A direita, o fascismo e a vaia contra a Dilma: colhendo o que plantou! ou Quem está fortalecendo a direita no Brasil?
Será que podemos criticar o governo?
Nossa pretensão é só levantar alguns problemas para que possamos tentar elaborar uma avaliação mais crítica sobre o que se passou na abertura da Copa da FIFA/grandes empresários. Sabemos que em ano eleitoral algumas pessoas e organizações que se intitulam de “esquerda” proíbem/inibem/menosprezam/desestimulam/secundarizam debates mais ligados à estratégia política revolucionária ou à luta pelo socialismo e se submetem a um taticismo exacerbado, com uma obcessão explícita em ganhar as eleições a qualquer custo, mesmo que para isso ocorrer seja necessário abandonar programas e princípios. Até forças minoritárias anticapitalistas que atuam dentro de organizações nacional-desenvolvimentistas/reformistas/social-democratas/social-liberais, ao fazer a crítica a suas direções, ficam só na retórica e acabam aceitando e capitulando, entrando de corpo e alma na campanha eleitoral mesmo sabendo que os candidatos majoritários não defendem reformas estruturais e muito menos o socialismo.
Esses setores não-revolucionários tem feito uma pressão intensa contra a esquerda anticapitalista (que é um campo político amplo) que faz críticas ao governo Dilma e à sua postura em relação à Copa da FIFA. Intelectuais reformistas/oportunistas (no sentido leniniano dos termos) gastam tinta e tempo todos os dias nas redes sociais para difamar e caluniar qualquer militante ou movimento que faça uma crítica à Copa da FIFA. Sobrou até para o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), um dos mais legítimos movimentos de luta por moradia existentes no Brasil da atualidade (não é o único). Numa marcha pela moradia da ocupação Copa do Povo, em Itaquera/São Paulo, alguns defensores do governo Dilma se levantaram num só coro e em pânico pela possibilidade do MTST ocupar o “Itaquerão”, ação que nunca havia sido cogitada pelas lideranças do movimento, que tinham em sua marcha até integrantes da torcida Gaviões da Fiel. Esses “espadachins do grande capital” (ou do pequeno e médio capital) a serviço do governo e, indiretamente e voluntariamente, da FIFA, plantam todos os dias notícias eufóricas sobre o clima da Copa em páginas do facebook de movimentos sociais, inundando tais espaços com notícias que exaltam uma campanha de inspiração nacional-fascista-ufanista que tenta demonstrar que cada vez mais “somos todos um só”. Esse ufanismo nacional-desenvolvimentista geralmente cria condições mais favoráveis para o crescimento e avanço do fascismo do que as avaliações críticas contra o governo Dilma e contra a Copa da FIFA.
Espero que vários militantes de movimentos e organizações anticapitalistas façam e divulguem suas avaliações, principalmente aqueles e aquelas que estão construindo no dia-a-dia das lutas concretas, nas ruas e marchas, a nova vanguarda política e social que continuará a fazer as mobilizações imediatas por melhores condições de vida e trabalho ao mesmo tempo em que debate programa, princípios e estratégia, tratando tudo isso como parte de um único processo: a construção das condições mais favoráveis para o desencadeamento da tão desejada Revolução Brasileira.
Para os setores não-revolucionários resta só a ironia, o deboche, a desqualificação de qualquer divergência e a calúnia, tentando identificar/associar qualquer crítica ao governo Dilma e à Copa da FIFA a uma atitude “golpista” ou que só “ajuda a direita”. Tais setores estão – conscientes ou não disto – se aproximando e fazendo a política da direita e de pessoas e organizações que também não votam em Dilma, mas toleram a Dilma e seu governo diante de uma ameaça dos movimentos legítimos da classe trabalhadora (MST,MTST, movimento sindical, etc…). É de causar indignação e revolta ver e ouvir gente que se diz socialista ou comunista tratar com ironia ou mesmo apoiar a ação da tropa de choque contra os jovens que protestavam próximo ao Sindicato dos Metroviários de SP no dia da abertura da Copa da FIFA, depois de terem sido cercados/sitiados pela PM dentro do sindicato e atacados mais uma vez, de maneira covarde e extremamente violenta (como sempre tem ocorrido).
Quem vaiou Dilma?
