Petraeus renunciou para encobrir Obama e evitar a divulgação das operações clandestinas no Oriente Médio

No dia 11 de setembro de 2012 “o embaixador dos Estados Unidos na Líbia, Chris Stevens, e três membros da embaixada morreram em um ataque ao consulado estadunidense na cidade de Bengasi, agressão perpetrada por manifestantes indignados com um filme de um israelense residente na Califórnia que ridiculariza o profeta Maomé, explicaram as autoridades líbias”, dizia a imprensa ocidental após o ataque. James Petras afirmou que nessa cidade não há Consulado, mas um Centro clandestino de Operações Especiais norte-americanas.

Esta renúncia busca evitar “um testemunho do general Petraeus perante o Congresso explicando que o atentado –onde morreu o embaixador norte-americano na Líbia- não foi contra um Consulado em Bengasi, mas contra o Centro de Operações Especiais de onde se dirigem uma série de atividades ilegais e clandestinas no Oriente Médio”, asseverou James Petras em sua coluna de 12 de novembro (*). O sociólogo norte-americano explicou na rádio CX36 que “a purgação se deve a que Obama não quer enfrentar um grande escândalo nos primeiros dias de sua nova Presidência” pois “se em seu testemunho obrigatório, o senhor Petraeus revela que Obama está até o nariz na subversão da Síria, involucrado em todos os chamados ‘levantamentos’ e ‘protestos’ contra os governos da região e nos ataques contra Irã”, pode debilitá-lo “nos primeiros momentos em que justamente quer relançar suas políticas exteriores”, indicou.

Efrain Chury Iribarne: Bom dia, James Petras. Como esta?

James Petras: Estou muito bem. Pronto para começar este espaço, temos um tema fascinante para considerar hoje, que é a suposta renuncia do chefe da CIA, o general David Petraeus (1). Podemos começar por aí?

EChI: Sim, me parece bom.

JP: A notícia supostamente é de que renunciou por escândalo sexual, por adultério entre Petraeus e uma militar, por isso tinha que apresentar sua renuncia e Obama aceitou imediatamente.

Essa é a versão de telenovela, realmente não tem muito conteúdo, porque todos os generais, senadores, etc, tem suas “queridas” –antes e agora- e isso não é razão para deixar um ofício. E mais ainda deste nível. Há muito que existem denuncias sexuais contra vários funcionários, e estes seguem nos seus postos.

Então, por que isso agora?

Primeira coisa. É curioso que o Birô Federal de Investigações (FBI, por sua sigla em inglês) investigou a CIA; sendo que é a agência policial doméstica, enquanto as CIA está supostamente involucrada no exterior.

O fato é que a Polícia Federal está investigando e controlando as chamadas telefônicas do chefe da CIA, o que indica que é uma intriga no mais alto nível; porque para que o FBI investigue a CIA, necessitam de uma diretiva da Presidência ou pelo menos do Conselho Nacional de Segurança. E disso não se fala em todo este processo, onde se está utilizando uma Agência de Inteligência contra outra.

Em segundo lugar, o outro fato importante é que o general Petraeus tinha na próxima semana que dar testemunho frente a um Comitê do Congresso que está investigando o –suposto- ataque ao Consulado dos Estados Unidos em Bengasi, Líbia; onde morreu o embaixador e vários operativos clandestinos, grupos de oficiais metidos em operações clandestinas, cometendo assassinatos e outras atividades secretas.

Então, por que renunciou o senhor Petraeus?

Creio que foi porque este testemunho que estava obrigado a dar, talvez já não terá que fazê-lo porque não é quem encabeça mais a Agência.

O que está acontecendo?

Nós investigamos e encontramos no livro do Departamento de Estado, que não há um Consulado oficial em Bengasi, este centro onde mataram o embaixador (2), é o centro de operações da CIA para o Oriente Médio, particularmente orientando as forças especiais em relação com a Síria. É o lugar desde onde a CIA financia e arma os mercenários que vão para a Síria.

Então, o ataque a esse escritório –porque não é um Consulado-, a esse Centro de Operações da CIA; põe em questão o papel dos Estados Unidos no Oriente Médio, porque diz que não está involucrado no levante dos sírios e agora fica tudo descoberto. E a partir das investigações sabemos que Petraeus utilizava o centro de Bengasi como lugar de lançamento de infiltração e subversão em todo o Oriente Médio.

