos e pedágios, a venda de ações de empresas públicas estratégicas, as demissões ilegais em massa com o aval corrupto dos tribunais e das inspeções do trabalho, a judicialização e criminalização das manifestações operárias (com atos extremos como assédio, ameaças, hostilidades e demissões);, o congelamento de salários e sua redução através da implementação do “Memorandum – Circular 2792” e das “Instruções Onapre” (cuja “inexistência” é notória)… paramos por aqui? E não mencionamos os planos econômicos fracassados, as leis que pretendiam “nos tirar desta crise” ou o caso “Fospuca” para não lhes “jogar mais cartas”… o que já chega. Todas essas atividades – e muitas outras – são para Serafino “medidas excepcionais” para “recompor o consumo familiar”. Tem que ser muito cara de pau pra justificar tudo isso.

Serafino argumenta que o governo Maduro não é neoliberal porque serviços como eletricidade, água, telefone, internet etc. continuam sendo geridos pelo Estado. No entanto, esquece de dizer que estas empresas venderam parte das suas ações e, atualmente, os seus encargos estão indexados a referenciais monetários impopulares, de acordo com as políticas do próprio Governo. Tudo isso para atender aos interesses de poucos, às custas da maioria dos trabalhadores que devem sobreviver com um salário mínimo que cai para US$ 5,32 por mês enquanto escrevemos estas linhas. 82,44% de seu valor original já foi pulverizado em março de 2022 (US$ 30,30), mas o presidente é “trabalhador”, “a Venezuela se consertou”, “há crescimento econômico”… e o PCV é o culpado pelo protesto operário e popular cada vez mais generalizado (!).

E para terminar de enterrar a defesa de Serafino ao presidente Maduro, é preciso lembrar que o mesmo líder “operário” havia solicitado um empréstimo de 5 bilhões de dólares ao FMI no início de 2020, apesar das advertências de revolucionários de outras nações que são partidários do governo. Esses fundos deveriam ser usados para combater os efeitos da Covid-19; no entanto, tal ajuda não foi necessária devido aos fundos fornecidos pela Rússia e China.

O mencionado acima é pensado e executado sob a desculpa do Governo baseada no bloqueio econômico imposto pelo imperialismo. A realidade que eles querem que vejamos é que a corrupção, a ineficiência, o desmantelamento da PDVSA, a impunidade, a indiferença, os buracos nas estradas, o esgoto, o problema do lixo, entre outros, são resultado do referido bloqueio, somente superável após a sua remoção. Um fatalismo que servirá para sempre para justificar a negligência do governo!

O imperialismo jamais devolverá o que roubou deste povo; não o fez em nenhum outro caso. Aliás, se o bloqueio é o grande culpado de tantas mazelas nossas, recorrendo ao reducionismo argumentativo oficial, encoberto pela “autocrítica do outro”, porque é que o seu principal mentor ainda anda por estas ruas desde 2019 (! ) “como se nada” estivesse fazendo hoje como pré-candidato presidencial por um setor da “oposição”? Perguntamos… por uma dúvida que os outros têm. Certamente, os diálogos convocados pelo presidente no âmbito do espectro da Noruega, do horror de Barbados, do espírito do México e não sei o quê de Caracas serviram para alguma coisa; todo um exercício (na verdade um grande “pacto de elite”) de tolerância, imunidade e impunidade em favor dos inimigos dos trabalhadores da cidade e do campo; nada a ver com o tratamento depreciativo e exclusivo do governo à questão salarial.

Como se tornou conveniente a desculpa do bloqueio! Não é que o neguemos, mas que tem servido de cobertor para encobrir as graves falhas do governo do PSUV e atacar o povo trabalhador. Sobre isso, o próprio presidente Maduro exortou sua equipe de ministros e governadores em 2021 a encontrar soluções, dizendo-lhes: “Não aceito desculpas de ninguém de que o bloqueio os impediu de fazer tal coisa! Vamos dar à luz soluções!” Não só cabe assinalar que se trata de “uma confissão da parte…”, como, desta forma, o presidente deu um tiro no próprio pé. Um “Chacumbele” e tanto, ensinado pela teimosa realidade e pelo tempo inexorável!

Outra das mentiras espalhadas é a afirmação, corroborada pelas declarações do Deputado Jesús Faría Tortosa, que um salário digno e justo para os trabalhadores (Art. 91 da CNBRV) não é viável. Na realidade, o que é inviável são as promessas eleitorais não cumpridas pelo PSUV, enquanto aqueles que exigem o cumprimento dessas promessas são atacados. Nesse contexto, José Gregorio Piña conta com o apoio de Freddy Gil em Sucre, que deixou aquele guabineo em seus artigos irritantes e optou por atacar o PCV.

Este grupo pega suas calculadoras e começa a fazer cálculos de adição, multiplicação e subtração. As contas não dão, segundo eles! E chegam à conclusão de que é inviável aumentar os salários. Alguns até tomam Marx como referência para justificar essa aberração. Já Marx os teria agarrado pelo pescoço. O anterior não diminui a solidariedade para com Jesús Faría, além do fato de que ele mesmo, por seu déficit argumentativo, insulta vários intelectuais como Pascualina Curcio, María Alejandra Díaz e Luis Britto García, para citar alguns que nunca lhe faltaram ao respeito.

