Perspectivas e Deveres da Luta Anti-imperialista

Responsável pelas Relações Internacionais do CC

Nosso partido tem travado uma luta política dura e complexa neste período, particularmente nas complicadas condições sócio-econômicas e políticas que foram causadas pela crise capitalista. Uma crise que levou a 1,5 milhão de desempregados em um país de apenas 11 milhões de habitantes e provocou uma ofensiva muito intensa do capital, de seu governo e da UE [União Europeia], que reduziu direitos trabalhistas, salários, pensões, destruiu e  está destruindo os estratos pequeno-burgueses urbanos e rurais, e está ameaçando os trabalhadores com o pesadelo do desemprego, inclusive aqueles do setor público, que por muitos anos mantiveram a ilusão de que ninguém poderia demití-los.

A crise capitalista vai se aprofundar ainda mais na Grécia e na UE. Já se admite que a crise vai se manifestar em todos os Estados-membros da UE que ainda não a manifestaram com impacto similar, enquanto outros países ao redor do mundo mostram sinais de desaceleração.

A crise capitalista em curso demonstra os impasses da via de desenvolvimento capitalista: a pobreza, o desemprego, a miséria das camadas populares. Mas, por outro lado, o sistema político burguês ainda tem “reservas”, é capaz de influenciar a consciência dos trabalhadores, dos jovens, através da televisão, internet, cinema, escola, igreja, bem como através de toda uma “rede de segurança” do sistema, composta por partidos que sustentam concepções ideológicas burguesas e oportunistas. Um exemplo disso é o argumento de que nas condições da crise hoje os trabalhadores não deveriam mais lutar dentro dos parâmetros de suas necessidades contemporâneas, mas deveriam rebaixar as suas demandas, alegadamente porque nós estamos “todos no mesmo barco da economia nacional” que não devemos deixar afundar.

O sistema político burguês inventou formas de manipular o conjunto dos trabalhadores que, no período anterior, participaram das grandes lutas da classe trabalhadora que explodiram na Grécia. Ele sabe que estes setores da classe trabalhadora e dos estratos intermediários não adquiriram a necessária experiência política e são basicamente orientados pelo desejo de uma outra forma de administração que possa supostamente parar a espiral descendente e assim imediatamente resolver seus problemas – sem tocar nas bases da exploração capitalista e na filiação da Grécia às instituições imperialistas da OTAN e da UE. Deste modo, no período anterior, vimos a mídia burguesa utilizando o chamado “movimento de cidadãos indignados”, que promoveu de maneira frequentemente reacionária sua aversão a toda forma de organização (partidos e sindicatos), bem como a confusão ideológica de que a crise seria supostamente causada pela “corrupção” dos políticos, ou por uma “falta de democracia”.

Não foi por acaso que eles tentaram promover algo que em grande medida  conseguiram: disseminar entre os trabalhadores de nosso país a ilusão de que a crise capitalista e o Memorando são resultado de correções ideológicas (por exemplo, do pensamento neoliberal) ou auto-interessadas, formas incompetentes e subservientes de gestão e negociação por parte do pessoal político da burguesia. Que se houvesse uma negociação “honesta” com base em posições “patrióticas” / “sociais” por parte de um governo “competente”, então as pessoas estariam em uma situação melhor. Esta foi a base da lógica rasa anti-memorando, que foi e é continuamente promovida pelo SYRIZA – uma fusão de forças oportunistas com desgastadas forças do social-democrata PASOK -,  pelos Gregos Independentes – uma dissidência de direita do partido Nova Democracia (ND) -, e até mesmo pelo neonazi Aurora Dourada. Isso demonstra a ilusão a respeito de uma solução imediata, sem conflito e sem ruptura com o capital e a UE. Esta é uma “tábua de salvação” para o capital e a “isca” usada para “capturar” a classe operária e outras camadas populares na sua estratégia de salvaguardar a base sócio-econômica do sistema capitalista e a renovação do seu pessoal político. Em condições de miséria relativa ou mesmo absoluta e de desemprego, de insegurança, infelizmente grande parte dos trabalhadores pode cair nesta armadilha, tal como foi demonstrado pelos resultados das duas últimas eleições em nosso país.

