Um mar de gente contra o fascismo na Argentina
Créditos/ Resumen Latinoamericano
ABRIL ABRIL
Centenas de milhares de pessoas mobilizaram-se em Buenos Aires e por todo o país contra o ódio e a violência da extrema-direita, no âmbito da Marcha Federal do Orgulho Antifascista e Antirracista.
Mesmo sob intenso calor estival e um sol sem dó, cerca de 500 mil pessoas, membros de organizações de direitos humanos, feministas, LGTBIQ+, juvenis, estudantis, sociais, sindicais, partidárias e cidadãos a título individual, marcharam na capital argentina, no dia 1º de fevereiro, sábado, desde o Congresso até a Praça de Maio, unidas pela defesa da democracia e contra o governo de Javier Milei, ao qual chamaram «lixo» e «ditadura».
A enorme mobilização de Buenos Aires teve «réplicas» pelo país fora, onde o Tiempo Argentino estima que se tenham manifestado mais de um milhão e meio de pessoas, e também em vários pontos do mundo.
Como denominador comum, o repúdio às políticas do atual governo argentino e às declarações do presidente Milei contra as mulheres, homossexuais e pessoas LGBTIQ+, pronunciadas no Fórum Econômico de Davos.
As organizações promotoras da Marcha consideram alarmante a intenção do executivo de excluir o assassinato de mulheres («feminicídio») do Código Penal, tendo alertado também que estão em risco leis para prevenir e erradicar a violência contra as mulheres, para promover a educação sexual, combater a discriminação e garantir o acesso de todas as pessoas a um posto de trabalho.
Em comunicado, a Frente Nacional Orgulho e Luta exigiu que os grupos parlamentares se comprometam a não votar contra as conquistas alcançadas nos últimos anos pelas mulheres e grupos discriminados.
«O discurso de Milei não só reforça o desmantelamento das políticas de gênero, diversidade, étnico-raciais e de Memória, Verdade e Justiça, mas também fomenta o ódio num contexto de crise econômica que agrava a falta de acesso a direitos básicos», alerta a Frente.
«Se o presidente se exprime em termos prejudiciais, a convivência social é afetada. Não devemos normalizar isso. Se o fizermos, quando a perseguição e a violência se intensificarem, será tarde demais», acrescenta.
Defender direitos conquistados, dizer «basta» ao ódio
No final da mobilização, María Rachid, presidente da Federação Argentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans (FALGBT), declarou que «a marcha foi enorme» e que «é expressão de uma sociedade que não vai renunciar à diversidade e à igualdade».
«Al fascismo nunca más. Basta con la motosierra: no a los discursos de odio», «Cansados pero jamás derrotados», «Por jubilaciones y pensiones dignas», «La Argentina nunca será fascista» ou «Mariconazos sí, mariconazis no» foram algumas dos lemas proclamados na marcha, que Ricardo Vallarino, um dos representantes da Frente Nacional Orgulho e Luta, classificou como «a marcha das nossas vidas», acrescentando que «o fascismo não passará».
Os manifestantes exigiram igualmente o respeito por direitos fundamentais como a saúde, a educação, a inclusão social ou a reforma (aposentadoria). «Não podemos ficar indiferentes. Os discursos de ódio geram violência. Vim com a minha família e amigos defender os nossos direitos», disse uma das participantes na marcha, não identificada.
Por seu lado, René, salvadorenho residente há oito anos em Buenos Aires, sublinhou a necessidade de defender os direitos dos migrantes, lembrando como estes se tornam bodes expiatórios e como os discursos de ódio crescem em toda a América Latina.
Já Brian, argentino de 25 anos, disse que se mobilizou porque está preocupado com «o retrocesso que significa o discurso de ódio de Milei». E acrescentou: «Dias depois do seu discurso [em Davos], um homem ateou fogo à casa de duas lésbicas.»