Historiadora testemunha na Corte de Roma contra ex-agentes da ditadura brasileira

imagempor Janaina Cesar

Audiência faz parte do processo Condor brasileiro que julga envolvimento com assassinato do ítalo-argentino Lorenzo Vinãs Gigli

“Posso dizer que o Brasil foi o centro ideológico do Cone Sul. A doutrinação militar da Escola Superior de Guerra influenciou as outras ditaduras da América do Sul”, disse Federica Martellini, 39 anos, historiadora italiana que na manhã desta segunda-feira (11/09) testemunhou no processo condor brasileiro que tramita na justiça italiana. O caso julga o envolvimento de ex-agentes da ditadura brasileira (1964-1985) no assassinato do ítalo-argentino Lorenzo Vinãs Gigli.

A audiência que aconteceu na aula principal da I Corte de Assisi do Tribunal de Roma durou cerca 40 minutos. Durante o tempo todo em que falou e expôs seus slides e textos onde descrevia quais eram e como atuavam os principais órgãos de repressão da ditadura brasileira entre eles o Serviço Nacional de Informações (SNI), o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-CODI), Martellini encontrou uma Corte interessada a cada palavra que dizia.

A historiadora colaborou com o Ministério Público de 2003 à 2005 no processo Condor principal –cujo caso brasileiro é um desdobramento – e foi chamada para depor 10 anos após a conclusão de seu trabalho. Apesar do caso Vinãs não ter sido foco principal de sua pesquisa inicial, a parte histórica da época de atuação do plano Condor foi aprofundada, em especial a participação do regime brasileiro. Ela conta que foi emotivamente difícil voltar ao caso depois de tantos anos. “Uma coisa é ler documentos, estudar cartas processuais, outra é ver e ouvir o testemunho de pessoas que foram torturadas, que foram vítimas do plano Condor”, diz a reportagem de Opera Mundi, único veículo de comunicação brasileiro a acompanhar o processo.

A pesquisadora mostrou mapas da cidade de Uruguaiana, que fica na fronteira do Brasil e Argentina onde o ítalo-argentino desapareceu em 26 de junho de 1980. Viñas já havia sido preso em 1974 por sua militância no movimento Montoneros. Por conta da perseguição política, ele e sua esposa Claudia Olga Allegrini decidiram vir para a Itália. Em junho de 1980, Viñas embarcou em um ônibus em Buenos Aires com destino ao Rio de Janeiro — sua esposa faria o mesmo percurso um mês de depois e juntos iriam para o país europeu. No entanto, Viñas não completou a viagem.

São acusados pelo assassinato de Vinãs os ex-agentes militares brasileiros João Osvaldo Leivas Job, Calos Alberto Ponzi, Átila Rohrsetzer e Marco Aurélio da Silva (este último faleceu em 2 de junho de 2016). Eles estão sendo processados à revelia na Itália, apesar disso apenas a família de Ponzi procurou em um primeiro momento se defender. Um filho do ex-agente chegou a contatar os advogados italianos que os estão representando, mas depois sumiu.

Segundo o Ministério Público italiano, na data em que Vinãs fo sequestrado, Leivas Job era secretário de Segurança do Rio Grande do Sul; Ponzi chefiava a agência do SNI em Porto Alegre; Rohrsetzer era diretor da Divisão Central de Informações do Rio Grande do Sul; e Silva, delegado de polícia, cobria o cargo de diretor do Dops do Rio Grande do Sul. Rohrsetzer mora em Florianópolis e Leivas Job e Ponzi vivem em Porto Alegre. Marco Aurélio da Silva vivia, até sua morte, morava em uma praia do litoral gaúcho.

Para a próxima audiência, marcada para o dia 26 de novembro, às 10h, serão chamados para depor o brasileiro Jair Krischke – Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Claudia Olga Allegrini, viúva de Vinãs e Silvia Tolchinsky, militante Montonero sequestrada em Las Cuevas, fronteira da Argentina com o Chile, autora de uma carta endereçada a Allegrini, em que relata ter encontrado Viñas em uma prisão clandestina. As duas devem depor em vídeo-conferência.

Em 2006, o Comitê Nacional para Refugiados concedeu a Medina o status de refugiado político, configurando uma decisão histórica no país, uma vez que a Colômbia não estava sob o domínio de um estado ditatorial nem em estado de exceção. No ano de 2007, o Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) negou o pedido de deportação do governo colombiano, sob a justificativa de que não seria permitido deportar uma pessoa refugiada política.

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