Tarcísio é mais perigoso que Bolsonaro

Comitê Regional do PCB de São Paulo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, busca apresentar-se como um dos principais herdeiros do bolsonarismo, mas possui uma característica que o torna muito mais perigoso que Jair Bolsonaro: ele se apresenta como um “técnico”, um gestor eficiente e equilibrado, enquanto aplica políticas autoritárias, repressivas e de entrega do patrimônio público. Essa imagem de competência e moderação, amplamente divulgada pela grande mídia e por setores empresariais, mascara a ambição de chegar à presidência da República para aplicar um projeto político profundamente reacionário, alinhado ao capital financeiro, ao agronegócio e ao imperialismo. Tarcísio não apenas dá continuidade ao bolsonarismo: ele o aprimora, oferecendo uma versão mais sofisticada, capaz de seduzir setores da elite e do eleitorado de classe média, ao mesmo tempo em que radicaliza a repressão às classes populares.

Esse governador, na sua ânsia de ganhar o apoio dos setores conservadores, se apresenta como uma alternativa viável para a extrema-direita nas eleições presidenciais. Ao contrário de Bolsonaro, que se desgastou com escândalos e perdeu credibilidade internacional, ele busca construir uma imagem de gestor moderno, alinhado a valores “liberais”, mas sem abandonar as pautas mais conservadoras e autoritárias. Sua trajetória evidencia essa dualidade: ao mesmo tempo em que tenta conquistar o empresariado e setores do centro político, mantém-se fiel ao núcleo ideológico bolsonarista. Prova disso é sua promessa de anistiar Jair Bolsonaro caso chegue à Presidência, um gesto que reforça o pacto de impunidade da extrema-direita e ameaça diretamente as instituições democráticas.

Seus vínculos com figuras e governos reacionários internacionais também são reveladores. Já apareceu publicamente com o boné de Donald Trump, apoia publicamente as sanções dos Estados Unidos e diz que o Brasil deve ceder uma vitória ao presidente dos EUA, num gesto próprio de um traidor do país. Tarcísio também visitou Israel para expressar apoio a Benjamin Netanyahu em meio ao genocídio palestino e demonstra alinhamento automático com o imperialismo e os setores mais retrógrados do cenário internacional. Essa postura confirma que seu projeto político não se limita a São Paulo: ele busca liderar uma coalizão nacional de extrema-direita profundamente subordinada ao capital estrangeiro.

Sua gestão em São Paulo demonstra que Tarcísio não governa para o povo, mas para os grandes grupos econômicos, restando à população pobre apenas a violência e repressão. Ao nomear um secretário de Segurança Pública que estimula massacres da Polícia Militar, especialmente nas periferias, Tarcísio transformou comunidades pobres em verdadeiros campos de guerra. Na sua administração, as chacinas se tornaram frequentes e a juventude negra e o povo pobre das comunidades periféricas são alvos sistemáticos do aparato policial. O seu breve recuo na retirada das câmeras dos uniformes policiais demonstra que a violência estatal não é exceção ou erro de condução: é uma política deliberada, um instrumento de controle social para manter os oprimidos disciplinados, bem como conservar a desigualdade estrutural.

Na educação, o cenário é igualmente grave. Ao colocar na Secretaria de Educação um gestor alinhado à lógica privatista, Tarcísio lançou uma ofensiva contra professores, sindicatos e a escola pública. As escolas vêm sofrendo com a militarização, a plataformização dos conteúdos pagos as empresas privadas produtoras de dados e o sucateamento do trabalho docente com 70% de contratos precários. Seu governo reduziu investimentos na educação, precarizou o trabalho docente e tenta transformar a educação em mercadoria, substituindo o direito universal pelo lucro privado. Essa política educacional é uma das faces mais perversas de seu projeto: enfraquecer o ensino público significa limitar as perspectivas da juventude trabalhadora, perpetuando o ciclo de pobreza e exclusão social. A perseguição a educadores e a criminalização do movimento estudantil são instrumentos desse projeto de controle ideológico e desmonte das políticas sociais.