A purgação –porque dizem que é uma renuncia mas na realidade é uma purgação- se deve a que Obama não quer enfrentar um grande escândalo nos primeiros dias de sua nova Presidência, e se em seu testemunho obrigatório, o senhor Petraeus revela que Obama está até o nariz na subversão da Síria, involucrado em todos os chamados “levantamentos” e “protestos” contra os governos do Golfo; e os ataques contra o Irã… Isso pode debilitá-lo nos primeiros momentos em que justamente quer relançar suas políticas exteriores.

Então devemos marcar como conclusão que esta renuncia é uma demostração dos conflitos intestinos, dentro do governo imperialista, onde as atividades e assassinatos particularmente na Síria, financiados pelos Estados Unidos e encabeçados pelos fundamentalistas que estão nas primeiras filas da agressão na Síria. Este tipo de atividade agora estava em questão e um testemunho de Petraeus explicando que o atentado do embaixador foi porque tinham em Bengasi uma série de atividades ilegais; que tem vínculos estreitos com os jihadistas, que nesse lugar preparam fundamentalistas para atacar a Síria e outros lugares… Isso era demasiado. Então tiveram que inventar alguma coisa para que não declare, o que terminou sendo a aventura sexual, que era algo conhecido há tempo mas o fato que o utilizaram neste precioso momento é uma demostração de que está mais vinculado aos grandes problemas de subversão imperial no Oriente Médio.

EChI: Ou seja, Petraeus foi demitido não por amor, mas por outras coisas.

JP: Não sei se é amor apenas o fato de transar com uma mulher, e além disso parece que tinha outra, que era sua Chefe de Operações Clandestinas. Inclusive na versão de telenovela, uma das mulheres ameaçava a outra, para definir qual era a primeira namorada do general.

EChI: Para continuarmos falando da Síria, como está a situação ali?

JP: Ai há várias propostas do ocidente. Uma é continuar a guerra indefinidamente para destruir toda possibilidade de recuperação da Síria como aliado do Irã e dos palestinos. É uma forma de guerra prolongada, violenta, destrutiva e não creio que termine simplesmente porque um oficial russo diga que se deve fixar um prazo entre as forças sírias. Desafortunadamente os países imperialistas estão ali para destruir o país e postergar sua recuperação por vinte anos.

Há que entender os sinais do terrorismo involucrado.

Recentemente recebi um correio eletrônico do Oriente Médio, dizendo que a quinta Igreja cristã estava destruída, a última, uma igreja cristã armênia, que os terroristas entraram, saquearam e destruíram. Isso só pode ser explicado pela prominência dos fundamentalistas muçulmanos que sã a principal força de choque dos turcos e os otanistas (da OTAN). Não creio que possam ganhar a guerra, porém tão pouco se pode pensar que vão ser aplastados de forma definitiva porque têm territórios que poderiam recuar, cruzar desde a Turquia. É impossível terminar esta guerra porque quando perdem uma batalha, se dão a fuga, entram a Turquia se rearmam, recebem mais apoio e voltam a atacar. Então, enquanto a Turquia, Jordânia, a OTAN, etc, sigam apoiando os mercenários e terroristas, estes podem continuar por tempo indefinido e essa é a grande tragédia da Síria.

Não é simplesmente uma luta interna, porque se fosse assim, não haveria dúvidas de que o governo sírio ganharia, mas como é fronteira aberta com apoio externo permanente, tenho muitas dúvidas que se possa resolver este conflito a curto prazo, muito menos fixar  um compromisso de paz.

EChI: E a OTAN, atuará na estratégia da emboscada ou entrará diretamente?

JP: O problema é que a OTAN necessita de um território garantido e seguro para lançar-se como protagonista da oposição, porque sem isso, com o pretexto de que uma parte da Síria esteja nas mãos dos sírios e que eles estejam “ajudando a um governo legítimo”, é difícil que a OTAN entre.

Por isso os terroristas tratam de ocupar território no norte da Síria, alguns povos e aldeias, para estabelecer um governo provisório e chamara a OTAN para que eles deem seu apoio, e utilizar toda essa fachada como pretexto para uma invasão da OTAN. Mas ainda não há conseguido uma região importante do território sírio e a OTAN tem dúvidas sobre a forma que pode justificar a intervenção.