Algo previsto se tornou realidade. No dia 12 de junho de 2014, na abertura da Copa da FIFA e dos grandes empresários, a presidenta Dilma foi vaiada e xingada, e de tabela, sobrou também ofensas para o presidente da FIFA, Joseph Blatter. É preocupante a avaliação que setores nacional-desenvolvimentistas/reformistas/social-democratas (N-D, R, S-D) que se autointitulam de “esquerda” tem dado ao fato, pois tentam resumir o fato a uma postura de “uma elite que é contra o PT e contra o governo” (como se não houvesse gente da elite dentro do PT e dentro do governo). Temos que avaliar quais foram as circunstâncias e as condições que favoreceram tal manifestação de setores majoritariamente burgueses presentes no interior do Estádio em Itaquera-São Paulo? E também precisamos identificar quem foram os responsáveis para facilitar o acesso desses setores elitistas/burgueses tradicionalmente racistas e com inclinações fascistas à Copa da FIFA? Quais as condições e quem foram os responsáveis? Poderia ter sido diferente?
Com o preço cobrado pelos ingressos, e com a política da FIFA de colocar à venda somente 45% dos mesmos, distribuindo o restante para as empresas patrocinadoras da Copa, o que vimos foi uma plateia branca e burguesa, portanto, conservadora e com tendências fascistas. A classe média/classe média alta/pequena/média burguesia e representantes do grande capital foram e serão o público majoritário nas arquibancadas, gerais e camarotes da Copa da FIFA. Com um público deste, uma pesquisa eleitoral nas portas do “Itaquerão” poderia dar vitória no primeiro turno para o Aécio Neves (PSDB), sem dúvida o candidato dos setores mais reacionários da política nacional.
O que queremos dizer com tudo isto é que foi o próprio governo Dilma que aceitou e se submeteu às condições impostas pela FIFA, e aproveitou o momento para garantir lucros exorbitantes para as grandes empresas que vão financiar a campanha presidencial e de seus candidatos aos governos estaduais, além dos deputados e senadores. Ao manter o preço elevado, e fazer concessões inadmissíveis à direção da FIFA, o governo criou as contradições que se revelaram em diversos momentos da cerimônia de abertura da Copa. Portanto, colheu no dia 12 o que plantou nos últimos meses. O governo Dilma ajudou a colocar os fascistas-burgueses/burgueses-fascistas para dentro dos estádios. E esse é um fato inquestionável. Onde estava a base social que ajudou a eleger Dilma? Fora dos estádios, em casa, nos bares ou contemplando o prêmio de consolação dado por algumas prefeituras, que contrataram em regime de urgência empresas privadas para instalar telões em praça pública (ou ajudaram a patrocinar as festas da FIFA). Ou seja, a classe trabalhadora e as massas populares que elegeram Lula e Dilma ficarão para fora dos estádios. Estão excluídos da Copa da FIFA.
O povo brasileiro ficou do lado de fora, mas mesmo excluído torceu pela vitória
Não haviam negros ou indígenas/povos originários, nem sem terra, nem sem tetos, nem quilombolas, nem ribeirinhos ou atingidos por barragens, nem trabalhadores assalariados de setores mais pobres e/ou populares da nação. Uma arquibancada elitista, mas de uma elite que ganhou de presente do governo a Copa. A Copa das Elites não poderia permitir a entrada de setores proletários-populares, que só pisaram no estádio para limpar os banheiros, recolher o lixo e realizar tarefas que pudessem tornar mais agradável a vida das elites presentes. E quem foi cúmplice e aliado da FIFA neste processo de exclusão? O governo Dilma, com destaque para o Ministério dos Esportes, do membro da bancada ruralista de São Paulo, deputado Aldo Rebelo.
Quando entraram as crianças fazendo embaixadinhas com as bolas, só uma única menina. Pergunta: num Brasil com tantas meninas jogando bola, com uma seleção feminina campeã mundial, será que não era possível ter mais meninas com a bola nos pés? Se o governo de uma presidenta não aproveita momentos como este para criar espaços para projetar as mulheres dentro do futebol, quando as meninas da seleção feminina vão ter, de fato, o apoio e o estímulo necessário para praticarem esse belo esporte em condições mais dignas? Pisou na bola Dilma. Depois não sabe por que cresce a violência contra as mulheres e o machismo no Brasil. Nos campinhos de terra e grama ou nas quadras de cimento ou grama sintética do Brasil são milhares as mulheres jogando bola. Só o governo que não vê.
