Contra as agressões e chantagens dos EUA! Abaixo o imperialismo!
Charge: Mauro Iasi
Nota Política do Comitê Central do PCB
O Partido Comunista Brasileiro (PCB), reunido nos dias 15 e 16 de agosto, avalia que estamos vivendo uma conjuntura internacional e nacional complexa, imponderável e desafiadora, marcada por três elementos centrais: a) o declínio relativo dos EUA como principal potência do sistema imperialista diante da ascensão de novos pólos como a China e, militarmente, a Rússia; b) a ação imprevisível e agressiva do governo Trump, buscando reverter esse declínio; c) ataques e provocações dirigidos ao Brasil pelo imperialismo estadunidense, como parte de sua estratégia global de recuperar a hegemonia.
O governo Trump, expressão de um setor majoritário das classes dominantes de seu país, foi alçado ao poder com a missão de enfrentar três tarefas estratégicas: reestruturar a ordem econômica internacional diante da emergência da China, dos BRICs e militarmente da Rússia; reverter o declínio do poderio econômico imperialista estadunidense e reindustrializar o país, buscando recuperar sua antiga supremacia econômica conquistada no pós Segunda Guerra Mundial, materializada no papel do dólar norte-americano no sistema monetário internacional.
Para alcançar esses objetivos, Trump vem impondo uma política truculenta, que combina ameaças, chantagens e intimidações. Age como um negociante que busca desorientar o adversário para impor acordos a partir de posições de força. Sua tática, aparentemente irracional, esconde um método: explorar o caos e a instabilidade para reposicionar o imperialismo estadunidense.
Os exemplos recentes são ilustrativos: envio de tropas e submarinos ao Caribe, ameaças diretas à Venezuela, ataque militar ao Irã, pressões tarifárias sobre mais de 90 países, imposição aos europeus de aumento de 5% do PIB em gastos militares e tentativa de impor aos aliados uma saída para a guerra na Ucrânia negociada entre Trump e Putin no Alasca. Essa conduta revela que Trump busca concentrar em suas próprias mãos a iniciativa política, agindo como o chefe que impõe disciplina a seus subordinados para salvar o sistema.
No entanto, a estratégia de Trump enfrenta contradições profundas. A reindustrialização dos EUA não pode ser alcançada apenas com tarifas protecionistas, típicas de uma política mercantilista do passado. Num cenário marcado pela inteligência artificial, robótica, engenharia genética e computação quântica, os EUA, com essa política, não têm condições de alcançar a China, que tende a ampliar ainda mais sua vantagem tecnológica e industrial.
Além disso, a política de sanções generalizadas contra o mundo está condenada ao fracasso. Diferente da época da consolidação da hegemonia estadunidense no pós-guerra ou do período após a queda da URSS, hoje existem múltiplos polos econômicos e políticos, como a China, os BRICS e as articulações regionais na Ásia e no Sul Global, que dificultam a imposição unilateral dos EUA.
No plano interno, Trump acumula inimigos em virtude de sua política autoritária e obscurantista: atacou universidades, demitiu milhares de trabalhadores, extinguiu órgãos públicos, decretou intervenção em Washington, intensificou a repressão estatal e a ofensiva ideológica racista contra a população negra, latina e imigrante, busca sistematicamente a destruição de direitos reprodutivos e sociais das mulheres, opera o desmonte de diversos direitos trabalhistas, está tentando manipular o mapa eleitoral e apoia abertamente o genocídio do povo palestino. A agressiva, racista e ultraxenófoba política anti-imigrantes está lhe valendo a oposição frontal até mesmo de segmentos historicamente alinhados à direita estadunidense, como os cubanos autoexilados da Flórida. Essa conduta vem gerando cisões no bloco das classes dominantes e forte descontentamento popular, com destaque para a juventude, que se levanta em protestos massivos contra seu governo.
Assim, a política trumpista, embora tenha obtido êxitos parciais, carrega em si o germe de seu próprio fracasso. O risco maior está justamente na reação do setor das classes dominantes que a sustenta, diante de um possível colapso dessa estratégia. A história demonstra que nenhum imperialismo se rendeu sem recorrer à violência. Portanto, não está descartada a possibilidade de guerras em várias regiões do planeta, nem mesmo a escalada para uma terceira guerra mundial.
O Partido Comunista Brasileiro alerta que a conjuntura internacional, marcada pela ofensiva imperialista estadunidense encontra, em nosso país, um terreno fértil para provocações e riscos que não podem ser subestimados, muito além da traição entreguista do núcleo do bolsonarismo prestes a ver seu líder condenado e preso. Estamos diante de uma escalada agressiva do governo Trump, através de ultimatos, provocações e exigências feitas exatamente para o Brasil não aceitar e, dessa forma, justificar a escalada de sanções, podendo inclusive evoluir para bloqueios econômicos e desestabilização política interna.
Essa escalada contra o Brasil decorre de um fato estratégico: como os Estados Unidos não têm condições de enquadrar economicamente a China nem militarmente a Rússia, elegeram nosso país como um verdadeiro laboratório de teste de sua política imperialista. O Brasil é alvo prioritário por algumas razões fundamentais: nossa posição geográfica distante dos demais países que integram os BRICS e muito próxima dos EUA; o país não tem força militar capaz de se contrapor aos Estados Unidos; o Brasil tem uma economia entrelaçada com os fluxos financeiros e comerciais controlados pelo capital estadunidense; as reservas cambiais estão em bancos e títulos dos EUA; além disso, o Brasil faz parte dos BRICS, que se tornou um bloco de países considerados inimigos por Trump em virtude de seu peso econômico e político na conjuntura internacional.
