Derrotar o projeto da burguesia e construir a alternativa popular
O PODER POPULAR Nº 25 (SET/OUT 2017) – EDITORIAL
O Brasil vive hoje violenta recessão, com alto índice de desemprego que já atinge mais de 20 milhões de trabalhadores (13,5 milhões que perderam o emprego e mais 7 milhões que desistiram de procurar trabalho), que se junta às precárias condições de moradia de imensa parcela da população, à destruição dos direitos e garantias trabalhistas, à violência cotidiana, ao assassinato e encarceramento da juventude pobre e negra das periferias, além da miséria generalizada que impera em todo país.
Ao aprovarem a lei das terceirizações, as contrarreformas trabalhista e do ensino médio, o governo golpista e o Congresso recheado de deputados vendilhões, representando grandes empresários, banqueiros, especuladores e proprietários do agronegócio, tudo fazem para manter o pagamento dos juros obscenos da dívida interna, que somente no ano passado custaram cerca de R$ 480 bilhões, recursos que dariam para construir hospitais e postos de saúde nas várias regiões e bairros do país, creches para todos, uma educação pública de qualidade, além da retomada do crescimento e do emprego.
Com essas medidas querem baratear o preço da força de trabalho, reduzindo os salários em todas as áreas, aumentando a rotatividade no emprego, impedindo que os trabalhadores recorram à Justiça do Trabalho para exigir seus direitos, precarizando ainda mais as condições de trabalho mediante as terceirizações, diminuindo o tempo de vida útil dos aposentados e evitando ao máximo as novas aposentadorias. Tudo isso sem prestar conta a ninguém, a não ser os seus patrocinadores, o grande capital urbano e rural.
Somem-se a tudo isso a farra das isenções, o perdão de dívidas fiscais, a corrupção generalizada e a tentativa de impor uma reforma política para privilegiar os partidos burgueses e isolar a esquerda da disputa política. Esta é a democracia dos capitalistas, na qual as decisões tomadas representam quase sempre ataques contra os interesses populares. Trata-se de um sistema viciado, em que as eleições são definidas pelo poder econômico, e os deputados e senadores eleitos, com raras exceções, dão uma banana para o povo, se locupletam com o dinheiro público e tudo fazem para favorecer o capital, mantendo um sistema apodrecido, antipopular a antinacional.
O trabalho sujo dos golpistas avança agora com a ameaça da ampliação das privatizações, a começar pela grande empresa estatal que é a Eletrobrás, construída com o suor e o sangue dos trabalhadores brasileiros, a ser entregue a preço de banana a grupos transnacionais. Da mesma forma, pretendem escancarar áreas protegidas na Amazônia às multinacionais da mineração, o que terá como resultado, além da espoliação desenfreada de nossas riquezas, a destruição do meio ambiente e das comunidades indígenas.
É fundamental e urgente a constituição de uma frente política permanente (e não preocupada apenas com o calendário eleitoral burguês) dos partidos revolucionários, organizações sindicais classistas, movimentos sociais e populares, que retome, de forma unitária e coesa, as lutas e manifestações de massa para combater o projeto burguês de desmantelamento dos direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora e de entrega das riquezas nacionais ao grande capital. Um amplo movimento que seja capaz de construir uma alternativa própria, socialista, independente e autônoma, capaz de disputar os destinos da nação, um projeto anticapitalista e anti-imperialista.
Ainda há tempo para a realização dessa tarefa: basta que a esquerda revolucionária e as organizações sociais combativas deixem de privilegiar sua política de autoconstrução e trabalhem no sentido de promover um grande encontro nacional dos trabalhadores e dos movimentos sociais e populares, de onde deverão sair uma referência orgânica e um programa unitário para um novo Brasil.