Num Brasil com tanta qualidade musical, com tantos artistas verdadeiramente populares e comprometidos com a difusão de uma cultura nacional-popular, a Copa da FIFA no Brasil impõe que três contratados pelas empresas patrocinadoras da Copa cantem na abertura, e o pior é que nem cantaram, pois tudo já estava gravado previamente e as vozes se confundiram numa medíocre apresentação marcada pela farsa. O governo não lutou contra a FIFA para cavar espaços para tornar a abertura da Copa mais popular e mais brasileira. Submissão total e absoluta à FIFA e às grandes empresas, pois são as mesmas que vão financiar a campanha da reeleição.
Mais repressão e violência contra a esquerda e os movimentos da classe trabalhadora
Uma crescente onda de criminalização do protesto social toma conta do Brasil. Todos os indivíduos e organizações que estão lutando por transformações sociais estão sentindo a violenta perseguição e repressão do poder judiciário, das polícias militar, civil, federal e Força Nacional de Segurança que, aliados com os governos municipais, estaduais e federal e a mídia empresarial-burguesa, atacam todos os dias os que fazem greves, marchas, ocupações, mobilizações. A crescente violência policial contra as manifestações também é praticada contra todos os pobres do campo e da cidade, principalmente contra a juventude pobre e negra dos bairros da periferia. Policiais matam milhares de jovem dessas comunidades todos os anos. No Rio de Janeiro, em dez anos de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), um projeto do governo Lula inspirado na Colômbia (o país mais antidemocrático da América do Sul, com 7 mil presos políticos), o resultado foram mais de 10 mil mortes de moradores das comunidades onde existem UPPs. A Polícia Militar nos estados vem adquirindo mais força e influência no interior dos governos, recebem apoio estrutural e financeiro, mesmo quando existem nos estados escolas sem carteiras para os estudantes ou hospitais públicos estaduais sem remédios ou equipamentos fundamentais. Não falta dinheiro para as PMs. O maior volume de recursos que os governos destinam à Segurança Pública é aplicado nas PMs, fato que só fortalece a militarização deste setor. As PMs são instituições conservadoras, decadentes e reacionárias, que mereciam já ter desaparecido se o Brasil estivesse num regime verdadeiramente democrático. Para a maioria dos governos no Brasil, nas três esferas, lutas sociais se resolve com polícia e repressão. Militantes são perseguidos, presos, processados, condenados, associados com o crime organizado, como fizeram agora setores da mídia e dos governos estadual de São Paulo e federal, lançando comentários sobre a possibilidade de relação entre os Black Blocs e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A militarização de diversas esferas da vida social está em pleno desenvolvimento no Brasil. As PMs são uma força maior e mais poderosa do que as próprias Forças Armadas. Nada, nem ninguém, está conseguindo conter a repressão policial e controlar as operações da polícia. Os casos da repressão em São Paulo e Rio de Janeiro merecem um estudo mais aprofundado. As PMs estão em permanente treinamento de combate contra uma possível situação de rebelião popular, pouco se importando com a garantia da Segurança Pública. Mobilizam mais efetivos para um despejo de sem terra ou sem teto, ou para uma manifestação contra a Copa do que em uma operação contra organizações consideradas criminosas ou no combate ao narcotráfico.
Também as Forças Armadas estão participando de maneira ativa e organizada na repressão às lutas sociais. Os Batalhões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) são tropas de choque para conter “distúrbios civis”, ou seja, mobilizações sociais. Essa é a função do Exército? E ganhou força no interior do Exército e da Marinha uma linha de pensamento que pretende alterar a Constituição para que as Forças Armadas possam ter poder de polícia e atuar na Segurança Pública, o que já é uma realidade nas ocupações de morros e comunidades no Rio de Janeiro e outros estados, nas operações realizadas no Haiti (ocupação de bairros da periferia, repressão às mobilizações sociais, prisões de lideranças populares, etc) e nas operações conjuntas com PM durante grandes eventos como Olimpíadas e Copa. As Forças Armadas seguem sendo um espaço privilegiado de reprodução da ideologia da classe dominante em seus aspectos mais conservadores e reacionários. Qualquer soldado que manifeste publicamente simpatia por ideias progressistas e/ou de esquerda pode ainda, em muitos quartéis, receber algum tipo de punição. Esse conservadorismo e postura antidemocrática e antipopular no interior das Forças Armadas se desenvolve de diversas maneiras.