Nessas condições, o Partido Comunista enfrenta uma luta dura, ideológica, política e organizativa contra as forças burguesas e oportunistas. É importante que o PC esclareça os trabalhadores sobre o verdadeiro dilema, que é: ou  segue-se com os monopólios, com o capital conduzindo a economia e detendo o poder político, ou segue-se com o povo no comando da economia e no poder.

O KKE defende que a crise capitalista expressa o agravamento da contradição básica entre o caráter social da produção e do trabalho e a apropriação privada capitalista dos seus resultados. Posições que atribuem as causas da crise às políticas administrativas, algumas vezes culpando a administração neoliberal, outra vezes a “postura subserviente” dos governos burgueses e a incompetência dos negociadores são irreais e perigosas! Isto porque elas escondem o fato de que as negociações com os credores e a implementação de medidas anti-populares ocorreram depois do estouro da crise. Eles escondem como operam as leis do sistema de exploração e que a história das crises demonstra que elas se manifestam no tempo sem levar em conta se está em andamento uma forma de administração social-democrata ou liberal. Elas ocorrem devido ao agravamento das contradições do sistema, a anarquia, a desigualdade que caracteriza a produção capitalista, assim como a superacumulação de capital a partir da exploração da força de trabalho que foi concentrada na fase de crescimento econômico, não podem encontrar saídas seguras com alta taxa de lucratividade em um ambiente onde as condições de vida absoluta e relativa da classe trabalhadora estão se deteriorando. Tanto antes como durante a crise, uma ofensiva sistemática foi organizada pela classe burguesa – uma guerra contra a classe trabalhadora e os direitos trabalhistas e populares, com o objetivo de reduzir o preço da força de trabalho e aumentar a competitividade e rentabilidade do capital.

Assim, é de grande importância que os trabalhadores entendam as causas reais da crise e dos problemas que eles experimentam e hoje estão se tornando mais agudos.

A crise econômica não é um fenômeno independente, uma vez que emerge das entranhas da sociedade capitalista e exacerba as contradições inter-estatais, as rivalidades inter-imperialistas, e causas realinhamentos tanto na UE como a nível global e, claro, fortalece as desiguais relações de inter-dependência.

Por exemplo, dentro da UE um confronto muito difícil está ocorrendo neste período sobre a forma como as perdas decorrentes do agravamento e aprofundamento da crise serão distribuídas e sobre os rumos futuros da zona do euro. Por este motivo algumas forças social-democratas tentam capturar os trabalhadores em conceitos que são utilizados para a sua manipulação político-ideológica, propondo uma outra forma de gerir a crise através de uma “frente dos países do Sul” contra o “Norte rico”.

É claro que esta não é a primeira vez que a classe burguesa tem procurado dividir os trabalhadores através de questões geográficas, raciais e religiosas, enevoando o ponto de vista de classe sobre as questões. Mas aqui estamos lidando com uma tentativa de “mobilizar” camadas populares em torno de objetivos definidos pela classe burguesa de cada país, nas suas duras rivalidades inter-imperialistas, dentro e fora da UE. As forças oportunistas sustentam enormes responsabilidades com relação a isso. Especificamente o SYRIZA em nosso país, o Partido da Esquerda Europeia (PEE) na Europa, que participam ativamente espalhando ilusões de que, após a eleição de Hollande na França, “novos ventos estão soprando” a partir do sul. Estas forças, apesar de sua fraseologia de “esquerda”, procuram santificar a UE, humanizar o capitalismo e não hesitam em tomar partido de um ou outro bloco imperialista, às vezes elogiando Hollande e os governos da Itália e da Espanha sobre a maneira como eles negociaram no âmbito da UE e em outros momentos elogiam Obama a respeito de sua forma escolhida de gerir a crise. Eles escondem do povo que a UE é uma união do capital que não pode ser reformada e que a única perspectiva que serve aos interesses dos trabalhadores é a saída dela, através do estabelecimento do poder popular em cada país, o que irá garantir que as funções econômicas satisfaçam as necessidades das pessoas e não a rentabilidade do capital.

