Argentina: milhares na marcha da saúde
Argentina: milhares na marcha da saúde
“Os cortes matam”
Imagem: Marcha Federal em defesa da Saúde Pública, em 27 de Fevereiro de 2025
Créditos: Edgardo Gómez / Tiempo Argentino
AbrilAbril
Do Ministério da Saúde até à Praça de Maio, em Buenos Aires, foram muitos milhares a contestar as políticas de Milei e a gritar que «a austeridade mata». Houve protestos por toda a Argentina.
Na capital federal, apesar do intenso calor estival e da humidade, médicos, enfermeiros, trabalhadores administrativos, assistentes sociais, psicólogos e populares juntaram-se em frente ao Ministério da Saúde, na quinta-feira dia 27/02, antes de seguirem em marcha até à Praça de Maio.
Ao ministro da Saúde, Mario Lugones, protegido por uma operação policial vistosa, encheram-lhe as orelhas com mimos e palavras de ordem em defesa da saúde pública. Fernanda, trabalhadora do Hospital Muñiz, declarou à imprensa que Lugones «é um empregado do setor privado, que pensa a saúde como um negócio e que ainda passa a vida a mentir para justificar a destruição da saúde pública, gratuita e de qualidade».
Em seguida, a trabalhadora social enumerou um sem-fim de malfeitorias, como cortes nos programas de VIH e de tuberculose, a falta de vacinas e de medicamentos oncológicos, o ataque ao Instituto Nacional do Câncer e as negociações salariais em saldos.
Outra trabalhadora disse ao Tiempo Argentino que a tudo isto o ministro «se faz de surdo, às necessidades dos trabalhadores e dos cidadãos que utilizam os serviços públicos».
No grosso da manifestação, a caminho da Casa Rosada, seguiam a Asociación de Profesionales y Técnicos del Hospital Garrahan (APyT), trabalhadores demitidos do Ministério da Saúde, trabalhadores dos hospitais Posadas, Laura Bonaparte e Sommer, bem como organizações de defesa da saúde e dos trabalhadores de todo o país.
Damián, médico, filho e neto de médicos, seguia na marcha resguardada por muita polícia e falou do presente: «Este governo entende a saúde como uma despesa, como mais um negócio. Milei e Lugones fazem parte desta pantomina que é o capitalismo no presente, levam-nos até ao fim. Na saúde e na educação está em jogo a democracia. É preciso defendê-la nas ruas.»
As Mães da Praça de Maio também se juntaram à marcha. Uma criança mostrou um cartaz alertando que «os cortes na saúde matam» e acusando o ministro Lugones de ser um «Menguele».
Camila, de Rosario, e Juan, de Córdoba, lutam ambos contra o VIH e as políticas de «esvaziamento» de Milei. Desceram até Buenos Aires e seguiram juntos na Marcha Federal em defesa da Saúde Pública, onde declararam ao Tiempo Argentino que, «quando o ministro fala de saneamento, na realidade fala de cortes, de falta de medicamentos, de gente que fica à deriva, perto da morte. É a necropolítica».
Juan insistiu: «Quando os “libertários” usam o termo aidético como insulto, como provocação nos seus discursos nas redes ou nas ruas, nós lhe damos outro sentido. Não temos medo dessa palavra, porque nós vivemos com aids, lutamos contra a aids. Lutamos sempre, agora mais que nunca.»
«Sobrevive quem pode pagar, essa é a regra que querem impor»
Já na Praça de Maio, falou Maira, psicóloga do Hospital Laura Bonaparte, único especializado em saúde mental e onde o governo decidiu «intervir». «O hospital presta cuidados aos setores vulneráveis, aos esquecidos pelo sistema. Agora, quem é que os vai atender?», perguntou, denunciando que «sobrevive quem pode pagar, essa é a regra que querem impor».
Também ali, Gonzalo, técnico de farmácia do Garrahan, disse que a situação no hospital pediátrico está no limite, devido aos cortes, aos despedimentos e salários de miséria.
A este propósito, a Federação Sindical de Profissionais da Saúde (Fesprosa) alertou que «a falta de financiamento e a precariedade das condições de trabalho estão conduzindo o sistema de saúde pública a uma situação crítica, afetando diretamente os cuidados prestados aos cidadãos».
Áreas-chave da saúde estão sendo desmanteladas, «sem se importarem com o bem-estar do povo argentino», denunciou também a federação, afirmando que, a cada dia que passa, mais pessoas ficam sem acesso aos cuidados de que necessitam.