Soldados da Minustah são acusados de torturar e matar jovem haitiano

A cada dia, cresce o descontentamento com as ações e a presença dos militares da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti – Minustah. O mais recente acontecimento que provocou revolta na população haitiana foi a morte de Gérald Jean Gilles, de apenas 16 anos. As forças de segurança afirmaram que o caso foi de suicídio, contudo os indícios mais fortes apontam para asfixia ou afogamento.

O corpo de Gérald foi encontrado no dia 17 de agosto, enforcado, dentro da base Formed Police Units (FPU) da Minustah, localizada no centro do Cabo Haitiano. Segundo informações repassadas por alguns jovens ao meio do comunicação haitiano Réseau Citadelle, Gérald foi torturado até a morte porque os militares suspeitaram que ele houvesse roubado 200 dólares.

O Réseau Citadelle informou ainda que pessoas que moram próximo à base afirmaram ter visto um soldado nepalês detendo um jovem em praça pública. As cenas que se seguiram foram de tortura: o soldado “meteu as mãos na boca do jovem e tentanto com todas as suas forças separar a mandíbula inferior e a mandíbula superior, chegou até o ponto de lacerar a pele da boca”.

As suspeitas mais fortes são de que Gérald tenha sido morto durante uma sessão de tortura, tendo sofrido asfixia ou afogamento. Alguns funcionários do hotel Roi Henri Christophe, que fica próximo à base nepalesa do Cabo Haitiano, reforçaram estas suspeitas ao informar que haviam escutados gritos que diziam “estão asfixiando-me”. Sobre o caso, a Minustah limitou-se a informar que o jovem cometeu suicídio e repassou informações sobre a autópsia.

Gérald trabalhava ajudando os soldados estrangeiros em troca de comida ou de algum dinheiro, realidade torna ainda mais difícil crer na versão de suicídio. Além disso, outros fatos sem explicação rondam o caso. O advogado e um parente da Gérald acusaram as Nações Unidas de haver retido o corpo do jovem em Porto Príncipe por várias horas, fato que impediu o médico forense de realizar a autópsia antes de passadas 72 horas depois da morte. A demora pode alterar os resultados.

Jovens moradores de bairros próximos realizaram diversas ações de repúdio à Minustah. Organizações que apóiam a causa haitiana, entre elas o Jubileu Sul, também se manifestaram solidariamente e convocaram os movimentos sociais de todo o mundo, comprometidos com a luta por justiça, a redobrar os esforços no marco da Campanha de Solidariedade com o Haiti, que está sendo impulsionada.

Com o intuito de chamar atenção para o fato de que os militares violam os direitos humanos de haitianas e haitianos, a Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz do Cabo Haitiano publicou uma mensagem denunciando a perversidade de práticas como enforcamentos e amputações de membros do corpo, que são realizadas pelos soldados da Minustah provenientes da Ásia.

Reincidência

Não é a primeira vez que os soldados da Minustah são acusados de atentar contra a vida da população haitiana. Em 2008, uma unidade nepalesa do Cabo Haitiano foi acusada de tentativa de estupro a uma jovem que voltava para casa à noite. Após a repercussão do fato, representantes da Missão das Nações Unidas garantiram que realizariam uma investigação, castigariam os culpados, caso houvesse, e tratariam de prevenir este tipo de comportamento.

Manifestações

Dois grandes momentos estão sendo organizados para mostrar solidariedade com a Haiti, exigir uma nação livre e soberana e reivindicar a anulação incondicional da dívida financeira cobrada ao país. O primeiro acontecerá em 15 de outubro, quando a ONU votará a renovação da permanência da Minustah no Haiti. O segundo será no dia 12 de janeiro, data em que o terremoto completa um ano e momento que marca a remilitarização haitiana.

*Jornalista da Adital

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=50676