Por exemplo, em 2004, quando se completou 40 anos do golpe, a Revista do Exército Brasileiro, publicada pela Editora Biblioteca do Exército (Bibliex), fez uma edição especial, homenageando em sua capa e com textos o General Castelo Branco, nada menos que um dos atores principais no golpe de 64. Essa editora publica também a Revista Defesa Nacional, e uma grande quantidade de livros que servem de bibliografia básica na formação de oficiais das Forças Armadas. Basta qualquer membro dos governos Lula e Dilma visitarem as bibliotecas das escolas de formação da Marinha, Exército e Força Aérea para ver o que se está ensinando nas escolas militares. Vejam o plano de ensino dos professores e sua bibliografia. Desde 2004, ou seja, durante o próprio governo Lula, até hoje, uma série de livros da Bibliex estão fazendo o que eles próprios chamam de “revisão” da história do Brasil, contando a mesma na perspectiva dos golpistas de 1954, 1955, 1961, 1964. E essas revistas e essa editora Bibliex são mantidas com dinheiro público, pois são ligadas ao Exército brasileiro. Então quem é que está fortalecendo a direita no Brasil? Quem luta contra a Copa da FIFA? Em 2009 estivemos com outros brasileiros em Honduras, para nos juntarmos ao povo na luta contra o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya. Qual não foi a nossa surpresa que o governo golpista daquele país fez uma homenagem a um tenente-coronel do exército brasileiro que estava lá dando aulas na escola de formação de oficiais do exército de Honduras, fruto de um convênio entre os dois países. Na semana em que o presidente Lula condenava energicamente o golpe esse oficial do seu exército, cujo comandante-mor é o presidente da República, aparecia na televisão de Honduras e escrevia na internet textos de elogio aos golpistas e críticas a Manuel Zelaya. O que aconteceu com este tenente-coronel? Nada. Então, companheiros e companheiras, quem está, nos últimos anos, fazendo o jogo da direita?????
Uma última sobre a BIBLIEX. Ela publicou uma coleção de 14 livros com o título “1964: 31 de Março – História Oral do Exército”. Este é o título que está na capa, mas quando abrimos na primeira página vem um subtítulo assim “O Movimento Revolucionário e sua história”. Na orelha do Tomo I está escrito: “Na manhã do dia 31 de março de 1964, ocorreu a deflagração de um Movimento Revolucionário que trouxe imenso alívio à Nação Brasileira, antes ameaçada por um golpe de inspiração comunista, em avançado estado de preparação”. Esses 14 livros vem sendo usados, desde 2003, quando foram publicados, nas escolas militares de todo o Brasil. Eles trazem entrevistas, textos e documentos fundamentais para entender o pensamento conservador-reacionário-golpista. Fazem exaltação e elogios aos golpistas de 31 de março. Rendem homenagens aos ditadores e a governos que praticaram a tortura, o assassinato, o sequestro e o desaparecimento de cadáveres, como se comprova através do trabalho das várias Comissões da Verdade existentes hoje no Brasil. Todas as entrevistas são com participantes ativos do golpe e simpatizantes. Tudo financiado com recurso público, seja a produção, seja a divulgação da obra. E tudo isso durante os governos Lula e Dilma. Outros livros “interessantes” dessa Editora enaltecem comandantes militares nazistas e as batalhas vencidas na Espanha pelos fascistas do General Franco. Como é possível num governo considerado democrático o dinheiro público financiar a publicação de textos que são um instrumento de propaganda conservadora e golpista. Tem livros elogiando a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e as ações dos governos dos EUA e da Colômbia na repressão contra as “narcoguerrilhas de esquerda”. Ainda assim, alguns insistem em afirmar que os Black Blocs e outros grupos e movimentos é que fazem o jogo da direita.
Não é só pelo dinheiro público gasto que somos contra a Copa da FIFA, nossa crítica é porque esta iniciativa está fortalecendo a burguesia e os setores fascistas de dentro e de fora do (s) Estado/Governos
Setores mais conservadores estão se reagrupando/reorganizando, pois temem que o país possa viver por muitos anos uma situação onde na política predomine ou a hegemonia de uma esquerda reformista/nacional-desenvolvimentista/social-democrata ou ideias de uma esquerda anticapitalista, que hoje não está na direção de amplos setores da classe trabalhadora mas que pode acumular forças nessa direção nos próximos anos.
