Dormindo com o inimigo
Responsável pela gestão que tentou privatizar a Petrobrás, Reichstul está de volta, na polêmica Câmara de Gestão criada pelo governo
A presidenta Dilma Rousseff instalou esta semana a polêmica Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, formada por empresários e ministros, para assessorar o governo no controle e redução de gastos públicos. Apesar de não ter estrutura, nem quadro próprio de funcionários, a Câmara funcionará como uma secretaria executiva da Casa Civil, vinculada ao Conselho de Governo da Presidência. Tudo isso por si só já é polêmico, levando em conta o objetivo da empreitada: ouvir de empresários neoliberais, que sempre defenderam a redução do Estado, conselhos para cortar custos, racionalizar processos e otimizar os serviços públicos. Mais absurda ainda é a presença de Henri Philippe Reichstul neste “seleto” grupo de conselheiros da presidenta.
Estamos falando do empresário que o governo FHC colocou na Presidência da Petrobrás entre 1999 e 2001. Figura muito conhecida pelos petroleiros que enfrentaram em sua gestão o arrocho salarial e diversos ataques a direitos, como as propostas indecorosas de “compra” do extra turno e de extinção do regime 14 x 21, sem falar na farta distribuição de (sur)bônus para gerentes, coordenadores e supervisores. Nos três anos em que presidiu a Petrobrás, Reichstul contribuiu fortemente para o projeto político dos tucanos e demos de sucateamento e privatização da estatal. Em sua ficha corrida está a tentativa de mudança de nome da empresa para Petrobrax, a entrega de 30% da Refap para a Repsol/YPF, o afundamento da P-36 que matou 11 petroleiros, os catastróficos acidentes ambientais na Baía de Guanabara e no Paraná, a reestruturação que fragmentou a Petrobrás em 40 unidades autônomas de negócio, entre outras performances.
Reichstul não dormia em serviço. Só não privatizou as FAFENs , a Replan, a Reduc e outras refinarias do Sistema Petrobrás porque os trabalhadores, organizados nacionalmente pela FUP, resistiram com muita mobilização. Depois de deixar a Petrobrás, o empresário integrou vários Conselhos de Administração de multinacionais, entre elas a Repsol – a mesma que foi agraciada em sua gestão com ativos da Refap e de blocos de petróleo. É, no mínimo, muita ingenuidade do governo querer ouvir conselhos desse tipo de empresário para controlar e reduzir gastos públicos. Se o Reichstul ainda fosse o presidente da Petrobrás, o PAC não existiria, pois a estatal jamais investiria no fortalecimento do Estado e em projetos de desenvolvimento nacional.
*Jornalista e assessora de comunicação da FUP
(21) 3852-5002
Crédito: IG | |
Nomes fortes da iniciativa privada brasileira acompanham o empresário Jorge Gerdau Johannpeter na posse da Câmara de Políticas de Gestão de Desempenho e Competitividade, amanhã, em Brasília.
Estarão no Planalto Henri Philippe Reichstul, ex-presidente da Petrobras e por muito tempo desafeto dos petistas, Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, e Antonio Maciel, da Suzano.
Dentro do governo, há uma imensa expectativa sobre o funcionamento da Câmara. A presidenta Dilma Rousseff já deixou claro que dará toda a força necessária para os quatro empresários.
Nos bastidores, o assunto mais comentado é a coragem da presidenta em trazer Reichstul de volta ao governo, já que o executivo, quando presidente da Petrobras, tentou alterar o nome da estatal para Petrobrax, além de ser próximo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Autor: Guilherme Barros