As armas israelenses exacerbam as atrocidades na África

imagemPor Rania Khalek / Resumen Latinoamericano / The Electroic Intifada / 16 de setembro de 2015 – (Traduzido do inglês para Rebelión por Beatriz Morales Bastos)

As armas israelenses estão exacerbando as atrocidades no Sudão do Sul, segundo um informe da ONU que apresenta novos dados sobre o hermético tráfico de armas israelenses na África. Este informe, elaborado por uma equipe de investigação reunida pelo Conselho de Segurança da ONU, apresenta provas fotográficas de que o arsenal do exército e da polícia do Sudão do Sul possui rifles automáticos fabricados pela empresa Israel Military Industries (IMI, Indústrias Militares Israelenses). Estas armas, que são conhecidas como Galil ACE, são utilizadas particularmente por guarda-costas de políticos de alto escalão e oficiais superiores do exército.

Em 2011, a independência do Sudão do Sul foi concedida após uma guerra civil que durou várias décadas. A poucos dias do estabelecimento do país, as principais figuras da indústria armamentista israelense começaram a promover seus interesses neste novo aliado contra a influência do Irã no Sudão.

Desde sua divisão em 2011, o Sudão do Sul sumiu em uma guerra civil entre facções políticas opostas.

Segundo o informe da ONU, o exército do Sudão do Sul e as milícias alinhadas com o governo estão empregando uma “política de terra arrasada”, caracterizada pela violação sistemática de mulheres e meninas, por assassinatos indiscriminados e pela queima de povos inteiros com as famílias dentro de seus lares.

O Sudão do Sul não é o único país africano no qual a indústria armamentista israelense se beneficia do derramamento de sangue.

Segundo o Instituto Internacional de Estudos pela Paz de Estocolmo (SIPRI, sigla em inglês), Israel não oferece uma informação detalhada sobre o tráfico de armas, a maioria do qual é negociado por meio de obscuros intermediários que, normalmente, são aposentados de seu exército ou expatriados civis israelenses.

Não obstante, nos últimos anos tanto algumas reportagens jornalísticas ocasionais como declarações públicas de funcionários e investigações realizadas pelas ONG, lançaram luz sobre a participação militar em mais cantos da África do que é possível detalhar em um só artigo. Graças a essas fontes, o SIPRI pode documentar a venda de grande quantidade de armas israelenses a Camarões, Chade, Guiné Equatorial, Lesoto, Nigéria, Ruanda, Seicheles, África do Sul e Uganda de 2006 a 2010.

Um traficante de armas por excelência

Apesar de seu reduzido tamanho, durante décadas Israel esteve entre os dez principais exportadores de armas do mundo, uma proeza impressionante para uma nação que geograficamente não é maior que Nova Jersey. Isto se deve, em parte, ao fato de que Israel utiliza as ocupadas Cisjordânia e Gaza como laboratórios para provar e refinar tanto as armas como os métodos de dominação e de controle, o que permite às empresas de armas israelenses promoverem seus produtos como “provados em batalha” e “provados em combate”, cobiçadas qualificações que conferem à nação uma vantagem competitiva no comércio internacional de armas.

O êxito de Israel também pode ser atribuído a sua vontade de fazer negócios com regimes repressivos aos quais, inclusive os Estados Unidos e os países europeus, evitam armar diretamente.

No caso do Sudão do Sul, a magnitude das atrocidades levou a União Europeia a impor um embargo de armas e sanções contra os dirigentes militares do país.

Da mesma maneira, os Estados Unidos suspenderam a ajuda militar e impuseram sanções, ainda que precisassem indicar que o governo Obama contribuiu com entusiasmo para aumentar o exército do Sudão do Sul, ainda que soubessem que contava com vários milhares de meninos soldados em suas fileiras.

No entanto, recentemente, no mês de junho, Israel convidou o Sudão do Sul para uma exposição de armas.

Contribuir com o genocídio

O atuar como condutor de armas para regimes assassinos não é um fenômeno novo para Israel. Sob a liderança do então primeiro ministro Yitzhak Rabin e do então ministro de Exteriores Shimon Peres, Israel forneceu tanto ao governo ruandês dominado pelos hutus como ao exército rebelde liderado por Kagame balas, rifles e granadas enquanto estava ocorrendo o genocídio naquele país na década de 1990.