E neste ponto eu gostaria de salientar o seguinte: como vocês devem saber, a possibilidade de formar um governo de “esquerda” era uma questão importante nas últimas eleições. E eles insistiram em chamar o KKE para participar. Nosso partido se recusou do início ao fim a participar de um tal governo, pois está plenamente ciente de que nenhum governo que administra o capitalismo, o poder dos monopólios e da propriedade privada dos meios de produção, nenhum governo que implementa um programa baseado em lucros capitalistas, na competitividade, na produtividade e na  lucratividade dos grandes grupos empresariais pode seguir uma linha política a favor da classe trabalhadora e das camadas populares.

Nenhum governo deste tipo, que opera dentro dos marcos da UE e da OTAN, da propriedade capitalista e do poder burguês, pode controlar as leis do sistema, suas contradições, e prevenir a eclosão da crise capitalista.

Cedo ou tarde as promessas de “aliviar” o povo serão rasgadas, elas provarão ser palavras vazias e as expectativas e esperanças do povo por algo melhor serão substituídas pela desilusão e pelo retrocesso do movimento operário.

Por isso, é de grande importância que o KKE mantenha uma posição de princípio, rejeitando a possibilidade de participar de um governo de administração burguesa ainda que tal governo seja chamado de “esquerda”. Nosso partido optou por continuar a luta de classes, enfrentando as dificuldades, ciente de que, temporariamente, pode sofrer algumas perdas nas eleições.

Mas estamos determinados a intensificar a nossa luta a respeito de cada problema do povo, formando as condições para a libertação das cadeias da exploração. Assim, avançamos para a frente, focando sobretudo na recomposição do movimento operário, no fortalecimento do movimento classista, da PAME, e na melhoria da atividade e da orientação dos militantes dos sindicatos.

Nós enfatizamos a política de alianças que elaboramos no 15º congresso e nos subsequentes, a respeito da construção de uma aliança político-social, a construção da Frente de Luta Anti-Imperialista e Anti-Monopolista, baseada na aliança entre a classe operária, os pequenos e médios agricultores e os estratos da pequena-burguesia urbana, com a participação de mulheres e jovens. Continuamos os esforços para a criação das condições sócio-políticas que conduzam a uma escalada da luta pelo poder popular, à retirada da União Europeia e da OTAN, ao cancelamento unilateral da dívida, à socialização dos meios de produção concentrados, o desenvolvimento em favor do povo.

Certas pessoas perguntam: Por que o KKE coloca a questão desta maneira? Não entende que a atual correlação de forças em escala global é negativa? Que a solução que propõe, a ruptura com as organizações imperialistas, requer sacrifícios dos povos?

É claro que sabemos que o caminho que propomos para o povo exige sacrifícios! Mas o caminho do desenvolvimento capitalista requer sacrifícios de qualquer maneira. Contudo, estes são sacrifícios que não beneficiam o povo, como podemos ver na nova rodada de contradições imperialistas pelo controle e a redistribuição dos mercados, dos territórios, das fontes de energia e dos recursos naturais, que começou em nossa região. Uma região que possui importantes recursos naturais e inclui linhas centrais e obrigatórias para o transporte marítimo, rotas importantes para o transporte de energia do Cáucaso, do Mar Cáspio, do Oriente Médio e da África do Norte para os países da Europa, bem como para o Sudeste da Ásia. Estes elementos atraem as potências imperialistas como um ímã e tornam a região uma arena importante para a manifestação de contradições inter-imperialistas e seus objetivos estratégicos, com a participação e responsabilidade direta das classes burguesas e forças políticas burguesas dos Estados da região que são uma parte do problema e tomam partido das uniões imperialistas, a fim de servir aos seus próprios interesses. O exposto acima implicará guerras e intervenções externas, a fim de indicar governos que são controlados por um ou outro poder imperialista, a fim de facilitar a redistribuição e o controle de mercados e recursos.

