Carta de Julián Conrado ao presidente Hugo Chávez

“Mi fusil es mi guitarra y mis balas son versos de calibre bolivariano, mi táctica es la combinación de las notas musicales con la poesía y mi estrategia un mundo de paz con justicia y amor. Como sé que la paz en mi querida y sufrida Colombia debe pasar por una solución política del conflicto, seguiré dando todo de mi para lograr ese objetivo”.

O ACNUR (Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados) aceitou

um processo de pedido de asilo para Julián Conrado. As condições em que foi detido são inaceitáveis, o seu destino suscita as mais sérias preocupações. Eis como descreve a situação a Coordenadora “Que no Calle el Cantor”:

“Tal como costumam fazer governos arbitrários que detêm pessoas ilegalmente para fazer a sua entrega ao estilo do Plano Condor, sem salvaguarda dos seus Direitos Fundamentais, “cego” perante a ausência de acusação e de processo legal que seja conhecido, Julián Conrado, preso e incomunicável na Direcção de Inteligência Militar (DIM), foi esta sexta-feira, 5 de Agosto, à 1h 50 m da tarde, retirado de La Carraca, em que esteve detido e incomunicável durante mais de sessenta e sete (67) dias, nos calabouços do DIM Boleíta, em Caracas. Perante este quase inverosímil absurdo, sendo sexta-feira à tarde e com um fim-de-semana pelo meio, a Coordenadora “Que no Calle el Cantor” e a FUNDALATIN exprimem a sua indignação perante uma tal arbitrariedade e dirigem um apelo ao Comandante Hugo Chávez no sentido de que imponha a ordem e a legalidade perante arbitrariedades tão evidentes, apelo que se dirige também à grande humanidade que tem demonstrado ao longo da sua vida”.

“Decidimos publicar a carta particular que Julián Conrado dirigiu ao Comandante Chávez em 9 de Junho, poucos dias após a sua detenção/sequestro”.[…]”É um apelo desesperado que confia ao seu sentido de justiça o compromisso humanitário para com um perseguido político doente, o respeito pelos seus direitos legais, e lhe pede, de bolivariano a bolivariano, refúgio numa zona de paz que impeça a sua entrega à tortura e à morte, seja na Colômbia ou nos EUA”.

Carta de Julián Conrado ao presidente Hugo Chávez

(http://www.rebelion.org/imagenes/133586_1.jpg, 9 de Junho de 2011)

Comandante Presidente Hugo Chávez.

Querido Camarada:

Saúdo-te com um infinito sentimento patriota, e com a verdade pura e limpa com que nos recomenda que falemos o nosso Pai Libertador, passo a contar-te o seguinte:

O meu nome na luta pela paz com justiça e com amor é Julián Conrado (de baptismo Guillermo Torres) e sou, como Ely Primera, um cantor do povo.

Abri os olhos para a luz do mundo em Turbaco, uma povoação pegada com Cartagena, cidade para onde se dirigiu Bolívar quando da sua derrota em Puerto Cabello, e onde encontrou apoio suficiente para recompor as suas forças.

Daí seguiu pelo Rio Magdalena acima e combate após combate alcançou a vitória que foi a nossa independência em relação ao império espanhol.

Se a Bolívar tivesse sucedido que em Cartagena, em vez da mão solidária e amiga que lhe foi estendida, o tivessem prendido e entregado ao império espanhol, IRRA! Que tamanho não teria tido a sua dor?

Eu sou um patriota colombiano que chego à Venezuela depois de uma prolongada luta, velho e doente, procurando alívio para a minha saúde e com a ideia de, mais à frente, arranjar uma pequena quinta de um hectare, com galinhas poedeiras e animais de engorda onde conseguisse o meu sustento. E continuar, com a ajuda de Deus, a compor e a cantar canções para animar a luta dos povos na sua busca da liberdade e da felicidade.

É isso que faço desde criança.

É pura mentira dizer-se que tenho 20 anos de vida guerrilheira, eu sou guerrilheiro há mais de 40 anos; a diferença é que sou, não guerrilheiro militar mas guerrilheiro cantor, como Ely Primera, Victor Jara, Carlos Puebla, Ruben Blades, Sílvio Rodriguez e tantos outros. A minha espingarda é a minha guitarra e as minhas balas são versos de calibre bolivariano, a minha táctica é a combinação da poesia com as notas musicais e a minha estratégia é um mundo de paz com justiça e amor. Como sei que a paz na minha querida e sofredora Colômbia deve passar por uma solução política do conflito, continuarei a fazer tudo o que for capaz para alcançar esse objectivo.

Tanto tu como a Revolução Bolivariana têm estado presentes nas minhas canções, e se as escutares saberás o amor que sinto por ti e pelo povo venezuelano o que, logicamente, faz aumentar contra mim o ódio do Império e das oligarquias; quebra-me agora a alma que se possa truncar o meu novo trabalho, que são canções para a Nicarágua e Daniel, Bolívia e Evo, Uruguai e Pepe, Cuba e Fidel, Honduras, Equador e mais alguma coisa para a Venezuela; a única coisa que falta a esse trabalho é gravá-lo. Oxalá aconteça o milagre de que me deixem cantá-las para que as possas apreciar.

Não queria criar problemas ao teu governo, fiz todos os possíveis para o evitar, bati a algumas portas e não me abriram, apenas Lina Ron prometeu ajudar-me e um dia antes do encontro morreu a camarada.

Agora estou privado de liberdade e segundo o Santo vou ser extraditado, mas enfim, já o disse antes o Mestre Simón Rodriguez: inventamos ou erramos. Eu sei que tu podes, com o imenso poder da autoridade moral que possuis, inventar que o impossível se torne possível; para além do mais, existem acordos e leis internacionais que não autorizam a minha extradição.

“não permitas que pensem: era assim que o queríamos vê-lo. Não permitas que digam: havemos de o comer vivo” (Salmo 35).

Da minha esposa (que te ama, além do mais por ser “llanera” e para completar descendente de Maisanta) nada sei desde o dia da minha captura; ela ficou (se é que ainda está viva) apenas com a roupa com que dormia, sem dinheiro, doente e com problemas causados pela menopausa; o que estará a sofrer é indizível.

Por aqui os guardas, a partir do momento em que descobriram que eu não era o terrorista que lhes tinha sido pintado, têm-me tratado melhor. JÁ NÃO ESTOU ALGEMADO E COM OS OLHOS VENDADOS, COMO ESTIVE MAIS DE UMA SEMANA. Dizem-me que é possível conseguir uma guitarra para cantar; oxalá, porque se se cala o cantor cala-se a vida.

Despeço-me com um abraço “elyprimerano”.

Amando venceremos!

Julián Conrado

Fonte: http://www.odiario.info/?p=2166