Sanções e dominação*

imagemFilipe Diniz

A política de sanções econômicas é um instrumento privilegiado da UE. Construída de forma a estabelecer uma estrutura de economias dominantes e de países subordinados, a UE dos monopólios utiliza as sanções para assegurar que não há recalcitrantes. E conta, naturalmente, com a cumplicidade do grande capital interno e seus porta-vozes.

Merece a pena reflectir sobre o significado da política de sanções na natureza da UE. Uma entidade insuspeita, o Conselho Europeu de Relações Internacionais (European Council on Foreign Relations, ecfr.ue), explicita a questão de forma lapidar: “A arma preferencial da Europa são as sanções económicas”. “Sanções económicas com alvos específicos são frequentemente a opção política – situada entre as palavras e a guerra – mais atractiva e mais viável” (http://www.ecfr.eu/article/commentary_what_would_brexit_mean_for_eu_sanctions_policy6046).

Servem para tudo e para todas as circunstâncias. Não é verdade que sejam em regra alternativa à guerra. Em muitos casos – Líbia, Síria, Rússia (a pretexto da Ucrânia) – complementam a ingerência e a agressão militar. São, nesse contexto, claramente ilustrativas de que a guerra é apenas um dos instrumentos no sistema da dominação imperialista.

O que o ECFR diz sobre sanções externas é inteiramente aplicável no plano interno. A UE é um sistema de poder do capital monopolista, poder que é exercido sob as formas de violência que forem necessárias. É esse o sentido das pressões e da chantagem, e não apenas sobre países economicamente mais débeis que não cumpram as dogmáticas regras orçamentais impostas. Veja-se o que se passa com a Grã-Bretanha pós-“Brexit”, com cada cidadão agora ameaçado com uma taxa se quiser deslocar-se à “Europa”. O exemplo é anedótico, mas sabemos há muito que na história a tragédia e a farsa andam próximas.

O ECFR que tanto nos elucida sobre esta UE é ele mesmo bem elucidativo. Criado em 2007, o seu núcleo fundador de 50 membros alargou-se até aos actuais 270.

x-ministros, ex-deputados nacionais e europeus, gente com um relevante currículo na construção desta UE. Entidade certamente poderosa e, como é característico nesta UE, não eleita nem respondendo perante ninguém, os portugueses que o integram dizem tudo sobre a “perspectiva pan-europeia” de que tal Conselho se gaba: Luís Amado, Jaime Gama, Carlos Gaspar, Teresa Patrício Gouveia, Fernando Andresen Guimarães, Miguel Poiares Maduro, António Guterres, António Vitorino. O reaccionário centrão que nos trouxe à situação actual, da qual não há saída sem uma corajosa ruptura.

Resistir à chantagem será um passo decisivo.

*Este texto foi publicado no “Avante!” nº 2233, 15.09.2016

http://www.odiario.info/sancoes-e-dominacao/

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