EChI: Pode ser a Turquia a base de lançamento?

JP: Sim, mas desta forma pareceria mais uma agressão, uma invasão. Por isso digo que necessitam que os mercenários tenham algum território dentro da Síria, levantar alguma bandeira, dizer que são um governo provisório e “convidar” –utilizar esse truque- a OTAN, com essa fachada de que são um governo legítimo, paralelo ao de Bashar Al Assad.

Enquanto não conseguem isso, pois é difícil, vão seguir com ataques, tomaram um povoado, uma aldeia, serão rechaçados, tomaram outro, destruíram hospitais, escolas, igrejas, etc. Só ficam os grupos mais fundamentalistas como os que devem permanecer dentro do esquema da invasão.

EChI: Por fim, Petras, você quer comentar algum outro tema?

JP: Bom, o outro assunto é sobre o processo das matanças.

Recordam que em março passado, um senhor chamado Robert Bales matou vinte e dois civis afegãos (3), quase todos crianças, idosos e alguns jovens. Bem, agora começa o processo e o apresentam como usuário de drogas e alcoólatra, é o pretexto para disfarçar o fato de que ele forma parte das forças especiais que tem a especialidade de assassinar civis suspeitos de apoiar a resistência afegã.

Mas estão despolitizando esse massacre, desvinculando-o da política de intervenção norte-americana e da operação das forças especiais. Tentam tratá-lo como um tema psicológico e não político, como se que o problema do massacre fosse de um louco isolado, em vez de analisar sua formação político-militar, seus vínculos políticos e militares e as diretivas que orientam este tipo de soldados.

E se recontextualizarmos este processo, temos a base de uma poderosa denuncia contra a política norte-americana no Afeganistão, ou seja, contra o Presidente e o Congresso; mas desta forma ficamos simplesmente com um julgamento contra um indivíduo com problemas psicóticos e quando termine o julgamento obviamente estão obrigados a sentenciá-lo a longos anos de cárcere. Então o usaram como argumento para dizer que a justiça norte-americana condena inclusive seus próprios soldados porque cometeram crimes, é um lava mãos a la Pilatos, em vez de esconder-se por vergonha.

EChI: Bom, Petras, te agradecemos muito como sempre e te convocamos para a próxima segunda.

JP: Certo, um abraço a audiência e aos pescadores da avenida montevideana, nos encontramos na segunda-feira.

(*) Escute ao vivo toda segunda-feira às 11:30 horas (hora de Montevidéu) o programa com James Petras pela CX36, Rádio Centenário, desde Montevidéu (Uruguai) para todo o mundo através de www.radio36.com.uy

Notas de Redação

(1) Petraeus renuncia a CIA: uma brilhante carreira acabada por um romance

O ex-general estadunidense David Petraeus, um dos comandantes militares de mais alta patente na era posterior ao 11 de setembro de 2001, renunciou como diretor da Agência Central de Inteligência (CIA, por sua sigla em inglês) após reconhecer que sustentou uma relação extramatrimonial.

(http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2012/11/121109_eeuu_perfil_petraeus_dl.shtml)

(2) Embaixador dos EUA na Líbia morre após ataque contra filme sobre Maomé

O embaixador dos Estados Unidos na Líbia, Christopher Stevens, e outros três cidadãos desse país morreram após o ataque ao consulado estadunidense na quarta-feira na cidade de Bengasi, no leste do país, confirmou o presidente Barack Obama em um comunicado oficial.

(http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2012/09/120912_libia_embajador_eeuu_muere_video_islam_mahoma_jp.shtml)

(3) Robert Bales: O sorriso de um assassino

Um nome: sargento Robert Bales. Um lugar: Iraque. A batalha de Najaf, de 2007. Suas palavras, após liberá-la: “Quando começamos a limpar a cidade, começamos também a tirar as pessoas… Buscávamos gente que pudêssemos ajudar, porque havia muita gente morta as quais não podíamos mais ajudar, estes deixávamos em um ponto de contagem de cadáveres”. Viveu a guerra em sua crudeza. (http://www.librered.net/?p=16475)

Tradução: PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO