A economia da guerra: como se reparte a produção e consumo de armamentos no mundo
Henrique Lorenz e José Martins da redação
A economia da guerra determina o poder militar e geopolítico global. O resto é conversa mole da ciência política vulgar que vê a evolução do poder político entre as nações como resultado de ideias e grandes homens. Vejamos alguns dados do promissor mercado mundial desta importante mercadoria que a nem um pouco pacifista Rosa de Luxemburgo denominava “bens de destruição” – para diferenciar dos “bens salários”, “bens de capital” e “bens de luxo”. São produzidos na Seção 4 da produção social. Estados Unidos e Rússia permanecem como os maiores exportadores mundiais da poderosa mercadoria. O volume das vendas internacionais de armamentos pesados não parou de crescer desde 2004 e aumentou 14% entre 2006-10 e 2011-15, segundo os novos dados sobre o assunto publicados no dia de hoje (22/Fevereiro) pelo Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), da Suécia.
Os pontos quentes da geopolítica global podem ser localizados pela lista dos maiores compradores da sinistra mercadoria. Seis dentre 10 maiores importadores de armas, no período de cinco anos, 2011-2015, estão na Ásia e Oceania. A Índia (14% das importações mundiais de armamentos); China (4,7%); Austrália (3,6%); Paquistão (3,3%); Vietnam (2,9%); e a Coreia do Sul (2,6%). As importações de armamentos do Vietnã aumentaram 699%. As importações de armamentos dos Estados da Ásia e Oceania aumentaram 26% entre 2006-2010 e 2011-2015, com os Estados da região recebendo 46% das importações mundiais de armamentos no período 2011-2015.
“A China continua a estender sua capacidade militar com armas importadas e produzidas no país”, declara Siemon Wezeman, pesquisador principal do programa Armas e Gastos Militares do SIPRI. “Os Estados vizinhos, como a Índia, Vietnã e Japão ao mesmo tempo reforçam significativamente suas forças militares”.
As importações de armamentos pelos Estados do Oriente Médio aumentaram 61% entre 2006-2010 e 2011-2015. Neste último período a Arábia Saudita era a segunda maior importadora de armamentos do mundo, com uma elevação de 275% frente ao período anterior. No mesmo período, as importações de armamentos pelos Emirados Árabes Unidos aumentaram em 35% e as do Qatar em 279%. As importações de armas do Egito aumentaram em 37% entre 2006-2010 e 2011-2015, principalmente em razão de forte alta em 2015. “Apesar dos baixos preços do petróleo, importantes carregamentos de armas destinados ao Oriente Médio devem ter prosseguimento no quadro de contratos assinados nos últimos cinco anos”, declara Wezeman.
Com uma parcela de 33% do total das exportações globais, os Estados Unidos são o primeiro exportador de armamentos no período 2011-2015. Suas exportações de armamentos pesados aumentaram 27% com relação ao período 2006-2010. “Considerando o incremento das tensões e conflitos regionais os EUA permanecem de longe o maior fornecedor de armas do mundo”, salienta Aude Fleurant, outra diretora do SIPRI. “Os EUA venderam ou doaram armamentos pesados a pelo menos 96 Estados nos últimos cinco anos, e a indústria de armamentos norte-americana conseguiu importantes encomendas de exportações em curso, como um total de 611 aviões de combate F-35 a 9 Estados”, contabiliza Fleurant.
As companhias norte-americanas continuam a dominar o Top 100 do mercado global de armamentos, com uma fatia de 54,4% do mercado. Lockheed Martin ocupa o primeiro lugar das vendas mundiais desde 2009, seguida pela Boeing, segunda colocada no ranking mundial. “Com a aquisição da fabricante de helicópteros Sikorsky Aircraft Corp, em 2015, a distância entre Lockheed Martin e as demais concorrentes da Top 100 deve aumentar ainda mais no próximo ano” declara a senhora Fleurant.
A despeito das dificuldades econômicas domésticas, as exportações de armamento pesado da Rússia aumentaram 28% entre 2006-2010 e 2011-2015. A Rússia é a segunda maior exportadora mundial de armamentos, dominando atualmente 25% das exportações mundiais. Assim, EUA e Rússia dominam 58% do mercado internacional. As vendas das empresas russas da indústria de armamentos também continuaram a se expandir nos últimos cinco anos. O número de empresas russas ranqueadas no Top 100 subiu de 9 para 11 no último ano, acumulando a fatia de 10.2 % do total de vendas de armamentos do Top 100. Esses números representam fundamentos materiais que se situam na base da aliança estratégica entre EUA e Rússia na nova ordem geopolítica internacional, costurada com esmero nos últimos anos por John Kerry e Sergei Lavrov.
A economia da guerra: como se reparte a produção e consumo de armamentos no mundo