Espanha tem novo governo. Mais do mesmo?

imagemOLHAR COMUNISTA

A Espanha tem um novo primeiro ministro: Pedro Sánches, do Partido Socialista Operário Espanhol. O PSOE tem apenas 84 deputados no parlamento, e o novo governo terá que formar sua base com partidos como o Podemos (criado em 2014, em meio à grave crise do governo Zapatero – PSOE -, de viés socialdemocrata e anti União Europeia), os partidos separatistas catalães e bascos e outras agremiações de pequeno porte. Sánches anunciou que retomará o diálogo com os catalães “em novas bases”, embora seu partido se oponha a qualquer referendo sobre a independência da região.

A eleição de Sánches, pelo parlamento, se deu após a aprovação de um voto de censura ao governo, apresentada pelo PSOE, motivada por uma série de denúncias de corrupção envolvendo o Partido Popular, que capitaneava a coalizão de centro-direita, até então a base de sustentação do governo deposto de Mariano Rajoy. As denúncias culminaram com a prisão de Eduardo Zaplana, dirigente do PP e ex-presidente da Comunidade Valenciana, e outras pessoas ligadas ao Partido Popular, acusadas de cobrar taxas ilegais para a concessão de obras públicas e lavagem de dinheiro, dentre outros delitos.

A eleição de Pedro Sánches abre um novo ciclo na Espanha, que passa por uma reconfiguração do sistema político burguês. As últimas pesquisas de opinião publicadas confirmam que o velho bipartidarismo foi substituído por uma disputa entre um eixo à direita (representado pelo PP e pelo Cidadãos – criado em 2006, de viés liberal) e um eixo um pouco mais à esquerda (representado pelo PSOE e pelo Podemos). Há uma intensa luta travada entre eles para a definição de qual é a força dominante dentro de cada bloco de forças e também entre os dois eixos, havendo, ainda, a possibilidade de ligação direta entre os dois pólos, como num possível acordo entre o PSOE e o Cidadãos.

imagemEssa mudança gera, para o sistema político, mais flexibilidade para enfrentar, do ponto de vista do capital, os novos problemas econômicos e sociais que estão por vir, pois o debate entre os dois eixos gira em torno de nuances nas formas de gestão da economia e do país, falsos debates que aprisionam os trabalhadores, como a discussão em torno de mudanças cosméticas no sistema de representação política. Mas os dois eixos políticos que disputam o poder estão fortemente unidos na defesa do capitalismo, na defesa da exploração da classe trabalhadora.

O compromisso, assumido por Pedro Sánchez de governar com o orçamento aprovado no governo anterior pelo Partido Popular (durante o qual a Espanha experimentou uma certa retomada do crescimento econômico, obtido com medidas de apoio ao grande capital, cortes de gastos sociais e retirada de direitos dos trabalhadores), garante os interesses da classe burguesa. O PSOE é o partido que levou a Espanha a ingressar na Otan e a participar de guerras imperialistas, adotando em seu governo a plataforma neoliberal. É também o partido cujo governo impôs reformas trabalhistas contrárias aos interesses dos trabalhadores e exerceu dura repressão contra o movimento operário  e popular.

A subordinação do Podemos ao PSOE confirma a aliança entre a nova e a velha socialdemocracia para administrar o capitalismo. O PP e outros  partidos da direita se propõem a preservar a oposição, em defesa dos interesses dos setores capitalistas que representam, junto ao governo recém empossado. Seguirão à espera de um novo processo eleitoral que possa voltar a alterar a correlação de forças, com vistas a concluir a reforma do sistema político, uma de suas principais bandeiras.

O novo governo em quase nada interfere na dinâmica da luta de classes na Espanha, onde vem se dando uma intensificação das lutas dos trabalhadores nos últimos meses. Essa mobilização tende a se manter e a se fortalecer, pois não se alterou o quadro de elevado desemprego e de perdas de garantias sociais e trabalhistas. Os interesses da classe trabalhadora de modo algum estão representados. nesse momento, no novo governo ou no debate parlamentar, que se limita a discutir o tipo de gestão de que os monopólios capitalistas precisam para seguir explorando o povo trabalhador.