Sindicatos ingleses contra o racismo

«Não há nada que a extrema-direita queira menos do que trabalhadores unidos»

AbrilAbril

Imagem: oradores intervêm num painel da Conferência Stand Up to Racism, em Londres, no dia 1° de março de 2025 CréditosDavid Gilchrist / Morning Star

Na conferência anual Stand Up to Racism, em Londres, dirigentes sindicais sublinharam a importância da unidade e deixaram alertas para os engodos que o Reform UK lança aos trabalhadores.

Na edição deste ano da conferência Stand Up to Racism (Fazer Frente ao Racismo), celebrada no último sábado em Londres, os participantes advertiram que o partido de extrema-direita liderado por Nigel Farage procura utilizar os migrantes como bodes expiatórios, visando dividir os trabalhadores e atacar os seus direitos.

Instigar a divisão e enfraquecer a luta dos trabalhadores no seio das suas comunidades é algo que figuras da extrema-direita estão fazendo na abordagem a problemas que essas comunidades enfrentam, usando também a questão da migração, destacaram os oradores no evento.

Neste contexto – informa o Morning Star –, apelaram à unidade e alertaram que o movimento operário precisa dar resposta a questões como austeridade, cuidados de saúde, privatizações, habitação e emprego, de modo a afastar a discussão da extrema-direita.

Patrick Roach, secretário-geral do NASUWT (sindicato dos professores) e presidente do grupo de trabalho contra o racismo do TUC (Congresso dos Sindicatos), disse que, nas eleições gerais, «o Reform declarou guerra ao nosso movimento, ao afirmar que [é] a favor dos trabalhadores e atiçando o medo entre os trabalhadores, que já estão ansiosos num mundo de grandes tecnologias, IA [inteligência artificial], desindustrialização e alterações climáticas».

«Mas é o nosso movimento, e não o Reform, que está do lado dos trabalhadores e das famílias», frisou, acrescentando: «Sabemos que, apesar da sua retórica populista, da sua desinformação, das respostas fáceis que andam a vender, os apoiantes do Reform querem mais do que aquilo que [esse partido] lhes oferece.»

O que a extrema-direita propõe é divisão e ódio

Já Steve Wright, secretário-geral do FBU (sindicato dos bombeiros e serviços de emergência), acusou a extrema-direita de «atacar a classe trabalhadora» e de «se apresentar como partido antissistema». «Mas aquilo que eles propõem é… divisão e ódio», alertou, citado pelo Morning Star.

Por seu lado, Fran Heathcoate, secretária-geral do PCS (sindicato dos funcionários públicos), chamou a atenção para a «ameaça eleitoral» do Reform, que é «muito real», destacando que «eles não apresentam soluções nenhumas para os problemas deste país: só criam bodes expiatórios e são uma ameaça aos nossos serviços públicos e comunidades».

«Não há nada que o Reform queira menos do que trabalhadores unidos a exigir melhores salários, investimentos nos serviços públicos, habitação pública e segurança social decente», afirmou Heathcoate.

«É por isso que se esforçam tanto para nos distrair e nos fazer culpar os migrantes, arrastando-nos para discussões sobre “guerra cultural” que são uma distração completa», sublinhou.

«A história ensinou-nos onde este caminho leva»

Daniel Kebede, secretário-geral do NEU (professores), acusou o atual primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, de estar «abrindo o caminho» a Nigel Farage, reforçando que cabe aos trabalhadores a iniciativa de impedir a extrema-direita de governar.

A responsável pelas igualdades do TUC, Kudsia Batool, disse que o fascismo está «diretamente ligado à erosão dos direitos dos trabalhadores», enquanto Mick Lynch, dos ferroviários, exortou o movimento sindical a se unir no enfrentamento à retórica da extrema-direita.

Também Adejare Oyewole, do Unison, alertou para o ascenso da extrema-direita em nível mundial e para o modo como isso «ameaça a própria estrutura das nossas sociedades».

«A história ensinou-nos onde é que este caminho leva», disse Oyewole, frisando que, «quando um grupo se torna o alvo, isso estabelece o precedente para que outros sejam os seguintes».

«Não nos podemos permitir o luxo da neutralidade», destacou, pedindo «unidade em vez de divisão e ação em vez de silêncio».