Vitória*
Jorge Cadima
A eleição da Assembleia Constituinte venezuelana e a sua tomada de posse constituem uma importantíssima vitória. Não significa, é certo, o fim das ingerências do imperialismo e da violência fascista na Venezuela. Trump já anunciou novas sanções, pela ousadia de dar a voz ao povo. Querem mais sangue, mais Líbias, mais Sírias, mais Iraques. O coro midiático, em que no nosso país participam vozes que vão da extrema-direita ao BE, não irá calar-se. Mas a clara afirmação da dignidade e coragem dum povo que quer a paz e não quer ceder as conquistas da Revolução Bolivariana abre melhores perspectivas para os combates futuros.
A eleição para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) da Venezuela foi uma enorme vitória. Desde há meses, o país é vítima de uma brutal violência diária da reação interna e internacional, que aproveitou a baixa do preço do petróleo para gerar o caos econômico como arma de subversão (como no Chile dos anos 70, preparando o terreno para Pinochet, ou na própria Venezuela, preparando o golpe de Estado de 2002). Mas, apesar de uma das mais miseráveis campanhas de patranhas da comunicação social a serviço do grande capital e do imperialismo, o povo venezuelano acorreu em massa a votar, afirmando a sua vontade de ser soberano.
A «oposição democrática» – que queimou vivas várias pessoas nestas últimas semanas (há casos documentados em vídeo na Internet) – não só apelou à não participação no ato, como tentou ativamente boicotar a abertura de centros de votação e o deslocamento dos eleitores às urnas. O imperialismo mobilizou todos os meios: os bandos terroristas cujos crimes são depois imputados ao governo; uma comunicação social em «modo de guerra» e fake news, como as que antecedem todas as grandes operações imperialistas; as repetidas ameaças de sanções; os anúncios prévios de não reconhecimento dos resultados eleitorais; o assassinato de candidatos. Mas mais de oito milhões de venezuelanos votaram – a segunda maior votação absoluta a favor da Revolução Bolivariana. A percentagem de votantes pela ANC – 41,5% do corpo eleitoral – é quase igual à que obteve Macron na segunda volta face a Le Pen, no que foi considerado um triunfo esmagador. As imagens da afluência de muitas dezenas de milhares de eleitores das zonas mais atingidas pela violência fascista ao centro eleitoral especial instalado no Poliedro de Caracas falam por si sobre a determinação e coragem dos venezuelanos.
A importância da Venezuela é enorme: pelos seus recursos petrolíferos, mas também pelo que representa para os processos de afirmação soberana e progressista na América Latina e no mundo. Para quantos ainda se possam deixar levar pelas campanhas antibolivarianas que vão de Trump ao Bloco de Esquerda (declaração de CM, DN 30.7.17), deixemos que seja o próprio Diretor da CIA, nomeado por Trump, a esclarecer as coisas. Falando perante uma audiência amiga no fórum anual sobre «segurança» do Aspen Institute, disse Pompeo (transcrição no site do Instituto): «estamos muito esperançados que possa haver uma transição na Venezuela e nós na CIA estamos fazendo o nosso melhor para perceber a dinâmica, para a podermos transmitir ao nosso Departamento de Estado e outros. […] estive na Cidade do México e em Bogotá na penúltima semana, para falar precisamente desta questão e ajudá-los a compreender aquilo que podem fazer». Até a escolha do México e Colômbia é elucidativa. «Em maio de 2017, o Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais de Londres, apontou o México como o segundo país mais violento do mundo, tendo em conta as 23 mil pessoas aí assassinadas no ano anterior. Só na Síria […] o número de pessoas assassinadas foi mais elevado em 2016» (abrilabril.pt, 30.7.17). Nada que preocupe a comunicação social imperial: é tudo a bem dos negócios.
Esta eleição não significa o fim das ingerências do imperialismo e da violência fascista na Venezuela. Trump já anunciou novas sanções, pela ousadia de dar a voz ao povo. Querem mais sangue, mais Líbias, mais Sírias, mais Iraques. Mas a clara afirmação da dignidade e coragem de um povo que quer a paz e não quer ceder as conquistas da Revolução Bolivariana, abre melhores perspectivas para os combates futuros.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2279, 3.08.2017
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