A África e o Oriente Médio, entre outras regiões, estão em ponto de ebulição, e assim a guerra imperialista e a subsequente paz imperialista não são questões estranhas ao povo grego, tendo em conta que o nosso país é um membro da UE e da OTAN, tem bases dos EUA-OTAN, e tem uma posição geo-estratégica extremamente importante para a condução de guerras imperialistas.

A grande base aérea e naval que os EUA possuem em nosso país, em Suda, Creta, bem como o espaço aéreo, territorial e marítimo do nosso país em geral, foram utilizados na última guerra imperialista contra a Líbia. Após a intervenção imperialista contra a Líbia, que foi seguida pela divisão do butim, as ameaças turcas contra o Chipre estão se intensificando, as relações entre a Turquia e Israel estão se agudizando, a agressividade de Israel contra o povo da Palestina, do Líbano e do Egito foi reforçada, enquanto o plano para uma intervenção imperialista na Síria está em curso, visando também um ataque contra o Irã, usando o pretexto de seu programa nuclear. Estes acontecimentos estão relacionados com os realinhamentos gerais da região, ligados ao plano imperialista para um “Novo Oriente Médio”, com as mudanças em curso no norte da África e no Oriente Médio após a derrubada dos governos anti-populares no Egito e na Tunísia, com a tentativa de reorganizar o sistema político burguês, de modo que corresponda às necessidades atuais da lucratividade capitalista. Esta realidade tem sido distorcida pela posição em relação à “Primavera Árabe”, que é enfatizada por forças burguesas e oportunistas, embelezando os regimes burgueses que surgiram após as mobilizações populares no Egito e na Tunísia, ocultando que o regime de exploração permanece, que novas e duras  medidas estão sendo impostas sobre o povo.

Não é nenhum segredo que os imperialistas estão invocando em cada ocasião inúmeros pretextos, como agora na Síria, onde começaram com a questão da “democracia” e agora focam no tema das armas químicas e biológicas, a fim de justificar uma intervenção. Os desdobramentos na Síria são um resultado flagrante do imperialismo dos EUA, da UE, da OTAN, bem como da Turquia, do Qatar, da Arábia Saudita e de Israel contra este país.

Tornou-se óbvio que os EUA, a UE e Israel estão interessados na desestabilização e enfraquecimento do regime burguês sírio, que se opõe à evolução das posições e planos imperialistas na região e é um aliado de forças na Palestina, Líbano, etc., que estão em conflito com os EUA, OTAN e Israel. Não nos esqueçamos de que, hoje, territórios sírios estão sob ocupação estrangeira (israelense)! O enfraquecimento do regime ou mesmo a sua queda pode aguçar o apetite para os planos imperialistas para um ataque ao Irã, com o pretexto de seu programa nuclear. Isso pode até mesmo levar a novos desmembramentos de Estados da região e a um efeito dominó de desestabilização e derramamento de sangue, algo que vai provocar novas guerras imperialistas e intervenções.

Esta é a razão pela qual os trabalhadores devem distinguir qual é a principal questão em cada conjuntura! E a questão mais importante aqui é que a perigosa escalada da intervenção imperialista da UE-EUA-OTAN na região, que ocorre no terreno da dura concorrência com a Rússia e a China, inclui o perigo de uma guerra generalizada, inicialmente contra Síria, mas também contra o Irã, o que terá consequências desastrosas para os povos de nossa região. As potências imperialistas que intervêm em todos os sentidos (político, econômico, militar) nos assuntos internos da Síria, junto com os meios de comunicação que possuem, desinformam as pessoas a fim de justificar uma nova guerra imperialista.. Estes desdobramentos na Síria complementam a ocupação do Iraque, do Afeganistão e da Líbia.

Os povos precisam resistir de forma maciça às intervenções, se opor à guerra imperialista e ao sistema capitalista que é sua causa. Os acontecimentos na Síria são uma questão para o seu próprio povo. Eles são responsáveis ​​por decidir o rumo do seu país.

