“Intransigências”. Opina Alexandra Nariño, das FARC, em Havana
Publicado na segunda-feira, 02 de setembro de 2013 09:15
Se tivéssemos que definir numa palavra o comportamento e as atitudes do regime colombiano, tanto na mesa de conversações de Havana quanto no território colombiano, essa palavra seria intransigente. No dicionário, intransigente é definido como “que não transige”. Transigir, por sua vez, vem do Latim transigere e significa “consentir em parte com o que não se acredita justo, razoável ou verdadeiro, a fim de acabar com uma diferença”. Intransigente, portanto, poderia ser definido como “dito de uma pessoa que não faz concessões”.
E é essa precisamente a atitude do governo colombiano: intransigente. A elite colombiana montou um quadro triunfante, pensando que tinham “obrigado” a guerrilha a sentar-se a mesa, e que seria questão de meses, umas promessas vagas de leis transitórias e – talvez – uns bombardeios bem apontados, para obter sua capitulação final. Os “nãos” do governo faziam eco no Palácio de Convenções e ressoavam nos cantos da Colômbia e do mundo. Não à presença de Simón Trinidad na Mesa… Não ao cessar-fogo bilateral… Não às mudanças no sistema econômico… Não à constituinte… Não à participação cidadã em todos os momentos do processo…
Agora, uns meses depois, a intransigência governamental se levanta como um muro grosso, blindado, ao redor dos camponeses e setores populares nas estradas e praças públicas da Colômbia. Um muro construído de ladrilhos – “não-tem-dinheiro” e “estão-pedindo-o-impossível”, presos com cimento de criminalização e repressão violenta. Os colombianos do povo estão pedindo investimentos em saúde, em educação, em habitação, revisão dos TLC, políticas justas para os pequenos e médios mineradores, o exercício real de seus direitos políticos…
Na Mesa de Diálogos, alguns destes temas estão nas denominadas “exceções” e foram adiadas para poder dar continuidade à busca da Paz. No entanto, o povo nas ruas está mandando uma mensagem de urgência ao país e ao mundo. “Daqui nós não vamos até que se solucione nossa situação”. Simples. A miséria, a fome e o abandono não dão trégua.
Não existe saída, presidente Santos. Por onde vá, para onde olhe, vai encontrar o mesmo clamor, as mesmas exigências: políticas econômicas soberanas, baseadas no bem-estar dos colombianos, participação política real e efetiva dos cidadãos em todos os espaços, democratização das estruturas estatais… Não porque nós das FARC-EP estamos “utilizando” os pobres e ingênuos camponeses colombianos. Por que buscar o afogado rio acima?
Se inquieta o fato de que as propostas das FARC-EP em Havana se parecem muito com as reivindicações dos camponeses, mineradores, produtores de arroz, café e outros setores, eis aqui a explicação: as FARC-EP tratam de ser um canal de expressão para os colombianos do povo. Acolhemos suas propostas, que nos chegam através dos diferentes fóruns, e as temos feitas nossas, apresentando-as na Mesa de Diálogos. Porém, que fique entre nós.
A intransigência não soluciona e as promessas não convencem. Dizer que tudo será melhor, que os colombianos serão escutados, que os problemas serão solucionados, que os programas serão implantados, num cenário de “fim de conflito”, ou seja, depois da entrega de armas, é como o fumante viciado, dizer que vai deixar de fumar enquanto fuma seu último cigarro. Se queremos fazer germinar o bem e sair da rotina de dor, é preciso começar desde já.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)