A ofensiva externa encontra cumplicidade interna. O Brasil conta com uma poderosa quinta coluna, infiltrada no parlamento, em governos estaduais e municipais e em setores do aparato institucional, que agem como correia de transmissão dos interesses dos Estados Unidos. Tais setores defendem abertamente as medidas impostas por Trump e trabalham contra os interesses do povo brasileiro. Apesar dessa pressão, existe um sentimento na maioria da população de que o Brasil não deve aceitar os ultimatos do presidente dos Estados Unidos. Este descontentamento, no entanto, está longe de se manifestar em mobilizações anti-imperialistas. O governo Lula tem reafirmado a soberania nacional e buscado adotar medidas paliativas, como pacotes de socorro econômico a setores empresariais prejudicados pelo tarifaço de Trump. Entretanto, do ponto de vista político, tem se limitado a reuniões de cúpula e acordos com frações da burguesia, sem enfrentar de maneira decisiva a natureza do ataque imperialista. O PCB afirma com clareza: resistência ao imperialismo sem mobilização popular é suicídio. Não se pode confiar na coerência da burguesia brasileira, historicamente associada ao grande capital internacional e que, em todas as crises decisivas, se colocou ao lado do imperialismo contra os interesses do povo trabalhador.
Além disso, nenhuma medida foi tomada para atender a demanda dos trabalhadores e das trabalhadoras. Nesse sentido, o PCB reafirma a importância e a necessidade da luta em defesa das pautas da classe trabalhadora, como a revogação do arcabouço fiscal e das contrarreformas, a redução da jornada de trabalho para 30 horas sem redução do salário e pelo fim da escala seis por um, defesa das riquezas naturais e do meio ambiente, quebra das patentes farmacêuticas dos EUA, monopólio das terras raras, taxação das grandes fortunas e redirecionamento dos produtos sancionados para o mercado interno e a merenda escolar.
É fundamental compreender a dimensão do ataque. O que o imperialismo dos EUA fez com a Venezuela, com o Irã e com a Rússia deve servir de alerta. Outros aspectos igualmente perigosos são a ofensiva imperialista sobre os direitos reprodutivos das mulheres e o estímulo às políticas racistas de reforço do punitivismo, da guerra às drogas e da criminalização da pobreza, que encontram ressonância na quinta coluna interna representada pelo neofascismo bolsonarista. Os trabalhadores e as trabalhadoras não podemos subestimar até onde o imperialismo dos EUA é capaz de ir para defender seus interesses. Por isso, temos que estar organizados e mobilizados para enfrentar todos os cenários.
Para enfrentar a crise, não basta o jogo diplomático ou a negociação empresarial. É hora de as forças de esquerda apontarem na direção que o governo de conciliação não seguirá, isto é, chamar o povo às ruas. É hora de convocar as organizações sindicais, populares e a juventude para uma ampla mobilização, capaz de enfrentar o imperialismo de maneira decidida, com o povo trabalhador em movimento. A luta não pode ficar restrita a gabinetes: ela deve ser travada pela força organizada do povo nas ruas, nas redes sociais, nos locais de trabalho, moradia e estudo.
Do ponto de vista econômico, é imperativo cobrar do governo que as medidas emergenciais não se restrinjam ao apoio ao grande capital monopolista exportador e ao agronegócio, defendendo o fim do arcabouço fiscal, para que o Estado possa investir em produção, mais e melhores empregos, na ampliação dos estoques reguladores, serviços públicos dignos e proteção social. É preciso denunciar que o Brasil sofre uma sangria financeira com as reservas à mercê de bloqueios estrangeiros, sendo necessária a transferência imediata dos recursos para instituições fora do controle estadunidense. Não é razoável deixar mais de U$ 380 bilhões sob a guarda do inimigo, sujeito a bloqueio e confisco. No campo internacional, o Brasil deve ampliar suas relações internacionais para além da esfera de controle dos EUA, fortalecendo os BRICS e ampliando as relações bilaterais com países que apresentam contradições com o imperialismo estadunidense.
Diante dessa conjuntura, o PCB alerta que não só o Brasil, mas os povos do mundo devem reforçar a luta anti-imperialista, ampliar a solidariedade internacional e preparar-se para resistir às aventuras bélicas do imperialismo dos EUA. O destino da humanidade não pode ser submetido à irracionalidade de uma classe dominante em declínio, disposta a sacrificar a própria espécie humana para preservar seus privilégios. Para construir a resistência anti-imperialista no Brasil, o PCB propõe a formação de uma Frente de Mobilização Popular, capaz de unificar sindicatos, movimentos populares, organizações estudantis e forças progressistas em torno da defesa da soberania nacional e popular e do enfrentamento decidido ao imperialismo dos EUA. Somente com o povo organizado poderemos resistir à escalada agressiva de Trump e transformar esta crise em trincheira para a retomada da luta popular em favor dos direitos e interesses do povo trabalhador brasileiro.
Resistir nas ruas às chantagens imperialistas!
SEM ANISTIA! Prisão para Bolsonaro e seus cúmplices e apoiadores!
Toda solidariedade aos povos atacados pelo imperialismo!
Em defesa do povo palestino e de Cuba Socialista!
Pelo Poder Popular no rumo do Socialismo!
Comitê Central do PCB