A entrada da Espanha na estrutura do escudo antimísseis da OTAN
Uma vez conhecida a decisão anunciada ontem por Rodríguez Zapatero, em virtude da qual a Espanha passará a formar parte do conjunto de países que participam no denominado “escudo antimísseis” da OTAN, o Comitê Executivo do PCPE declara o seguinte:
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O denominado “escudo antimísseis” trata-se de uma tecnologia desenvolvida inicialmente pelo governo de George Bush para repelir supostos ataques contra EUA de mísseis procedentes de Irã ou da República Democrática da Coréia. Este mecanismo militar, que recupera a doutrina da “guerra das galáxias” de Reagan e vulnerabiliza os acordos de desarme, ainda vigentes, entre a antiga URSS e EUA, que supostamente tinha sido abandonado em 2009 por decisão de Obama, supõem um novo passo na escalada do militarismo e da violência que o imperialismo está desatando para tentar resolver a profunda crise estrutural em que se acha o sistema capitalista em decomposição.
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Ante esta situação, o governo de Zapatero, o governo do PSOE, repete uma vez mais seu tradicional papel de bobo do imperialismo e firme defensor dos interesses da oligarquia, com outra cessão de soberania à OTAN, ferramenta criminal ao serviço das aspirações de domínio mundial de EUA. A notícia de que a base militar de Rota será integrada ao sistema do escudo, supõe um passo mais na total integração da capacidade militar espanhola nas estruturas imperialistas, fato precedido pela participação das tropas espanholas em todas as operações de saque e pilhagem dos últimos anos em lugares como Líbia, Kosovo, Iraque ou Afeganistão. A base de Rota converte-se desta maneira em peça essencial da estrutura militar norte-americana para a África (AFRICOM), via pela qual a oligarquia espanhola tratará de incrementar sua intervenção nas crescentes contradições inter imperialistas e processos convulsos que se dão no sul do Mediterrâneo e África.
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Os Escudos antimísseis dos EUA, agora apresentados como da OTAN, supõem um novo disfarce por meio do qual se pretende confundir e enganar aos povos. Situa-se dentro da dinâmica de unidade e luta em que estão envolvidas as distintas potências imperialistas e onde a União Européia, com uma capacidade militar muito inferior aos EUA e incapaz de adotar uma posição autônoma como pólo imperialista, prefere ser subsidiária dos EUA na pugna frente a outras potências como Rússia e China, objetivos últimos da geoestratégica militar da OTAN.
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A entrada de Espanha no clube europeu de participantes e no escudo antimísseis, se unindo a Polônia, Romênia, República Checa ou Turquia, e que será seguida por outros países da UE, há que interpretá-la não só como o intento final do PSOE de fazer graça para o imperialismo ianque, uma vez que as relações com os EUA se dificultaram em razão de uma única decisão acertada de Zapatero em política internacional, que foi a saída das tropas espanholas do Iraque.
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Este mecanismo militar, ademais de operar no marco dos conflitos inter imperialistas que recrudescem à medida que avança o processo de decomposição do capitalismo, se enquadra também numa estratégia que está diretamente dirigida contra as massas operárias e populares do mundo, encaminhada a converter a OTAN numa ferramenta capaz de intervir num número crescente de países, suscetíveis de gerar processos revolucionários, dada a constante piora das condições de vida das massas populares. Os cada vez maiores compromissos que adota a oligarquia espanhola, e as classes dominantes em outros países, com as estruturas imperialistas, procuram garantir a posição de domínio e privilégio, abrindo a possibilidade de intervenções militares internacionais no caso de que processos de luta revolucionária ponham o sistema capitalista em risco em alguns países.
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Neste marco, o governo do PSOE volta a fechar-se em seus interesses de imperialismo mais assassino, violando, uma vez mais, os termos do referendum da OTAN de 1986. A social democracia se põe a serviço das principais potências imperialistas para tratar de melhorar o peso relativo de Espanha na pirâmide imperialista, num momento em que a crise estrutural do capitalismo está fazendo com que os monopólios espanhóis percam postos no cenário econômico capitalista mundial. No marco do atual sistema, não há respeito pela soberania popular, unicamente cabem mais militarismo e mais reação.
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Declaramos nossa solidariedade para com todos aqueles povos que fazem frente à ameaça imperialista, especialmente às ameaças da UE, da OTAN e dos EUA. Expressamos nosso apoio irrestrito aos povos que resistem em se entregar às potências imperialistas e que lutam por um futuro de igualdade entre os povos do mundo, alheios aos saques, invasões, ameaças e manipulações do capitalismo.
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Exigimos, portanto, a imediata revogação desta decisão que, junto com o desmantelamento de todas as bases militares estrangeiras, se enquadrem num processo de saída da Espanha de todas as estruturas imperialistas das que forma parte, principalmente da OTAN e da UE.
Finalmente, fazemos um chamado à classe operária e setores populares de nosso país, assim como às organizações sociais, sindicais e políticas que se opõem ao imperialismo, a levantar a bandeira da paz e a dignidade, a declarar que as guerras de saque e espólio não são as de classes da classe operária, senão da oligarquia e seus monopólios, a lutar pela defesa da soberania contra a UE, a OTAN e os EUA.
Madri, 6 de outubro de 2011.
Comitê Executivo do PCPE.