Além de armar os assassinos, Israel adestrou o exército e as forças paramilitares ruandesas durante os anos que levaram ao banho de sangue.

Afirma-se que depois de percorrer o cenário dos assassinatos de um traficante de armas israelense se vangloriou de ser humanitário por ajudar as vítimas a morrer rapidamente com balas ao invés de machadadas: “Na realidade sou um médico”, afirmou.

Desde então, Israel mantém uma estreita relação com [Paul] Kagame, o atual presidente autocrático de Ruanda, que conta com um forte apoio do Ocidente.

Um depósito de armas para déspotas

Enquanto declinam os contratos de armas israelenses assinados pelos Estados Unidos e pela Europa devido às reduções dos orçamentos de defesa, os países em vias de desenvolvimento na América Latina e África se convertem nos mercados de Israel que mais rapidamente crescem.

As vendas de armas israelenses à África duplicaram entre 2012 e 2013, e aumentaram outros 40% em 2014, até chegar aos 318 milhões de dólares esse ano. Não se sabe com certeza se este montante total equivale às armas e treinamento que Israel promoveu em Uganda e possivelmente em Ruanda, como compensação por ter aceitado acolher os refugiados africanos expulsos de Israel. Ainda que Israel não tenha escrúpulos em contribuir à agitação dos países africanos, se nega a conceder asilo em seu território às pessoas africanas. Em vez disso, prefere encarcerá-las e deportá-las aos horrores dos quais tinham escapado. Algumas delas foram encarceradas, torturadas e inclusive assassinadas a partir do momento que foram expulsas.

O que está claro é que entre os clientes africanos de Israel estão os principais regimes não democráticos que oprimem brutalmente seus cidadãos.

Um comandante aposentado do exército israelense, Mayer Heretz, treina a Brigada de Intervenção Rápida de Camarões (BIR), que realiza assassinatos e “desaparecimentos” extrajudiciais rotineiros. Em 2009, se empenhou em esmagar as manifestações contra a desigualdade econômica e assassinou uns cem manifestantes.

Outro comandante aposentado do exército israelense, Avi Sivan, treinou a tristemente célebre e brutal unidade da guarda presidencial de Camarões, vital para manter há 33 anos a regime do ditador Paul Biya.

O controle prolongado de regimes repressivos na África é uma velha tradição israelense. Nas décadas de 1970 e de 1980, Israel equipou belicamente o regime de apartheid sul-africano com armas com as quais violou as sanções internacionais.

Salvaguardar o saqueio corporativo

Décadas de roubo e colonização de terras e recursos palestinos qualificaram Israel com uma perícia única em submeter a resistência e manter o saqueio colonial.

Como explicou Jimmy Johnson, um ativista e investigador do tráfico de armas de Israel, “o nacionalismo etnocêntrico do século XIX, que levou à criação de Israel […] muitas vezes oculta o fato de que a desapropriação dos palestinos incluiu uma generalizada transferência ascendente de riqueza do colonizado ao colonizador, do ocupado ao ocupante”.

Israel não se limita a entregar armas à África, oferecendo um exitoso modelo para garantir a pilhagem do neocolonialismo obtido de uma cada vez maior classe baixa despossuída e abandonada pelos estragos do capitalismo globalizado. Como assinala Johnson, “se exporta a ocupação de Israel para luta contra a redistribuição da riqueza”.

Ao sul de Camarões, as companhias militares israelenses embolsam milhões de dólares vendendo armamento à pequena nação da Guiana Equatorial, rica em petróleo. Na Guiné Equatorial vive uma das sociedades mais desiguais do mundo.

O impiedoso ditador da antiga colônia espanhola, Teodoro Obiang, enriqueceu graças aos generosos pagamentos de algumas companhias petroleiras estadunidenses que, em troca, exploram sem obstáculos as enormes reservas de petróleo do país.

Para manter seu controle, Obiang depende de uma guarda presidencial quase com segurança treinada por Israel, ao mesmo tempo em que conta com o armamento israelense aperfeiçoado em Gaza, para proteger as plataformas petroleiras de Exxon.

As forças de segurança de Obiang têm a péssima reputação de torturar de forma generalizada e executar sumariamente os oponentes políticos.

