Por que a resistência da esquerda venezuelana é maior que a da brasileira?
por Breno Altman
1. Porque os governos chavistas investiram, desde o primeiro momento, na pedagogia de massas, na mobilização e no enfrentamento político-ideológico, criando uma forte identidade de parte da sociedade com o processo que dirigiam, ao contrário do que fizeram os governos petistas, que apostaram suas fichas principais não no conceito de identidade, mas no de gratidão: uma boa administração, que trouxesse melhorias de vida para os pobres, sem guerrear com os ricos, seria suficiente para ter base social e eleitoral, evitando conflitos e rupturas.
2. Os governos chavistas aproveitaram todas as chances que tiveram para colocar os aparatos judiciais e repressivos do Estado sob o controle estrito da revolução bolivariana, impedindo que fossem usados na estratégia de sabotagem promovida pelas elites e o imperialismo. Os governos petistas, aprisionados à certa influência liberal desde os anos 80, reforçaram a autonomia desses aparatos, entregando seu controle às corporações, resultando em sua utilização para combater e desgastar o petismo até a medula, através da Operação Lava Jato.
3. Os governos chavistas, para além de democratizar a mídia, através de legislação para a qual eventualmente o petismo não teria maioria parlamentar, direcionou recursos publicitários para fortalecer a mídia progressista, retirando do orçamento todos os meios golpistas.
4. Os governos chavistas tinham claro que a disputa de hegemonia, mais cedo ou mais tarde, levaria à colisão aberta contra as classes dominantes locais e seus aliados externos, e para tanto se prepararam. Os governos petistas aparentemente abraçaram a ilusão que seria possível domesticar a burguesia brasileira, oferecendo-lhes compensações aos enormes ganhos de renda do trabalho, diretos e indiretos, que efetivamente promoveram, assim evitando o confronto aberto.
5. Os governos chavistas estruturaram sua cultura política ao redor da ideia de revolução, o que orienta a estratégia e a tática para uma lógica de embate, com a mobilização permanente das massas assumindo protagonismo. Revolução nunca foi o horizonte ideológico e cultural do petismo majoritário, característica que costuma levar ao predomínio absoluto da tática sobre a estratégia, ao afrouxamento da luta política e à crença excessiva nas manobras de curto prazo.”
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