Mariana/MG: 10 anos do crime-rompimento

Mais de 3 séculos de luta contra a mineração predatória
UJC de Mariana – MG
Neste 05 de novembro de 2025 completam 10 anos do maior crime socioambiental da história brasileira, o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG). Esse crime, bem como o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão (Brumadinho, MG), que ocorreu menos de 5 anos depois, são expressões da continuidade da exploração e espoliação dos nossos recursos e do nosso povo. O Estado de Minas Gerais se constituiu no ciclo do ouro e dos diamantes no período colonial, com a exploração-exportação das nossas montanhas por meio da escravização violenta do nosso povo.
Desde a sanha colonial, que inaugurou a lógica do capital nessas terras, até os presentes dias a lei da constante e expansiva exploração leva os nossos minérios junto com o suor e o sangue dos trabalhadores e das trabalhadoras, em correias transportadoras e trens de mil vagões, para o estrangeiro, deixando os territórios devastados, empoeirados e o povo trabalhador doente. O minério extraído em proporções exponenciais nos nossos territórios segue sendo exportado e hoje usado para construir armas, bombas e tanques que destroem outros territórios e interrompem a vida de trabalhadores e trabalhadoras ao redor do globo.
O crime-rompimento da Barragem do Fundão (Vale, Samarco e BHP) despejou mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeito sobre o Rio Doce e devastou territórios inteiros ao longo dos mais de 500 km percorridos pelo mar de lama. As comunidades atingidas, em grande medida rurais, tradicionais, ribeirinhas, indígenas, quilombolas, tiveram seus territórios e modos de vida roubados, interrompidos por um crime que, dez anos depois, segue sem reparação integral.
Dezenove foram as pessoas direta e imediatamente vitimadas pelo mar de lama – sendo 14 trabalhadores da mineração – mas tantos outros foram vitimados pela brutalidade tanto do processo de repactuação, como das tantas violências acumuladas ao longo de anos de convívio com a mineração predatória. O rompimento, que foi previsto, calculado – e portanto poderia ter sido controlado – ocorreu também devido à negligência do Estado, que há anos convive com laudos e relatórios adulterados, vistorias inconsistentes – elaborados por empresas terceirizadas contratadas pelas próprias mineradoras – e que constataram que a barragem estava segura quando não estava.
É essa a realidade ainda hoje, após 10 anos e dois crimes-rompimentos, dos territórios atingidos pela mineração, que lidam com a omissão do poder público diante das informações mentirosas e fraudulentas das empresas, as quais entram nos territórios portando-se como donas de tudo – e todos. Os territórios atingidos também lidam com a água contaminada por metais pesados – como lítio e arsênio – quando não a escassez dessa água imprópria, com o ar extremamente empoeirado, com os altos índices de doenças respiratórias, com a maior incidência de determinados tipos de câncer e com o adoecimento psicológico generalizado.
O chamado ‘’terrorismo de barragem’’, promovido ativamente pelas mineradoras nos territórios, se expressa em formas como o acionamento ocasional e não alertado das sirenas, a instalação de placas de “rota de fuga”, “ponto de encontro”, a constante negação do acesso das comunidades a informações consistentes: a normalização da barbárie. E tudo isso tem função econômica: expulsar as comunidades dos seus territórios para saquear – mais uma vez – tudo que há no subsolo, os minérios, as águas, até a última gota de suor.
Há 10 anos aconteceu o rompimento, mas há muito mais de 10 anos diversas famílias vêm sofrendo direta, ou indiretamente, com a violência da mineração predatória, que se refaz com a ausência da reparação integral, ou mesmo a reparação justa. Há dez anos, ninguém – dos grandes diretores e acionistas das mineradoras – foi preso, sequer julgado ou indiciado, seguem impunes reproduzindo violências diversas nesses e noutros territórios. Por isso, nos somamos aos movimentos e às comissões dos atingidos, denunciando esse crime continuado, e construindo, nas trincheiras de luta contra este modelo devastador de mineração, o novo modo de nos relacionar com os territórios e recursos.
Nas lutas de enfrentamento às crueldades desse sistema de mineração, entendemos a importância de um modelo de mineração que seja controlado pelos/as trabalhadores/as e submetido aos interesses das comunidades, dos territórios e do bem comum. Compreendemos também que isso é incompatível com o modo de produção capitalista, que impõe historicamente a lógica de exploração-exportação, levando os recursos em proporções cada vez maiores, e deixando os danos, também em proporções exponenciais.
Por isso, nós da União da Juventude Comunista, a juventude do Partido Comunista Brasileiro, nos somamos à luta das e dos atingidos e dos movimentos sociais e populares que enfrentam cotidianamente a brutalidade desse modelo predatório de mineração. Nos somamos à defesa e à luta pelo fim desse modelo de mineração e pela construção de um novo modelo de mineração, pautado pela soberania popular, pelo controle do estado submetido às necessidades e vontades da classe trabalhadora e dos territórios.
