PARAGUAI TAMBÉM SE MOBILIZA EM APOIO AO PROCESSO DE PAZ COLOMBIANO

Najeeb Amado, secretário-geral do Partido Comunista Paraguayo (PCP), que compõe a Frente Guasu, é um dos palestrantes internacionais do Fórum pela Paz na Colômbia. Confira uma entrevista com o jovem líder da esquerda sobre a conjuntura política de seu país e o processo de solidariedade com a Colômbia

– Qual a situação atual dos movimentos populares no Paraguai?

No Paraguai estamos trabalhando pelo reagrupamento do movimento popular, cujo tronco político hoje é a Frente Guasu (guasu significa “grande” no idioma guarani), uma articulação de partidos e movimentos políticos de caráter anti-imperialista. Com o resultado que obtivemos nas recentes eleições conseguimos nos constituir como a terceira força eleitoral, resultado inédito para a esquerda na história política de meu país.

Desde o fim das eleições, estamos trabalhando pela convocação ao Congresso Nacional da Frente Guasu, que pretendemos realizar no dia 10 de novembro deste ano. Ao mesmo tempo estamos compartilhando nossa agenda legislativa, produto do Tape Guasu (Grande Caminho, que é como chamamos ao programa da Frente), com os movimentos de operários, camponeses, estudantis, territoriais, culturais, juvenis e outros.

Ao mesmo tempo em que a vitória de Horacio Cartes fecha uma espécie de trilogia (Massacre de Curuguaty em 15 de junho de 2012, golpe de estado parlamentar em 22 de junho de 2012 e eleições gerais em 21 de abril de 2013) da restauração conservadora reacionária e com traços terroristas, a campanha eleitoral da Frente Guasu, com grandes mobilizações e as votações a favor de nossa proposta claramente anti-imperialista, antioligárquica e popular, mostra uma crescente organização na das maiorias trabalhadoras do campo e da cidade que padecem da impotência de uma classe dominante e de um Estado oligárquico que se mostram absolutamente incapazes de resolver favoravelmente a melhoria da qualidade de vida de setores cada vez mais amplos da população paraguaia.

– Por que o Fórum pela Paz na Colômbia, que acontece de 24 a 26 de maio em Porto Alegre, é importante?

É muito importante que os povos de Nossa América nos expressemos de maneira conjunta a favor da paz com justiça social pra o povo colombiano. Nesse sentido, o Fórum pela Paz na Colômbia que será realizado em Porto Alegre permite uma expressão unificada de apoio aos esforços para alcançar essa paz de terra, essa paz de trabalho digno, essa paz de moradia pra todas e todos, paz de saúde e educação gratuitas e de qualidade, pelas quais tantos homens e mulheres lutaram e deram a vida. Neste Fórum poderemos enriquecer este sentido, esta construção de Nação entendida como povo que se protege e assegura o futuro para seus filhos e filhas, fazendo valer a voz das maiorias, dando matéria e coerência a uma verdadeira democracia. Porque compreendendo o sentido e a importância de uma paz na Colômbia podemos entender nossos processos em cada um de nosso países e avançar na necessária articulação e unidade das lutas populares.

– Quais as implicações que a construção da paz na Colômbia pode ter para o Paraguai e para a América Latina?

Eu dizia que analisar e tentar entender o processo colombiano e fazê-lo nosso, é fundamental para fortalecer as lutas em cada um de nossos países. Acontece que a Colômbia tem sido o centro de operação do imperialismo ianque em nosso continente. Para o Paraguai é de vital importância conhecer o processo colombiano e contribuir para a solução política do conflito social armado que este lindo país vive, porque, entre outras coisas, o Paraguai tem uma localização geoestratégica importante para o Cone Sul de Nossa América e, de fato, o objetivo do imperialismo norte-americano é consolidar em meu país o caráter de centro ao serviço de seus interesses para monitorar os processos regionais, explorar seus recursos naturais e humanos e desestabilizar os avanços democráticos no Brasil, na Argentina, no Uruguai e na Bolívia. Além disso, o fenômeno da mobilização massiva e combativa com a consolidação da Marcha Patriótica como força social e política de massas nos gera uma referência fundamental na hora de compreender o que é a sociedade em seu processo de transformação e formação de consciência, que em última instância destrói e constrói suas estruturas de domínio.

– Poderia enviar uma mensagem a todos lutadores pela paz com justiça social do continente e fazer um chamado para participar do Fórum?

Participar do Fórum pela Paz na Colômbia é um grato dever para qualquer pessoa de bem, porque o Terrorismo de Estado deve ser combatido de maneira exemplar, unitária e popular. Defender a paz com justiça social na Colômbia é defender a vida, é fazer realidade aquela bela e certeira frase de José Martí, que esquenta nosso sangue e dá ritmo a nosso corações quando lembra que “Pátria é humanidade”. Sentir-se parte de um projeto histórico de libertação e entender que, como muito insistiu uma companheira e poeta paraguaia, lutadora exemplar, chamada Carmen Soler, deve-se amar a vida, e por amá-la tanto não se pode querê-la indigna, é simplesmente gratificante. Minha saudação e admiração a cada homem e a cada mulher que não cede sua dignidade e que manifesta dia a dia a alegria de viver lutando por um mundo melhor, sabendo sem dúvidas que a paz sem voz não é paz, é medo.

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