Fim das ilusões com a guinada petista à esquerda
Por Antonio Lima Júnior, militante do PCB em Fortaleza e jornalista proletário
Enquanto o ex-presidente Lula realiza sua caravana pelo nordeste brasileiro, já preparando a campanha política para as eleições de 2018, o presidente estadual do PT no Rio de Janeiro, Washington Siqueira (Quaquá), lançou nota nas redes sociais com o título “Por um partido lulista, burguês e reformista!” [1].
Após uma análise de conjuntura com vários equívocos e justificando uma possível e futura aliança com Renan Calheiros, Kátia Abreu e “de tudo que é ‘P’”, ao final o texto reivindica que o país “precisa de um novo partido burguês, com programa reformista mínimo, pactuando com as lideranças políticas regionais. Um partido que banque a proposta de uma nova constituinte e que avance na construção do estado burguês de bem estar social”. Para o dirigente petista, o socialismo “é uma aposta futura e de transição. Nesse período, a transição ainda é burguesa e o será por muitos anos. Por isso, é centro da estratégia política montar um partido lulista, burguês e reformista”.
Sobre as questões levantadas acerca da necessidade de manter um programa reformista mínimo e acerca do distanciamento do socialismo, é importante colocar alguns elementos que fogem à análise do ávido dirigente petista.
As reformas no capitalismo avançado
Diante da consolidação da burguesia brasileira, hoje combinada com os interesses do capital internacional, apesar de alguns setores da esquerda reformista acreditarem numa possível aliança com uma burguesia progressista e nacionalista, durante os doze anos de governo de colaboração de classes do PT (2003-2015) vimos poucos avanços na questão das reformas básicas.
Um grande exemplo é o dos meios de comunicação: enquanto alguns países vizinhos, como Argentina e Uruguai, conseguiram, da virada de século pra cá, avançar em políticas básicas de democratização dos meios de comunicação e de evitar o monopólio das concessões, no Brasil vimos que não houve nenhuma proposta de ataque aos interesses monopolistas das poucas famílias que controlam os canais de rádio, TV, veículos impressos e internet do país. Apesar de realizar a única edição da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em 2009, pouco dos acúmulos construídos na mesma foram encaminhados. Além disso, durante os governos petistas, o Ministério da Comunicação sempre foi ocupado por nomes ligados aos interesses dos grupos empresariais, a exemplo do senador (outrora aliado, hoje golpista) Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Já na reforma agrária, um dos pilares de sustentação dos movimentos sociais, em especial o MST, em apoiar os governos petistas, o governo Dilma saiu com o saldo de pior resultado na desapropriação de imóveis rurais nos últimos vinte anos [2]. Ao mesmo tempo, teve como fiel escudeira na defesa contra o impeachment a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), representante da bancada ruralista e “vencedora” do prêmio Motosserra de Ouro, dado pelo Greenpeace em 2010[3].
Mesmo com resultados insatisfatórios nas políticas das reformas de base, como continuar seguindo na proposta de manter o programa de reformas mínimas, se a aliança com coronéis da mídia e latifundiários, por exemplo, impede que avancem nas reformas agrárias e no enfrentamento ao monopólio dos meios de comunicação? Sem acreditar na alternativa socialista e sem investir na construção da unidade da classe trabalhadora para derrotar uma burguesia consolidada que não precisa mais dos setores reformistas para impor sua hegemonia, jamais conseguiremos sequer as reformas mínimas. Chegamos então no segundo ponto.
Uma longa marcha para o socialismo
Se, para o dirigente petista, “a transição ainda é burguesa e o será por muitos anos”, para nós, comunistas, a transição é necessariamente proletária e o tempo só pode ser medido conforme os passos que dermos à frente. Como diz o secretário-geral do PCB, Edmilson Costa, em artigo, o Brasil está maduro para o socialismo [4].
A partir da análise de Edmilson Costa, vemos que o Brasil passou por um processo de desenvolvimento econômico nos governos petistas, mas que repetiu a velha fórmula do bolo que cresce e não se divide ao povo, dando-lhe apenas as migalhas que, por estar em período de crescimento, aparentavam ser um grande pedaço. Imagine só se dessem de fato os pedaços que nos cabem de direito…
Portanto, é equivocada a visão de uma transição burguesa e longa. A burguesia já comandou por muito tempo, é hora de organizar os trabalhadores para a construção de um programa mínimo de lutas da classe operária, que exija a reversão de todos os ataques que a burguesia tem dado não só no governo Temer, mas nos governos petistas, que também têm sua grande parcela de culpa, seja por avançar nas reformas da previdência ou nas concessões das nossas riquezas para a iniciativa privada. O que o PT fazia a conta gotas, Temer faz de torneira aberta. Mas quem abriu o registro da água?
Conclui-se que a exposição de Quaquá é mais uma mostra de que o PT não tem interesse em avançar na organização da classe trabalhadora para derrubar as medidas que a burguesia tem criado para prejudicar os trabalhadores. Se a alternativa para o PT é ser um partido lulista, burguês e reformista, está claro que a saída é novamente a traição. Mas como diria Marx no Dezoito de Brumário, “os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes […] : a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. E quando a farsa petista ruir de vez, já estaremos surdos de tanto ouvir, repetidas vezes, o canto da sereia.
1. Por um partido lulista, burguês e reformista! <https://www.
2. Dilma é a que menos desapropria desde Collor <http://www1.folha.uol.
3. Kátia Abreu recebe “prêmio” do Greenpeace <http://
4. O Brasil está maduro para o socialismo <http://resistir.