A Copa se transformou num momento propício para que setores reacionários estimulem/provoquem conflitos entre as distintas organizações da esquerda brasileira, seja a reformista, seja a anticapitalista, pois assim podem encontrar espaços favoráveis para a difusão de alternativas conservadoras. Mas quem mais criou condições para o avanço de posições conservadoras na política nacional foi o próprio governo federal, com suas alianças em nível nacional e nos estados e municípios, sem falar do dinheiro que o mesmo gasta para sustentar o Partido da Imprensa Golpista (PIG), pois nas páginas de Veja, Época, Estadão e Folha estão propagandas de página inteira da Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Ministério da Educação, etc. A Veja cedeu, em junho de 2013, em plena mobilização pelo passe livre, até as suas páginas amarelas para o Ministro da Comunicação atacar os “xiitas do PT” (segundo ele) que querem a democratização dos meios de comunicação. A Rede Globo de Comunicação, que muitos apoiadores do governo Dilma chamam de antidemocrática e golpista, é financiada pelo próprio governo federal, que paga para inserir propaganda da Petrobrás no intervalo dos jogos da Copa da FIFA. Quanto custa uma inserção de propaganda neste horário na Globo? Certamente a presidenta da Petrobrás deve saber o valor.
Não precisamos aqui falar dos quantos banqueiros e grandes empresários que foram beneficiados com as obras da Copa, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida, etc. Em vez de criar empresas públicas para a realização de tais obras, com custo menor e maior atendimento das demandas sociais, em vez de estatizar os setores fundamentais da economia como o cimento (que segue sob o controle de monopólio) e outros, para ter controle sobre as matérias-primas e o processo de produção, fortalecendo assim a capacidade de controle e gestão do governo sobre as iniciativas econômicas e os projetos relacionados à infraestrutura, a opção foi a entrega desses setores ao grande capital nacional e estrangeiro.
As grandes construtoras lucram bilhões, e contratam/subcontratam empresas menores, que aplicam a terceirização/quarteirização, violam os direitos trabalhistas e não se preocupam em garantir um trabalho decente, mantendo níveis absurdos de precarização do trabalho e desrespeito à legislação trabalhista, que são as causas das mortes de operários nas obras do PAC e da Copa. Mas nem os crescentes acidentes de trabalho ou mortes no trabalho sensibilizaram o governo federal. Os operários mortos foram escondidos durante a cerimônia de abertura da Copa. Nenhuma referência. Nenhuma homenagem. Já esperávamos por isso.
Vamos às ruas garantir nosso direito à manifestação, nosso direito de criticar a Copa nas condições em que a mesma está sendo realizada
Vivemos um novo ciclo de lutas políticas e sociais no Brasil. Abriu-se um novo período de mobilizações. Quem não perceber esta nova situação perderá, mais uma vez, o bonde da história. Uma nova vanguarda política e social está nascendo das lutas pelo passe livre, contra o genocídio da população pobre-negra das periferias, das lutas em solidariedade aos povos indígenas/originários, das mobilizações dos sem teto, pela desmilitarização das polícias, por um transporte público de qualidade, por educação e saúde, etc… São lutas cotidianas, muitas vezes iniciadas de maneira desordenada/desorganizada, mas que vão tomando forma e conteúdo à medida que vão amadurecendo, adquirindo experiência organizativa e forjando novos militantes para as lutas futuras. Muitos jovens militantes foram para as ruas desde junho de 2013. Muitos continuam nas ruas. A intensa repressão afastou das ruas um setor mais inexperiente, menos consciente e menos convicto da possibilidade de vitória. São muitos os presos e processados da jornada de junho. Muitos torturados, homens e mulheres. As PMs de todo o Brasil se tornaram uma força política-militar de combate de inspiração plenamente fascista e são hoje a maior ameaça à democratização do país. E o Ministro da Justiça do governo Dilma, que ofereceu ajuda para o governador de São Paulo reprimir o MPL e as lutas em junho de 2013, em junho de 2014 ofereceu ajuda para Alckimin reprimir a greve dos Metroviários de São Paulo. Com um Ministro que acha que insatisfação social se resolve com mais polícia na rua podemos esperar o que?
