Os comunistas e as eleições na Argentina

Por Túlio Lopes – membro do Comitê Central do PCB
No último domingo, 27 de outubro de 2025, realizaram-se às eleições parlamentares na Argentina. Com recorde de abstenção onde apenas 66% dos eleitores compareceram às urnas, os/as eleitores/as renovaram 127 das 257 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 das 72 vagas no Senado Nacional.
A vitória do agrupamento político partidário A Liberdade Avança, liderado pelo atual presidente argentino Miley, representa o crescimento e a consolidação de um governo de extrema-direita na Argentina. Uma derrota para os povos de nossa américa. Na disputa pelo Senado Nacional A Liberdade Avança obteve 2.193.752 (42,03%) dos votos e na disputa pelos deputados nacionais obteve 9.341.798 (40,65%) dos votos. Em segundo lugar ficou o agrupamento nacionalista (Peronista/Kirchnerista) Força Pátria. Em terceiro lugar na disputa pelo Senado Nacional figurou a Frente Cívico por Santiago com 322.603 (6,18%) dos votos e na disputa pelos deputados nacionais o agrupamento Províncias Unidas com 1.140.936 (4,96%).
Os dois principais polos da esquerda argentina, os peronistas/kirchneristas e os trotskistas, mantiveram sua margem histórica de votação. A Frente Pátria (Ex-União ela Pátria), que agrega o Partido Justicialista (Peronista e Kirchnerista), a Frente Renovador (Massista), os Partidos Comunistas (PCCE e PCR), outros grupamentos políticos e importantes organizações sindicais e sociais obtiveram 1.211.630 (23,21%) dos votos para o Senado Nacional e 5.587.521 (24,31%) dos votos para Deputados(as) Nacionais. A Frente de Esquerda (Trotskista e Trotskista Morenista) obteve expressivos 143.417 (2,74%) dos votos para o Senado Nacional e 853.680 (3,71%) dos votos para Deputados(as) Nacionais.
Outras organizações de esquerda e centro-esquerda obtiveram resultados pouco expressivos. Na disputa pelo Senado Nacional o Partido Socialista (OS) obteve 24.314 (0,46%) dos votos; o Movimento ao Socialismo (MAS), 22.314 (0,43%); a Nova Esquerda, 19.185 (0,36%); Política Operária (PO), 12.020 (0,23%); Partido del Obrero, 10.181 (0,19%); A esquerda na Cidade, 9.572 (0,18%). Na disputa para deputados nacionais, o Movimento ao Socialismo (MAS) obteve 97.695 (0,42%), o Partido Socialista (PS) 25.923 (0,11%), o Política Operária 23.613 (0,10%) e o Nueva Esquerda (MST) 23.215 (0,10%) dos votos. O Partido Comunista obteve 3.139 votos (0,06%) e, para deputados nacionais, 3.000 votos (0,01%).
Apesar da derrota eleitoral, a “esquerda” argentina mantém sua força política e social. Ao todo, as forças nacionalistas, de centro-esquerda, extrema esquerda, socialistas e comunistas obtiveram 1.455.772 votos para o Senado Nacional e 6.614.647 votos para Deputados Nacionais. Uma votação significativa e expressiva. Porém, insuficiente para derrotar o projeto ultraliberal, autoritário, pró-sionista e pró-imperialista. Cabe destacar a abstenção, que chegou a 34% do eleitorado.
Os comunistas argentinos e as eleições parlamentares
Na atualidade quatro organizações políticas reivindicam o comunismo na Argentina. O tradicional e histórico Partido Comunista da Argentina lançou candidaturas próprias para deputados(as) e senadores(as). Estas candidaturas representam um fato histórico: após décadas compondo organicamente uma frente ampla com os peronistas e kirchneristas, os comunistas do Partido Comunista da Argentina lançaram suas candidaturas. Na disputa pelo Senado Federal o Partido Comunista obteve 3.139 votos (0,06%) e para deputados nacionais 3.000 votos (0,01%).
Os comunistas do Partido Comunista Revolucionário (PCR) – Partido del Trabajo y del Pueblo, de inspiração maoísta, fundado em 1968, e o Partido Comunista (Congresso Extraordinário) – Partido Comunista Autêntico (PCCE), fundado em 1966, apoiaram as candidaturas da Fuerza Patria. Os comunistas do autodenominado Partido Comunista Argentino (PCA) defenderam e fizeram campanha pela abstenção e pelo voto nulo. O slogan principal deste pequeno agrupamento sectário e ultraesquerdista foi “Los comunistas no votamos, o votamos nulo!” e “La solución no está en las urnas” chegando a afixar cartazes em cima dos cartazes da aliança peronista/kirchnerismo Fuerza Pátria.
A ausência de um Partido Comunista de massas na Argentina, a dispersão e a pulverização dos comunistas e a ausência de uma Frente Única da Esquerda inviabiliza uma ação unitária da esquerda e um papel protagonista dos comunistas frente a um cenário político de polarização, crescimento e consolidação da extrema-direita.
