Armas e terror*
A intervenção imperialista na Síria acumula crimes. E acompanha-os com uma campanha diária global de desinformação e mentira. É nesse sentido que se pode dizer que todos os órgãos de informação que aceitam participar de tal campanha – incluindo os do nosso país, naturalmente – têm as mãos tão sujas de sangue como aqueles que participam directamente nessa criminosa escalada.
Enquanto na ONU votam um Tratado alegadamente para controlar o comércio de armas, as principais potências imperialistas asseguram uma «catarata de armas» para os rebeldes sírios, através duma «ponte aérea secreta» que «começou em pequena escala no início de 2012» e deu um salto «em Novembro, após as eleições presidenciais» dos EUA. O ex-Director da CIA, General Petraeus, «foi decisivo para assegurar o arranque das ligações aéreas» que levam as armas para a Síria. Grande parte vêm da Croácia (que adere à UE a 1 de Julho) e são canalizadas pelas monarquias ditatoriais da Arábia Saudita e Qatar, pela Jordânia e Turquia. O relato acima é de fonte insuspeita (NewYork Times, NYT 24.3.13). Em Março Hollande e Cameron apelaram publicamente ao levantamento do embargo de armas da UE para a Síria (BBC,14.3.13). Mas «sabe-se que conselheiros militares britânicos estão [já] em acção nos países fronteiriços da Síria, ao lado de franceses e americanos, dando formação aos dirigentes rebeldes […].Crê-se que os americanos também estão a dar formação sobre o controlo de locais com armas químicas» (Telegraph, 8.3.13). O comércio de armas está “controlado”.
A máquina de guerra imperialista tem efeitos tenebrosos. A 20 de Fevereiro, a explosão de carros armadilhados no centro de Damasco matou «pelo menos 72 pessoas, a maioria civis» (NYT,21.2.13). Os EUA recusaram-se a condenar esse acto de terrorismo (Russia Today,22.2.13) e houve mesmo quem justificasse que era preciso «enfraquecer o argumento de que o governo garante a segurança» (NYT, 21.2.13). Rebeldes sírios detiveram 20 capacetes azuis da ONU junto aos territórios dos Montes Golã ocupados por Israel (BBC, 6.3.13). Talvez para esconder mais tráficos de armas? A Rússia deu crédito às acusações do governo sírio de que os rebeldes terão usado armas químicas, matando 25 pessoas. O jornal inglês Telegraph (19.3.13) escreve: «Um ataque ao início da manhã sobre as zonas sob controlo do governo em Kahn al-Assal, uma vila nos arredores ocidentais de Aleppo,deixou as vítimas com falta de ar e espumando pela boca.Grande parte das vítimas eram soldados governamentais». Os EUA de imediato «recusaram a acusação de que os rebeldes tenham usado armas de destruição em massa» – como sabiam? – para no dia seguinte (Telegraph, 20.3.13) insinuarem que seria obra do «regime» (contra soldados seus, em território sob seu controlo?!). A Rússia acusa a ONU de, sob pressão de «certos Estados», travar a investigação do facto (RIA Novosti, 6.4.13).
Entretanto, «o principal comandante militar dos EUA na Europa afirmou que vários países da NATO estão a preparar planos de contingência para uma possível acção militar […] na Síria» (Telegraph, 20.3.13), tendo Obama já dito que o uso de armas químicas seria a “linha vermelha” para um ataque. Um Ministro israelita afirmou que «armas químicas foram recentemente usadas na Síria, ou pelos rebeldes ou pelo governo» (Telegraph, 20.3.13). Ou terá sido por Israel, que bombardeou a Síria em Janeiro (NYT, 30.1.13)? Em 21 de Março uma bomba explode na mesquita Al Imã de Damasco matando o «principal clérigo sunita da Síria» que era «pró-Assad» (NYT, 21.3.13) e mais 42 pessoas. O atentado matou também o mito de que o conflito na Síria era uma revolta de sunitas discriminados. Em 28 de Março morteiros atingiram a Universidade de Damasco, matando 15 estudantes (BBC, 28.3.13).
O banho de sangue na Síria (e no vizinho Iraque) torna claro que, como em todas as guerras imperialistas, a violência mais brutal vai de mãos dadas com as mais descaradas mentiras e falsificações. Um dado importante a reter, quando o imperialismo prepara novas e perigosas guerras no Extremo Oriente.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº2054, 11.04.2013