A NATO lança o seu maior exercício militar desde o final da Guerra Fría
Manlio Dinucci
O imperialismo eleva o tom da estratégia de tensão militar. As manobras da NATO de finais de Setembro e início de Novembro no Mediterrâneo apontam em várias direcções, e em todas é visível a mesma irresponsável e criminosa escalada agressiva e de provocação.
Todos os comandos e bases dos EUA/NATO trabalham em marcha acelerada para preparar “Trident Juncture 2015” (TJ15), “o maior exercício da NATO desde o final da Guerra Fría”.
Terá lugar em Itália, Espanha e Portugal de 28 de Setembro a 6 de Novembro, com unidades terrestres, aéreas, navais e de forças especiais de 33 países (28 da NATO mais cinco aliados): Mais de 35.000 soldados, 200 aviões, e 50 navios de guerra. As indústrias militares de 15 países participarão também para avaliar outras necessidades que possa a NATO possa apresentar.
O propósito deste exercício de “alta visibilidade e credibilidade” é testar a “Força de Resposta” (30.000 soldados), e especialmente a preparação operacional da sua “Point Force” (5.000 soldados).
No flanco meridional, que se inicia sobretudo a partir de Itália, a NATO prepara outras guerras no Norte de África e Médio Oriente. Isto foi confirmado pelo ataque realizado na Líbia em 14 de Junho por caças F-15E estado-unidenses que provavelmente partiram de Aviano, no norte de Itália, e lançaram numerosas bombas, alegadamente para matar um presumível terrorista.
A Força Aérea Italiana prepara-se para acções similares para assegurar “a capacidade dos seus recursos como parte de uma força de alta preparação para a intervenção”. Durante o TJ15 será utilizado o aeroporto Trapani (não o aeroporto em Decimomannu onde falta “sossego” devido aos protestos locais contra a servidão militar), “por razões eminentemente logísticas, operacionais, pelas distâncias que devem ser cobertas e a experiência prévia obtida durante outras operações realizadas pela base”, ou seja os bombardeamentos da Líbia em 2011. Estarão em Trapani-Birgi uns 80 aviões e 5.000 soldados, que (apesar das promessas da Força Aérea) colocarão em perigo a viabilidade e segurança de voos civis.
O Comando Conjunto Nápoles das Forças da NATO (JFC), com o seu centro no Lago Patria, Nápoles, desempenhará um papel central no exercício sob o comando do almirante Use Ferguson, que também é comandante das Forças Navais dos EUA na Europa e do Comando África. Alternando anualmente com Brunssum (Holanda) o JFC Nápoles tem o papel de comando operacional da “Força de Resposta” da NATO, cujo comando geral depende do comandante supremo aliado na Europa (é sempre um general estado-unidense nomeado pelo presidente). A projecção de forças em direcção ao sul vai muito além do norte de África: o comandante supremo, general Breedlove clarificou-o ao anunciar que “os membros da NATO desempenharão um grande papel no Norte de África, o Sahel e a África Subsaariana”.
No seu flanco oriental, a NATO continua a aumentar a presença militar frente à Rússia. Segundo informação fornecida ao New York Times (de 13 de Junho) por funcionários estado-unidenses e aliados, o Pentágono propõe-se “pré-posicionar” armas pesadas (tanques, canhões, etc.), suficientes para armar 5.000 soldados na Lituânia, Letónia, Estónia, Polónia, Roménia, Bulgária e Hungria.
E enquanto Washington deu a conhecer que não exclui a instalação de misseis nucleares localizados em terra na Europa, Kiev anunciou que serão instalados na Ucrânia interceptores de misseis EUA/NATO, semelhantes aos da Polonia e Roménia. Isto ignora o facto de que Moscovo, como já advertiu, tomará contramedidas porque as rampas de lançamento para os interceptores podem também ser utilizadas para lançar misseis nucleares.
É num tal cenário que tem lugar “Trident Juncture 2015,” uma expressão da estratégia de guerra generalizada. Isto é confirmado pela participação a semana passada na Áustria do secretário-geral da NATO, general Jens Stoltenberg, na reunião secreta do grupo Bilderberg, o mesmo personagem que o magistrado italiano Ferdinando Imposimato denunciou em Janeiro de 2013 como “um dos líderes da estratégia de tensão”.
Publicado em Il Manifesto, em 16 de Junho de 2015. http://ilmanifesto.info/la-nato-lancia-il-tridente/
Manlio Dinucci é geógrafo e jornalista. Tem uma crónica semanal “L’art de la guerre” no diario italiano il manifesto. É autor de Geocommunity (em três tomos). Ed. Zanichelli 2013;Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.