O Nobel da União Europeia e a Conferência pela Paz

ALAI AMLATINA, 12/12/2012. Junto com o sul-africano Desmond Tutu e da irlandesa Mairead Maguire, ganhadores do Nobel da Paz, nos opomos à concessão deste prêmio à UE por considerar que não respeita os desejos de Alfred Nobel, criador dos prêmios.

Mediante uma carta aberta destinada à Fundação Nobel, expressamos ao Comitê Nobel norueguês que a União Europeia não promove a ideia de uma ordem global desmilitarizada e prioriza as soluções pela via da força militar ao invés de insistir em abordagens alternativas.

Igualmente nos colocamos em oposição quando o mesmo prêmio foi outorgado à Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira, a União Europeia recebeu o Nobel e o dinheiro, dizendo que a Europa aprendeu com as duas guerras mundiais e que, em 10 de dezembro, relembra aos europeus e ao mundo o propósito fundamental da União: a fraternidade e a conciliação entre as nações europeias atualmente e no futuro.

O que é importante relembrar é que as tensões entre os países europeus que desencadearam as duas guerras tiveram relação com uma “desigual” partilha de colônias e recursos no resto do mundo. A Itália e a Alemanha, estados tardios, chegaram tarde à partilha estratégica do mundo por parte da Europa.

Hoje, a Europa e os EUA aprenderam a lição e se agrupam através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para intervir na vida de outros países de maneira coordenada e mancomunada, de tal forma que ninguém fique sem receber benefícios por seu apoio à exploração do terceiro mundo.

A União Europeia se converteu no principal exportador de armas do mundo, segundo o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (CIPRI). E 7% destas armas vão parar no continente mais empobrecido do planeta, a África, onde proliferam numerosos conflitos armados e violações aos direitos humanos tendo sempre como vítimas os povos [1].

No que diz respeito à América Latina, além da venda de armas feita pela União Europeia, também é preocupante a presença militar dos Estados Unidos. Principalmente porque o Tratado de Washington estabelece que todas as bases militares pertencentes a um Estado-membro da OTAN podem ser utilizadas no marco de suas missões, o que significa que as instalações estadunidenses na América Latina são possíveis bases da OTAN, apesar de que, oficialmente, não exibam sua insígnia. Isto também inclui nossas Ilhas Malvinas, com uma base militar britânica.

Por estas razões, muitas organizações de direitos humanos da América Latina, Estados Unidos e Europa, realizaram a Conferência Intercontinental “Paz, desarmamento e alternativas sociais frente a OTAN Global” [2], no Palácio do Congresso Nacional Argentino, em Buenos Aires, um espaço importante de debate para obter propostas de resistência para a recuperação de nossa soberania, nossos direitos, nossos recursos e nosso futuro.

Não esquecemos que muitos povos, submetidos pelo medo da liberdade, acabam tornando-se permissivos às injustiças e sendo dominados por aqueles em quem acreditavam estar garantindo sua segurança.

Adolfo Pérez Esquivel

Prêmio Nobel da Paz

Presidente do SERPAJ

Notas:

[1] A política de exportações de armamento dos países da União Europeia à África (2002-2012) do Centro de Estudos pela Paz J.M. Delàs

[2] http://www.conferenciaporlapaz.org/

Fonte: http://alainet.org/active/60282

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)