Camaradas,

Nessas condições da aprofundamento da crise capitalista e das contradições inter-imperialistas, é necessário que sejamos claros sobre contra quem estamos lutando. Quem é o inimigo dos movimentos sindicais e populares? Há muitos que vão responder que “existe um inimigo, o imperialismo” mas, na prática, cada pessoa pode responder de forma diferente em essência. Isto porque existe uma concepção “anti-imperialista” rasa, como diríamos, que traça uma equivalência entre o imperialismo e seu poder de liderança, os EUA. Os EUA estão hoje se tornando cada vez mais agressivos, a fim de salvaguardar a sua posição hegemônica em relação aos poderes globais e regionais ascendentes. Mas a identificação entre o imperialismo e os EUA, a visão que  afirma existir um “Império”, esquece da concepção leninista de imperialismo, no centro do qual reside o capitalismo monopolista. Este ponto de vista equivocado é natural e justificadamente contraposto aos EUA, mas não tem qualquer oposição, por exemplo, a uma igualmente imperialista UE. Na verdade, certas forças tratam a UE de forma equivocada, como um “contrapeso” aos EUA e buscam o avanço de sua unificação político-militar. É claro que estão cometendo um erro! A UE, assim como outras economias emergentes hoje, e outras organizações inter-estatais regionais que foram formadas, por exemplo, no território da antiga URSS ou na América Latina, não podem desempenhar um papel substancialmente positivo nos negócios globais em favor da classe trabalhadora e estratos populares, pois eles têm o monopólio capitalista em seu DNA. O assim chamado “mundo multi-polar” da assim chamada “nova arquitetura das relações internacionais” não é um mundo de paz e segurança para os povos, mas um mundo de galopantes contradições inter-imperialistas. Neste mundo, o Direito Internacional, tal como os povos conheciam da época em que existia a URSS, não mais é uma realidade, uma vez que ora é formado e implementado não como resultado das correlações de forças entre países capitalistas e socialistas, mas como resultado da correlação de forças entre países capitalistas.

Algumas outras visões também lidam com o imperialismo de maneira equivocada, assim como fez Kautsky no passado, que é  tomando-o como uma política da classe dominante  e não como um nível no desenvolvimento do capitalismo que está conectado à dominação do monopólio na produção capitalista, à fusão do capital industrial e financeiro, à exportação de capital e com o caráter econômico das guerras imperialistas (a divisão e redivisão de mercados). Seria um erro sério para o movimento popular basear as suas esperanças nas assim chamadas potências emergentes, ou escolher o seu lado. E isso porque, assim como Lenin alertou em sua confrontação com Kautsky, isso nos levaria à avaliação equivocada de que “os monopólios na economia são compatíveis com os métodos não-monopolistas, não violentos, não-anexionistas na política. [1]” Pois é assim, camaradas: não podem existir países poderosos, onde as relações capitalistas de produção e os monopólios capitalistas sejam dominantes, que sejam  ao mesmo tempo “pombas brancas da paz”. Esta seria uma ilusão grave.

Sim, é verdade que hoje, mesmo que sejam mais fracos do que eram há 10 anos atrás, os EUA mantém a primeira posição na “pirâmide” imperialista. Mas, como Lenin advertiu: “Meio século atrás, a Alemanha era um país miserável e insignificante, se sua força capitalista fosse comparada com a da Grã-Bretanha daquele tempo; o Japão em comparação com a Rússia, da mesma forma. É ‘concebível’ que dentro de dez ou vinte anos as forças relativas das potências imperialistas irão permanecer imutáveis? É fora de questão”[2]. É o caso atual!

O desenvolvimento desigual do capitalismo, que é  uma lei fundamental da produção capitalista, provoca realinhamentos, mas estes estão dentro do âmbito do sistema imperialista, entre as potências imperialistas e essas mudanças não podem de forma alguma salvaguardar a paz e a segurança. A paz imperialista, por mais tempo que dure, prepara o terreno para novas guerras imperialistas!

Em nossa opinião uma coisa é um regime socialista do povo tentar explorar as contradições inter-imperialistas a fim de desenvolver a luta de classes e proteger o poder da classe trabalhadora, e outra coisa distinta é enganar os trabalhadores, promovendo falsas esperanças sobre o papel das potências emergentes imperialistas e organizações inter-estatais. É por isso que chamamos a classe trabalhadora de nosso país a não escolher o campo imperialista. Nós persistimos com o slogan: “O povo é a única superpotência!”

Durante as guerras contra a Iugoslávia, Afeganistão, Iraque e, mais recentemente, na Líbia, bem como a respeito da guerra que está sendo preparada contra a Síria e o Irã, o nosso partido decisivamente se recusou a aceitar os argumentos dos governos burgueses e da mídia, da OTAN e da UE, que eram em grande medida reproduzidos entre as camadas populares por várias forças de “esquerda”, isto é, pelas forças do oportunismo. As forças burguesas, tendo ao seu lado as forças oportunistas, basearam a necessidade de uma intervenção imperialista e algumas vezes da guerra, em cima da necessidade de “parar a limpeza étnica”, alegando por vezes supostas “razões humanitárias”, ou a necessidade de “restaurar a democracia”, ou a “interrupção do uso de armas de destruição em massa”, ou mesmo em “apoio à Primavera Árabe”. O partido abriu e mantém uma frente político-ideológica permanente contra essas forças e não esquece por um só momento a posição leninista da “impossibilidade de unidade com os oportunistas na época do imperialismo” e que “a luta contra o imperialismo é uma frase vazia e falsa se não estiver indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo [3].”

Esta luta ideológica contra as forças burguesas e oportunistas é um componente da atividade anti-imperialista do nosso partido. Além disso, ela é combinada com a atividade de vanguarda anti-imperialista dos comunistas nos sindicatos, nas fileiras da Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), que é o pólo de orientação classista dos sindicatos gregos, bem como nas organizações de massa, tais como a Comitê Grego pela Distensão e Paz Internacional (EEDYE).

O  KKE apela para a classe trabalhadora, para os povos do nosso país e da nossa região e destaca que os seus interesses são identificados com as lutas comuns anti-imperialista e anti-monopólio, pela retirada das organizações imperialistas, pelo fechamento das bases militares estrangeiras e a remoção das armas nucleares, pelo retorno das tropas das missões imperialistas, pela solidariedade com o povo palestino que experimenta a barbárie israelense, bem como com todos os povos que lutam e tentam traçar o seu próprio caminho de desenvolvimento. A luta por esses objetivos, hoje, não pode ser separada da luta pelo poder.

E a razão disto é que as pessoas só  podem viver em paz e de forma criativa, utilizando os recursos naturais – que serão propriedade do povo – em benefício próprio, pela  satisfação de suas próprias necessidades, apenas numa realidade em que haja o poder popular e dos trabalhadores, apenas na realidade do socialismo.

Condenamos as guerras imperialistas e lutamos pela retirada do nosso país delas! No entanto, sabemos que as guerras, que constituem a continuação da política por outros (e violentos) meios, são inevitáveis ​​enquanto a sociedade estiver dividida em classes, enquanto houver exploração do homem pelo homem, enquanto o imperialismo dominar. A substituição da guerra pela paz em benefício do povo não pode ser alcançada sem a substituição do capitalismo pelo socialismo. Esta verdade torna a nossa luta hoje ainda mais oportuna e necessária.

[1] VI Lenin, Imperialism, the highest stage of capitalism. http://www.marxists.org/archive/lenin/works/1916/imp-hsc/index.htm

[2] VI Lenin, Imperialism, the highest stage of capitalism. http://www.marxists.org/archive/lenin/works/1916/imp-hsc/index.htm

[3] VI Lenin, Imperialism, the highest stage of capitalism. http://www.marxists.org/archive/lenin/works/1916/imp-hsc/index.htm