Em 2008, Israel conseguiu um acordo de compra de armas avaliado em 100 milhões de dólares com a Guiné Equatorial, que implicava a compra de quatro barcos patrulheiros IMI Shaldag e um barco de mísseis Saar, fabricados pela [empresa israelense] Israel Shipyards. Segundo o jornal Haaretz, “os barcos IMI estão destinados a garantir os direitos petroleiros no mar”. São os mesmos barcos que utiliza a Armada israelense para fazer cumprir o bloqueio por mar a Gaza e disparar em seus habitantes.

Enquanto Israel ajuda as companhias petroleiras estadunidenses e a família Obiang a enriquecerem, uma em cada dez crianças da Guiné Equatorial morre antes de completar cinco anos. Por outro lado, menos da metade da população tem acesso à água limpa potável.

Na província de Cabinda, na Angola, o drone Aerostar, fabricado pela companhia israelense Aeronautics Defense Systems, protege as plataformas petroleiras marítimas das companhias privadas, inclusive da Chevron.

No delta do Níger, diferentes veículos de vigilância israelense, incluídos os Aerostar e Seastar, da Aeronautics, e o barco patrulheiro Shldag, da Israel Shipyards, protegem as plataformas petroleiras da Chevron de potenciais dificuldades ao saqueio por parte dessas companhias dos recursos da Nigéria.

A isto se soma o sistema de vigilância da internet da Nigéria, instalado pela principal empresa militar de Israel, Elbit Systems, em 2013.

Exportar a “guerra contra o terrorismo”

Com a ascensão de Boko Haram, a Nigéria adotou nos últimos anos a doutrina da “guerra contra o terrorismo”, que Israel foi o primeiro a fomentar para justificar sua incessante conquista da Palestina. “Israel foi um aliado fundamental e leal em nossa luta contra Boko Haram”, afirmou no início deste ano um alto funcionário do governo nigeriano. “É uma triste realidade, mas Israel tem uma enorme experiência de luta contra o terrorismo. Para nos ajudar, nossos parceiros israelenses estão utilizando essa experiência e a perícia única obtida ao longo dos anos de luta contra o terrorismo dentro de suas próprias fronteiras”, acrescentou, equiparando a resistência palestina à violência colonial israelense com o terrorismo perpetrado por um grupo militante com o qual os palestinos não têm relação.

Um ativista cristão nigeriano que apoia totalmente seu governo, declarou ao The Jerusalem Post : “Sou como um colono israelense na Cisjordânia em meio aos palestinos”.

Esta atitude foi simplesmente desastrosa.

Desde 2012, com a desculpa de derrotar Boko Haram, o exército nigeriano executou extrajudicialmente 1.200 pessoas e deteve arbitrariamente 20.000 meninos e homens jovens, ao menos 7.000 dos quais morreram em centros de detenção de fome, negligências médicas ou devido à superlotação.

Igualmente, os esquadrões da norte do Quênia, na Unidade de Serviço Geral, a ala paramilitar da polícia e do exército desse país, adotaram o “regulamento israelense” para os assassinatos extrajudiciais dos clérigos muçulmanos que se expressam abertamente.

Vários oficiais de esquadrões da norte foram entrevistados pelo Al Jazeera no ano passado e revelaram que suas unidades são treinadas por Israel.

“Exportar a experiência do sionismo”

Em seu livro, publicado em 1987, The Israeli Connection, Benjamin Beit-Hallahmi qualificou o apoio que Israel oferece a vários tiranos de países em vias de desenvolvimento como “resultado direto do que faz internamente”. “O que Israel está fazendo no Terceiro Mundo”, afirmou Beit-Hallahmi, “é, simplesmente, exportar a experiência do sionismo no Oriente Médio”, caracterizada pela conquista e a pacificação. Israel “não só está exportando uma tecnologia de dominação, como também a visão de mundo que sustenta esta tecnologia”, disse. Exporta “a lógica do opressor […], determinado estado de espírito, o sentimento de que o Terceiro Mundo pode ser controlado e dominado, de que é possível deter os movimentos radicais no Terceiro Mundo, de que, todavia, têm futuro as modernas Cruzadas”.

Isso é, precisamente, o que Israel está fazendo atualmente na África com algumas previsíveis consequências mortíferas.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=lUjOdjdH8Uk

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/09/21/las-armas-israelies-exacerban-las-atrocidades-en-africa/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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