O golpe de Estado dos militares no Egito, a guerra na Síria e suas repercussões

O golpe de Estado dos militares no Egito já  está se consolidando, precisamente com a nomeação de um gabinete com oficiais que estão totalmente entregues ao Fundo Monetário e à OTAN.

Os militares buscam, de alguma forma, criar uma fachada civil, onde possam manejar a política neoliberal atrás dos civis.

Agora, o problema é que o partido islâmico de Mursi continua com as grandes manifestações. Não irão para casa e esquecer o fato de que seu presidente foi deposto.

Então, permanece a polarização no país. Não existe possibilidade de um levante neste momento. Os militares concentram, com mais de 300.000 tropas, todas as armas e os efetivos militares.

Agora, os grandes prejudicados com tudo isso são os civis liberais, democratas e socialistas, que se puseram a apoiar o golpe e derrotar o governo eleito. Agora, estão numa situação pior, porque antes tinham a capacidade de enfrentar um governo civil, apesar de ser neoliberal e islâmico, mas que foi escolhido. No momento, as condições são muito mais difíceis. Estão totalmente à margem do poder. Os militares vão consolidar o sistema de corrupção e dar poderes econômicos às empresas militares.

Acredito que nesta situação, pouco a pouco os países imperialistas vão chegar a acordos com este governo, vão convocar eleições com os islâmicos marginalizados. Existem poucas possibilidades de que possam voltar ao poder pela via eleitoral, já que as eleições serão bem armadas pelos militares. Muito provavelmente, o expurgo nos meios de comunicação vai eliminar a possibilidade de uma disputa igual.

Creio que estamos de volta à época de Mubarak, mas com novos personagens civis. Porém, acredito que, pouco a pouco, a deterioração do regime vai deixá-lo como um governo minoritário e, talvez, em outro momento, as manifestações possam retornar com mais força.

Mas, no momento, creio que o Egito está totalmente controlado pelos países da OTAN, a partir dos militares que são o verdadeiro poder.

E toda a esquerda, Samir Amin, e todos os intelectuais que apoiaram o golpe, deve sentir uma grande vergonha por sua incapacidade de entender a dinâmica do conflito.

Existem situações complexas. Obviamente na Palestina, os EUA conseguiram comprar a concordância de Mahmud Abbas para participar de um pseudo diálogo com Netanyahu. Isso sem parar os assentamentos, as construções e colônias israelenses no território palestino e a expulsão de 40.000 beduínos de suas tradicionais casas.

Abbas é um dos personagens políticos mais corruptos de toda história do Oriente Médio. Acordar uma nova fase de negociações enquanto Israel está estendendo suas colônias, me parece uma política absolutamente falida.

Na Síria, temos outro quadro, onde as forças nacionais de Bashar Al-Assad têm avançado muito. E entre a oposição agora existe uma guerra dentro da guerra, entre as forças neoliberais dos mercenários pró-ocidentais, apoiados pela OTAN, e as forças terroristas do Al-Qaeda, apoiadas pela Arábia Saudita. Estão matando entre si no Golfo. E agora, com a hegemonia dos terroristas do Al-Qaeda, existe um dilema para os países. A OTAN tem medo que muitos dos terroristas retornem com armas conseguidas pela OTAN e pelos países do Golfo e comecem outra fase da luta no Paquistão, na Jordânia e em outros países.

Então, o que fazer se os ocidentais continuam armando as forças invasoras. Vai ter um efeito bumerangue. Cedo ou tarde estas armas vão circular e voltar a desestabilizar os clientes ocidentais no mundo. No Iraque, em qualquer parte. Fortalecer os talibãs no Paquistão, no Afeganistão e, inclusive, nos países do Golfo.

Então, na Síria, o quadro é muito ruim para as forças imperiais, enquanto no Egito conseguiram uma vitória conjuntural.

E em outros países, como na Líbia e na Tunísia, continuam sem definição final. Apesar de, em determinado momento, parecerem êxitos militares e políticos do Ocidente, os regimes são muito instáveis. A Líbia está muito fragmentada. Não existe nenhuma autoridade nacional. Todos são mesclados de tribos, fanáticos e não existe nenhum futuro ocidental na Líbia.

Fonte: http://www.radio36.com.uy/entrevistas/2013/07/24/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)