Voltemos aos cálculos! Essa prática não daria frutos para aumentar os salários se realizada por essas pessoas, mas ajudaria a tomar decisões que nos levassem a ter estádios de primeira classe, cassinos e veículos novinhos para presentear as rainhas do carnaval, destinar verbas para prêmios que chegam aos 20 mil dólares outorgados a comparsas, oferecendo um milhão de dólares a quem fornecer informações valiosas sobre o paradeiro do vulgo “El Conejo”; conceder aos bancos públicos e privados, apenas entre 1-1-2023 e 9 de fevereiro, mais de 500 milhões de dólares para que, através das chamadas “mesas de câmbio”, tentem apaziguar a subida do dólar; um fracasso total em conter a desvalorização e depois a inflação, enquanto mantêm os bolsos da burguesia de ontem e de hoje cheios com a renda do petróleo, tão questionada pelo próprio governo da boca para fora, mas amplamente praticada em favor dessa burguesia parasitária.

Além disso, na segunda-feira, 13 de fevereiro, o presidente Maduro anunciou que, por meio da “Missão Venezuela Bella”, o governo consertaria cerca de 1.750 templos ou sedes de igrejas católicas e evangélicas (4% do orçamento nacional este ano é destinado às religiões, mas apenas 2% para ciência e tecnologia!). Então, Freddy, você está dizendo que seus números mostram que “não há” dinheiro para salários? Para quê e para quem existe? E para quê e para quem não há dinheiro na Venezuela? Perguntamos … por uma dúvida que existe. Vamos somar o dinheiro que é usado para pagar palcos, sons e mobilizações em atos políticos… e parar de contar.

Por sua vez, durante a apresentação de Memória e Conta em janeiro passado, o presidente Maduro anunciou que a arrecadação de impostos da Venezuela chegou a 4.744 milhões de dólares, além dos 522 milhões obtidos com as exportações, o que contribuiu para o crescimento econômico do país em 17%, a maior do continente latino-americano. Ele comentou assuntos como desemprego, abastecimento de alimentos e outros. No entanto, não mencionou questões relevantes como o notável crescimento da desigualdade social, o aumento dos salários, o abono único prometido aos aposentados em 1º de maio de 2022 ou os altos índices de inflação.

A omissão mais importante do presidente, não considerada pelos ideólogos ou pelos think tanks oficiais, é a não menção às receitas do petróleo, às vendas de ouro, lítio, níquel e outros produtos extraídos do chamado Arco Mineiro. Essas contas permitiriam conhecer, entre outros aspectos relevantes, o custo necessário para estabelecer um salário digno. Qualquer contador veria isso. No entanto, essa “omissão” não foi detectada apenas no anúncio presidencial, mas também na narrativa de muitos outros agentes públicos, como ministros, governadores e prefeitos. De qualquer forma, ninguém aqui é responsável por nada. Você sabe, por causa do bloqueio.

E se não bastasse a manipulação desses personagens, Freddy Gil continua com seu roteiro cheio de mentiras, acusando o PCV de ter ligações com a direita e de abandonar a pretensão de Pascualina de indexar o salário mínimo a um Petro. Isto é falso: o PCV segue firme em sua reivindicação de aumento do salário mínimo indexado à cesta básica, nada diferente do que está expresso no artigo 91 da Constituição. Ao falar de supostas vinculações com a direita, recordemos o que acontece à simples vista quando exigimos melhores salários e condições de trabalho: dois ex-deputados que desejavam o pior contra o presidente Chávez dividem uma mesa com você no PSUV, Freddy, incluindo Hernán Núñez e Hermann Escarra. Este último indiciou o presidente Hugo Chávez em 2008 perante o Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade. Esses são seus camaradas, “mais chavistas que Chávez”.

Para culminar, o PCV tem participado dos eventos do movimento comunista internacional, especialmente durante a declaração emitida no “XXII Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários de Cuba”, realizado em outubro de 2022. Na referida declaração condenamos a política intervencionista do capitalismo, ocupações militares, tensões derivadas de disputas territoriais e conflitos bélicos em diferentes escalas. Da mesma forma, denunciamos a situação que existe hoje na Venezuela. Este documento foi assinado por mais de 60 partidos comunistas em todo o mundo, demonstrando claramente que o Partido Comunista é uma força global única, solidária e anti-imperialista. Ninguém se iguala a nós nisso. O que não vamos nem pensar é em imitar quem pactua com a direita dentro ou fora do país. De nada serviu essa pactuação, a não ser perdoar, em troca de migalhas, criminosos e trapaceiros que hoje fazem o presidente Maduro reclamar por que o “enganaram” com a história de US$ 3,5 bilhões. Que menino grande!

Ah, e o PSUV não poderá nos fazer voltar atrás diante dos ataques que vem cometendo para tentar intervir no PCV. Nossa consigna é clara: não importa quem governe, defenderemos sempre os direitos do povo!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: https://prensapcv.wordpress.com/2023/02/26/este-gallo-canta-no-cacarea/