Na área de infraestrutura e serviços públicos, Tarcísio atua como um verdadeiro liquidante do patrimônio coletivo. A privatização da Sabesp, uma das maiores empresas públicas do país, representa o ápice de sua agenda neoliberal: colocar um serviço essencial como água e saneamento nas mãos do capital privado, comprometendo a universalização do acesso e sujeitando a população a tarifas mais altas. Ainda no setor de serviços, já sinaliza que pretende fatiar a concessão da empresa de energia a mais entes privados, assim atendendo aos interesses dos demais grupos exploradores. Ao mesmo tempo, o governador amplia concessões de linhas de transporte coletivo e promove uma política agressiva de privatização, pedágios e multas, a chamada “farra dos pedágios”, que transforma estradas em fontes de arrecadação para concessionárias e privatiza as linhas da CPTM enquanto penaliza a população e pequenos produtores rurais.

No campo da habitação, Tarcísio consolidou parcerias público-privadas com o CDHU, de modo que todas as unidades habitacionais agora são adquiridas via setor privado, e não mais construídas pelo poder público. Essa medida também busca polarizar com os movimentos de luta por moradia e ampliar a perseguição aos trabalhadores organizados.

Essa postura não se limita ao setor urbano: no campo, Tarcísio entrega terras públicas a latifundiários por valores irrisórios, cerca de 10% do valor real. Essa política aprofunda a concentração fundiária, fortalece o agronegócio predatório e ignora completamente a necessidade de reforma agrária e desenvolvimento sustentável, ampliando as queimadas e a péssima qualidade do ar no estado de São Paulo. Com isso, ele privilegia os latifundiários, consolida uma estrutura agrária excludente e reforça o poder desses grandes proprietários em detrimento de agricultores familiares, povos tradicionais e movimentos sociais.

Por trás da narrativa de eficiência e gestão técnica, há um governo marcado por escândalos de corrupção. Um caso emblemático foi a fraude bilionária descoberta na Secretaria da Fazenda, com desvio de R$ 1 bilhão, além do financiamento de campanha recebido de uma empresária investigada por fraudes ligadas ao PCC. Soma-se a isso o fato de um dos presos na Operação Carbono Oculto — que revelou um enorme esquema de corrupção e lavagem de dinheiro — ter acompanhado o governador em 23 comitivas oficiais. Esses episódios revelam que o discurso de moralidade é apenas uma fachada para um governo profundamente ligado a interesses obscuros.

Por isso, existe o perigo real de uma eventual presidência de Tarcísio, o que significaria uma combinação explosiva de autoritarismo, tecnocracia, corrupção e repressão contra o povo. Ele busca unir os setores empresariais e financeiros que veem em Bolsonaro uma figura instável e herdar a base social e ideológica de extrema-direita, de forma a consolidar um bloco ultraconservador ainda mais perigoso que Bolsonaro. Seu modelo de governo em São Paulo é um laboratório dessas políticas que, aplicadas em nível nacional, poderiam significar privatizações em massa, cortes brutais em investimentos sociais, repressão aos movimentos populares, aumento exponencial da desigualdade e submissão ao imperialismo

Tarcísio de Freitas não deve ser visto como uma “opção moderada” da direita, mas como a face mais perigosa do bolsonarismo. Ele combina brutalidade ideológica com aparência de gestor responsável, o que lhe pode lhe garantir aceitação política e social das classes dominantes. Seu governo em São Paulo é uma espécie de espelho do que poderia acontecer se viesse a ganhar a presidência da República: um projeto radical de privatização, destruição do serviço público, criminalização da pobreza, repressão policial e alinhamento automático ao capital financeiro e ao imperialismo. A construção de sua imagem pelas forças conservadoras como presidenciável é um alerta para as forças populares, democráticas e progressistas: enfrentá-lo é essencial para barrar uma agenda que ameaça os direitos sociais, a soberania nacional e popular e as liberdades democráticas.