A GUERRA SUJA CONTRA A LÍBIA

Conforme se desenvolveram os acontecimentos bélicos na Líbia se tornava mais claro o caráter, os procedimentos e sobre tudo os motivos da ação das potências capitalistas, da OTAN e principalmente do imperialismo estadunidense. A suposta preocupação com os direitos humanos e a segurança da população aparece tal como é: um pretexto para uma agressão e intervenção, de inconfessáveis intenções, violação da lei internacional e até as últimas resoluções aprovadas pela ONU, seu Conselho de Segurança e inclusive as próprias disposições da OTAN. Caiu como letra morta para a história a Resolução unânime de 24 de fevereiro que dispunha sanções comerciais de armas etc. Contra o regime de Kadafi e excluía o uso da violência.

Imediatamente após a comprovação de que Kadafi era um “osso duro de roer”, politica e militarmente falando, mas sobre tudo que tinha um forte apoio popular começaram a operar de uma maneira não autorizada no estabelecimento da zona de exclusão aérea. Esta já não foi aprovada por unanimidade. É preciso recordar que cinco países se abstiveram (China, Rússia, Brasil, Índia e Alemanha). Hoje se percebe que a Chiba Popular e Federação Russa – que puderiam utilizar seu direito de veto – estão arrependidos da abstenção. Esqueceram que a zona de exclusão aérea já é um ato de guerra, pois implica entrar no espaço aéreo de uma país soberano. Mas sobre tudo esqueceram a história, o que sucedeu na Iugoslávia, no Iraque, onde a população civil foi atacada (trens de passageiros, hospitais, centrais elétricas etc.), exatamente como está acontecendo na Líbia.

Porque Kadafi é um “osso duro de roer”? Pelos seus primeiros 20 anos de gestão. O maior nível de vida da África; o mais alto nível de educação; de saúde; as grandes obras que transformaram o deserto em terras cultiváveis etc. Depois Kadafi começou a conciliar com os governos capitalistas de Europa e EUA, com as transnacionais; privatizou parte do petróleo e comprava milhões de dólares em armas. Mas estes não lhe perdoaram nem seu passado nem o fato de que sempre foi um independente na área internacional. Então escolheram a melhor conjuntura: a onda revolucionária democratizadora no mundo árabe; aproveitaram o descontentamento, principalmente em Cirenaica, com o autoritarismo, a corrupção e o desgaste de 42 anos de exercício do poder sem parlamento, sem nenhum partido político etc. Começaram a infiltrar agentes e armas, até potentes mísseis em Benghazi e outras localidades em poder dos rebeldes e com a cobertura dos brutais bombardeios da OTAN. O pior de tudo: empregaram projéteis com urânio empobrecido, bombas de amianto e de fragmentação, armas não convencionais, como fizeram na Bósnia, em Kôsovo, no Iraque e no Afeganistão.

Mas Kadafi começou a contraofensiva e está derrotando a insurgência que tem muitas fissuras. Mas o importante é parar a guerra e resolver o conflito interno na mesa de negociações, sem intervenção estrangeira.

¡Suerte Padre Miguel d’Escoto!

Traduzido por Dario da Silva