Chacina da Gamboa (BA): um ano sem justiça!
Por Matheus Almeida
Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia
“Socorro, vão me matar!”, gritou jovem de 20 anos assassinado pela Polícia Militar da Bahia (PMBA)!
Em primeiro de março de 2023 completou-se no Estado da Bahia um ano da Chacina da Gamboa. Na madrugada do dia primeiro, três jovens são assassinados na comunidade Solar do Unhão, que se localiza na região da Gamboa, em Salvador. Triste dia para a região da Gamboa, que teve as vidas de Alexandre dos Santos, Patrick Souza Sapucaia e Cleverson Guimarães Cruz ceifadas por uma ação da PMBA, a qual alega que os jovens foram mortos em uma troca de tiros.
Em contrapartida ao costumeiro relato de “troca de tiros”, os moradores da Gamboa contestaram a versão e afirmam que a Polícia Militar da Bahia operou um trabalho truculento, baseado na lógica do confronto direto, atirando e jogando bombas de gás lacrimogêneo, resultando em consequências graves sobre a vida de todos os presentes. A Classe Trabalhadora, Negra e Periférica baiana pede socorro!
A PMBA, na época comandada pelo ex-governador Rui Costa, não relatou quantos policiais participaram da chacina — nem sequer informou se existia algum planejamento que justificasse a dita operação! —, recorreu aos argumentos de praxe, afirmando a necessidade de apurar as circunstâncias dos fatos, que um inquérito seria instaurado e que os armamentos utilizados seriam encaminhados à perícia.
Nenhum dos envolvidos na chacina foi afastado de seu posto de trabalho, quanto mais expulso da corporação. Além disso, para complementar a situação com maiores requintes de crueldade e barbaridade, a PMBA emitiu uma nota de repúdio no Instagram chamando os familiares e vizinhos das vítimas de acusadores irresponsáveis e levianos.
“A polícia militar da Bahia repudia, veementemente, afirmações levianas e irresponsáveis a respeito de conivência com qualquer projetos de natureza criminosa e genocida”, assim afirmou publicamente essa instituição, que deveria respeitar e zelar pelas vidas baianas. Entretanto, qual o raciocínio lógico a ser inferido sobre esses casos recorrentes e desumanizadores, senão a conclusão de uma polícia de natureza criminosa e genocida?
Naturalmente, um estudo da rede de Observatório de Segurança informa que a cada 100 mortos pela polícia da Bahia, 98 são pessoas negras. Em 2022, dados graves são relatados: todos os mortos pela PM foram pessoas negras. Problemática que se agravou graças à política de fortalecimento da polícia militar operada pelos governadores do Partido dos Trabalhadores (PT), sempre oferecendo cargos estratégicos da administração do Estado para os militares. Além disso, cotidianamente aplaudindo e fortalecendo o desenvolvimento de uma polícia extremamente repressiva, pautada na lógica da repressão e enfrentamento direto.
Porque as forças policiais no Estado Burguês existem com o propósito de alijar a classe trabalhadora, negra e periférica do nosso país, com a finalidade de conter seus impulsos e capacidades revolucionárias. Baseando-se em estratégias de enfrentamento interno, a sua razão de existir não é proteger a população de inimigos externos ao país, porém a própria população passa a ser vista como potencial inimiga do Estado. Evidentemente, a polícia serve aos interesses do Estado, logo, a classe trabalhadora é vista como sua inimiga.
Na semana em que aconteceu a chacina, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que fora instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso por meio da Corregedoria da PM. Segundo o parecer dado pela ouvidoria geral da SSP, pelo menos um dos jovens foi vítima de execução. Além disso, o inquérito comprova abuso do uso da força por parte dos policiais e que as armas que supostamente foram usadas pelas vítimas apresentavam defeitos que impossibilitavam seu uso.
Apesar de tantas provas, nem sequer existe uma ação em escala judicial em andamento. Um ano depois do ocorrido, os policiais envolvidos na chacina seguem em liberdade e trabalhando. Pior, seguem visitando a Gamboa! “Os agentes seguem cometendo as mesmas atrocidades e amedrontando a comunidade”, afirma moradora da comunidade. E os moradores da Gamboa continuam sendo vistos como inimigos do Estado.
É preciso que haja justiça! O Estado não pode continuar a ser o ator principal da promoção da violência e insegurança na Bahia. Urge a desmilitarização da polícia, a construção de uma segurança pública pautada no zelo pela vida, com o direito das nossas comunidades estarem envolvidas na sua reformulação!
Justiça para todas as vítimas da violência policial!