Estado de Terror em Nome da Paz
A primeira vítima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves. Já não há um consenso mundial de condenação dos crimes contra a humanidade. Isto porque os crimes em massa e assassínios garantem a segurança dos «investidores», porque os índios são expropriados para que as minas possam ser exploradas, os trabalhadores do petróleo desapareçam de modo que o petróleo possa correr, e a imprensa financeira internacional louva o êxito do «el Presidente» por ter «pacificado o país».
Quando os narco-presidentes são abraçados pelos líderes da América do Norte e da Europa, é evidente que os criminosos se tornam respeitáveis e os respeitáveis passam a ser criminosos.
Mas outras vozes de outras regiões põem na justiça os criminosos de guerra, passados e presentes. Na Argentina, os generais dos desaparecidos têm passado os seus últimos anos por detrás das grades. Em Espanha, no Dubai e noutros lugares foram emitidos mandados de prisão contra comandantes militares israelitas. Tony Blair, cúmplice no genocídio de Bush no Iraque, foge de ser preso na Malásia pelos seus crimes de guerra. A Colômbia, os Estados Unidos e Israel, estão sós na Assembleia-Geral das Nações Unidas, condenados, mas ainda não estão a ser julgados. Os seus dias de impunidade estão a chegar ao fim. Guerras sem fim, corrupção por toda a parte, extensas falcatruas financeiras – podridão interior – estão a corroer as fachadas exteriores do poder militar.
Escritores e intelectuais têm um papel a desempenhar na aceleração deste processo, expondo as mentiras que sustentam as máquinas da morte.
Continuemos.
Mentiras dos Nossos Tempos
Doutrina de Segurança Democrática (nem democrática nem para segurança pessoal):
A corrupção da linguagem acompanha qualquer grande crime político. A noção de «Segurança Democrática» não é excepção. No actual contexto colombiano, assassinar líderes de movimentos sociais para garantir a reeleição de um partido de assassinos políticos é democrático. «Segurança» é o eufemismo para cemitérios escondidos, de sepulturas não assinaladas, de pessoas sem nome. «Liberdade dos Media» existe quando anuncia solenemente outro «importante triunfo militar»…, o assassínio de camponeses desarmados a trabalhar nas suas terras.
Os economistas são «peritos» quando proclamam que a economia está a crescer… só o povo é que sofre. Os políticos são «estadistas» quando declaram que estão «com o povo» – excepto para os 4 milhões expropriados à força e os 300.000 membros das famílias dos mortos e desaparecidos; os mortos e os expropriados estão ainda para apreciar aquele que afirma que «está com o Povo.»
Quando «el Presidente» declara que a guerra é paz, militarização é segurança, desigualdades são justiça social: só aqueles que não conseguem compreender estas Verdades Oficiais é que receiam que lhes batam à porta à meia-noite.
A Definição Oficial de Terrorista
É uma pessoa ou pessoas que não compreendem que o caminho para a paz é através de biliões gastos em aviões de combate, navios com helicópteros, bases militares e a subcontratação de conselheiros militares e mercenários.
Inimigos das conversações de paz
Segundo o «el Presidente», estes grupos dos direitos humanos que se opõem à matança dos adversários e que propõem diálogos em vez de monólogos são os inimigos da paz; só os monólogos asseguram que há só uma «verdade oficial».
O Preço da Prosperidade
Segundo o «el Presidente» e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pobreza, o desemprego e os baixos salários são o preço a pagar pela democracia e a prosperidade… mas apenas os trabalhadores e os camponeses é que pagam o preço e só os ricos é que prosperam.
Uma Original Definição de Soberania
Segundo o «el Presidente», ceder território a uma potência imperial estrangeira para construir sete bases militares regidas pelas suas própria leis e jurisdição é a nova definição de soberania. Soberania igual a ocupação estrangeira.
Nova Definição de Subversão
Segundo o «el Presidente», acordos humanitários e iniciativas de paz são pretextos para a subversão; os seus defensores sabem imediatamente que serão rejeitados pelo Estado. Em vez disso, desumanizar o inimigo e os defensores da paz, facilitar o bombardeamento das aldeias subversivas, os «verdadeiros» inimigos da paz.
Louvor e Condenação
O que nos diz acerca de um Presidente que é condenado por todos os grupos de direitos humanos e movimentos sociais e louvado por toda a imprensa financeira e instituições militares?
Um Presidente de Recordes Mundiais
Não há qualquer dúvida que o Presidente Uribe deve ser inscrito no Livro dos Recordes Mundiais do Guinness.
Recordes Mundiais
«El Presidente» é apoiado por mais narco-congressistas do que qualquer outro Presidente ou Primeiro Ministro a nível mundial (incluindo o Afeganistão).
«El Presidente» dirige a deslocação de mais pessoas (4 milhões de refugiados) no tempo mais curto (8 anos) do que qualquer outro Presidente a nível mundial (Israel levou meio século).
«El Presidente» concedeu mais bases militares aos EUA do que todos os presidentes juntos da América Latina. «El Presidente» dirigiu a matança de mais activistas sindicais e líderes do que qualquer outro líder mundial (1.500). Por cada morte e expropriação, o Presidente Uribe merece um novo galardão, o Prémio Ignóbil.
Mas ele não está só. Três Presidentes dos EUA, Democratas e Republicanos, Clinton, Bush e Obama concederam biliões de dólares em armamento e centenas de conselheiros para a promoção de 30.000 narco-assassinos dos esquadrões da morte e 300.000 soldados que são os autores das realizações de Uribe nos «recordes mundiais».
É preciso lembrarmo-nos e castigar os crimes passados e presentes contra a humanidade, mas há que ir em frente na procura do diálogo com aqueles que desejem, porque eles são a maioria, que acreditam na paz através da Justiça.
* James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque. Tradução de João Manuel Pinheiro
Fonte: ODiario.info