O Porto do Açu como enclave estadunidense no Norte Fluminense
A definição de enclave aponta que este é um território ou trato de terra de um país, que acaba no território de outro. A recente venda do controle acionário da LL(X) para o grupo estadunidense EIG certamente apontará neste caminho, dada as peculiaridades que cercarão o controle das atividades que ali ocorrerão. Essa condição de enclave certamente aparecerá na forma de um controle ainda mais apertado do território do V Distrito, com o fechamento de áreas que tradicionalmente eram utilizadas por pescadores e agricultores, Aos esperançosos de que o funcionamento do Porto do Açu num futuro não distante representará dinamização de negócios do ponto de vista local, a análise de outros enclaves multinacionais em outros países mostra que esses enclaves acabam tendo vida própria, e não será surpresa se a EIG construir o que seria a “Cidade X” (agora provavelmente rebatizada para New USA City), onde não faltará praticamente nada do que seus funcionários julgarem essencial para a vida.
A perspectiva acima é sombria? Pode até ser, mas é para essa direção que estamos caminhando com a derrocada de Eike Batista. A nova situação em nada resolverá as aflições criadas pelos danos ambientais e sociais causados pelo Grupo EBX e pelo (des) governo de Sérgio Cabral. Aliás, a simples sinalização de que as desapropriações continuam sendo feitas, mesmo que a passo de cágado, mostra que a desterritorialização imposta sobre centenas de famílias vai continuar sendo uma marcada desse empreendimento.
Como já tive oportunidade de apontar anteriormente, a própria noção de que é possível gerar dinamismo econômico sem se preocupar com os aspectos sociais e ambientais envolvidos é uma marca do “neodesenvolvimentismo” criado por Lula e Dilma Rousseff. E o caso do Porto do Açu é provavelmente o mais próximo para quem vive na região Norte Fluminense. Agora, com a entrada do Grupo EIG, o que teremos é a chance de ver de perto como o neodesenvolvimentismo colabora para a ampliação da desnacionalização da economia brasileira e, de quebra, possibilita a tomada absoluta do controle de porções do território brasileiro por corporações multinacionais, que deles se servirão para ampliar a exploração das riquezas nacionais e aumentar as desigualdades sociais já existentes. Isto tudo em meio a condições de ampliação da degradação e dos custos ambientais desses empreendimentos.
Por Marcos Pedlowski,
prof. da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos-RJ
O Porto do Açu como enclave estadunidense no Norte Fluminense