Quer quiser apoiar e votar na Dilma fique à vontade, mas não se engane quanto a quem é o principal inimigo das forças progressistas, populares e de esquerda (das mais diversas matizes). Não são os sem teto, os sem terra, os metroviários, os indígenas, os quilombolas, os garis, os condutores, os jovens que lutam contra a Copa da FIFA, os Black Blocs ou qualquer grupo que luta nas ruas contra a polícia e as injustiças sociais. Os inimigos do povo estão nos parlamentos (onde são maioria), no judiciário, na mídia e dentro dos próprios governos, inclusive do governo federal. Estão na presidência do Senado e da Câmara Federal, nas Assembléias Legislativas e governos estaduais e municipais.
As reformas estruturais que queremos serão arrancadas da classe dominante pela luta de massas, nas ruas, marchas, nos campos e favelas/comunidades, e serão resultado da unidade da população das periferias com as organizações populares e de esquerda (da esquerda anticapitalista), e com os pobres das áreas rurais. Essa tentativa de aliança das massas populares da cidade e do campo, encontro promovido por organizações anticapitalistas, deve ser o centro de nossas atenções para o próximo período. Unir a classe trabalhadora na luta por transformações sociais, essa é nossa tarefa, mesmo em condições de dura repressão e perseguição, pois é o que nos espera. As ruas de hoje se tornaram uma intensa escola de formação política e de quadros, com militantes que não ficam esperando a “ordem” ou o “comando” de seus “dirigentes” para enfrentar nas ruas os representantes do capital. São jovens que tem coragem, tem iniciativa, tem ousadia, qualidades que não mais encontramos em muitos dirigentes burocráticos e reformistas que se perpetuam em posições importantes de inúmeros movimentos da classe trabalhadora. Esses jovens que são criticados até por alguns militantes/dirigentes de “esquerda” foram os que tiveram a belíssima iniciativa de organizar em março deste ano a Marcha Antifascista, que ocorreu em todas as capitais do país para repudiar o golpe empresarial-militar de 31 de março de 1964. Na convocatória da Marcha um apelo à unidade antifascista, pedindo para que “comunistas, anarquistas, libertários, trotsquistas, sindicalistas, movimentos populares”, etc, fizessem um ato contra setores reacionários e golpistas que tentaram reeditar (mas fracassaram) as Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Esses são os jovens que lutam contra a Copa da FIFA, e que num momento tão importante como foi o mês de março, não se esqueceram de homenagear quem perdeu a vida e a liberdade para que hoje pudéssemos estar aqui, continuando a batalha pelo socialismo. Só coragem, ousadia, criatividade e iniciativa são insuficientes para uma vitória da classe trabalhadora. É preciso também organização, unidade, mobilização permanente, etc.
E não falamos aqui das reformas estruturais não realizadas, o abandono da reforma agrária, o não cumprimento do Estatuto das Cidades e a não realização da reforma urbana, o apoio e a cumplicidade do governo federal e governos estaduais para com os grandes empresários do ensino privado, que não pagam impostos e recebem milhões do governo federal oferecendo cursos de baixa qualidade e péssimas condições de trabalho aos docentes, os problemas concretos nas áreas de educação, saúde e transporte, a manutenção de inúmeros privilégios para a burocracia governamental que está em cargos indicados pelo governo e seus aliados, a manutenção de posturas e relações promíscuas entre membros dos governos e empresas privadas, etc…
Quem quer construir uma nova sociedade tem que evitar o reformismo e o sectarismo. O momento eleitoral não pode nos desviar das questões fundamentais da luta de classes. Para a esquerda anticapitalista só importa a luta eleitoral se a mesma estiver subordinada a uma estratégia política revolucionária, e se for possível aproveitar o momento das eleições para elevar o nível de consciência política das massas,organizar lutas concretas, formar novos militantes e debater um programa de transformações para o país que esteja em sintonia com as condições objetivas e subjetivas.
Para os partidos que viraram máquinas eleitorais financiadas por grandes e médios empresários a batalha principal não está nas ruas, está nas urnas, pois vivem de dinheiro, propaganda/mídia e alianças espúrias com os inimigos do povo, para assegurar uma vitória à qualquer custo. Para estes fica a pergunta: quem está mesmo fortalecendo ou fazendo o jogo da direita??????
a capacidade de e as mate monto das demandas sociais, em vez de estatizar os setores fundamentais da econo
1 – Marcelo Buzetto é militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP e Coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELAM) do Centro Universitário Fundação Santo André/SP. Junho/2014.