45 anos sem Manoel Fiel Filho

imagemManoel Fiel Filho: operário comunista na luta contra a ditadura

Fundação Dinarco Reis

(artigo publicado em janeiro de 2016 no Jornal O Poder Popular nº 07)

Era quase meio-dia de 16 de janeiro de 1976, uma sexta-feira, quando dois homens chegaram na indústria metalúrgica Metal Arte em São Paulo, para levar o operário Manoel Fiel Filho. Queriam extrair dele informações sobre sua militância no Partido Comunista Brasileiro. Como sempre mentiam, os agentes do DOI-CODI disseram que o estariam levando por solicitação da Prefeitura de São Paulo. No dia seguinte, uma nota oficial do Comando do II Exército sediado em São Paulo informava que o “operário Manoel Fiel Filho tinha se suicidado com suas próprias meias”. Mais uma farsa era montada, a exemplo dos casos anteriores envolvendo o estudante Alexandre Vanucchi Leme (militante da ALN), o tenente da PM José Ferreira de Almeida e o jornalista Vlado Herzog (ambos do PCB), também “suicidados” nos porões da ditadura.

Fiel Filho era natural de Quebrangulo, Alagoas, de onde saiu aos 18 anos para São Paulo, carregado de sonhos por uma vida melhor. Começou trabalhando como padeiro e cobrador de ônibus na megalópole. Quando foi assassinado em 17 de janeiro de 1976, tinha 49 anos, era operário metalúrgico e membro do PCB. Ganhava pouco mais do que 3.000 cruzeiros por mês, morava num sobrado na Vila Guarani, era casado com Tereza e tinha duas filhas adolescentes, Maria Aparecida e Márcia.

Desde a posse do ditador Ernesto Geisel, em 1974, o regime anunciava uma “distensão lenta e gradual”, mas continuou prendendo, torturando e matando. O PCB foi a organização mais perseguida em meados da década, com a prisão, tortura e assassinato de dirigentes do Comitê Central e militantes de base. Um dos objetivos da Operação Radar, criada pela ditadura para destruir o PCB, era ir à caça dos dirigentes e militantes responsáveis pela produção e distribuição do jornal clandestino Voz Operária, que o PCB fazia circular, apesar de todas as adversidades políticas e financeiras.

Manoel foi preso na sequência da captura de Sebastião de Almeida, o Deco, vendedor de bilhetes de loteria que fazia ponto em frente à fábrica Metal Arte, recolhendo contribuições para o PCB e distribuindo exemplares do jornal Voz Operária. Depois de torturado, Deco acabou revelando que Manoel Fiel Filho era um dos recebedores do jornal. No dia 16, depois de o pegarem no trabalho, levaram-no até em casa, para revista-lá em busca de algum exemplar do periódico comunista, mas nada encontraram. Manoel disse para a mulher: “Não chora, nega, que eu vou voltar logo”. Tereza chegou a procurar a delegacia do bairro para denunciar o sequestro, em vão.

No sábado à noite, por volta das 22 horas, um agente do DOI-CODI entregava a Tereza um saco plástico com as roupas e sapatos dele, avisando friamente que “seu marido morreu, suicidou-se”. Diferentemente do que ocorrera com a morte de Herzog, pouco alarido se fez em torno do assassinato de Manoel Fiel Filho. Uma das razões foi a intimidação que a viúva e a família sofreram: os órgãos de repressão exigiram que o velório não durasse mais do que duas horas, forçaram rápido sepultamento e proibiram que outras pessoas, além dos parentes mais próximos, fossem avisadas. Impuseram o silêncio, pois sabiam que seria muito complicado ter que explicar outro “suicídio” nos porões do regime.

Seu assassinato contribuiu para a demissão do General do II Exército, Ednardo D’Ávila Melo, num momento em que a ditadura começava a recuar e a ceder espaços, a partir das primeiras grandes manifestações de oposição após a morte de Herzog e do acirramento das contradições sociais que emergiam com a crise econômica. Nos anos seguintes, Manoel Fiel Filho passou a ser lembrado em documentários, livros, músicas e poemas, como um operário que lutou em favor dos oprimidos e explorados. Um panfleto questionava: “Que crime cometeu esse trabalhador? Combater o arrocho salarial, reivindicar liberdades democráticas e lutar por uma sociedade sem exploradores, onde os trabalhadores que tudo produzem sejam também o poder”. Seu exemplo jamais será em vão.

CAMARADA MANOEL FIEL FILHO, PRESENTE! ONTEM, HOJE E SEMPRE!

PELA CONSTRUÇÃO DO PODER POPULAR NO RUMO DO SOCIALISMO!