Todo apoio à Ocupação Poeta Colibri!

Jornal o Poder Popular

A Comunidade Poeta Colibri, em Morrinhos, Ceará, está sendo ameaçada de despejo pela Justiça, num processo que envolve a vida de 52 famílias de agricultores/as sem terra, moradores/as do entorno do latifúndio, as quais retomaram a terra em setembro de 2024 e começaram a produzir uma grande diversidade de alimentos.

As famílias reformaram estradas, cercas, açude, todas infraestruturas deterioradas pelos anos de abandono. A fazenda Cruz, como toda população da região sabe bem, encontrava-se há mais de duas décadas abandonada, sem cumprir sua função social.

No dia 18 de junho ocorreu uma audiência virtual na busca por uma solução mediada para o conflito entre o latifundiário secretário de governo e deputado estadual Zezinho Albuquerque e as famílias da Ocupação Poeta Colibri, localizada nas imediações do distrito de Sítio Alegre, município de Morrinhos-CE.

O deputado Zezinho Albuquerque (PP), secretário das Cidades do Estado do Ceará, alega ser o proprietário, mas apresentou documentação de apenas uma pequena parcela da área. Ainda assim, o juiz do caso decretou o despejo.

Uma Justiça a serviço do interesse do proprietário

Tanto o IDACE (Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará) quanto a Defensoria Pública, depois de visitarem a área, apresentaram laudos técnicos divergentes daquele elaborado pelo oficial de justiça, mas é este último o que vem sendo utilizado pelo juiz Gustavo Ferreira Mainardes para justificar a ordem de despejo dada por ele contra a comunidade.

Segundo relatos de moradores da Poeta Colibri, o oficial de justiça, nas duas vezes em que foi ao local, mostrou-se visivelmente tendencioso, ao questionar repetidamente os agricultores “por que justamente a fazenda do deputado Zezinho Albuquerque, e não outra?” Como se a Constituição Federal, que determina a desapropriação para fins de Reforma Agrária de latifúndios improdutivos, não valesse para o latifúndio improdutivo do deputado!

Sem contar que, quando há discordâncias do tipo, sobretudo entre departamentos do mesmo Estado, subentende-se que o mais sensato seria proceder com uma ida ao local, conhecer a realidade de perto antes de se emitir qualquer posição. Por sinal, este é o desejo sincero da comunidade, que reitera o convite para uma visita do Juiz Gustavo Mainardes.

A audiência se desenrolava para a marcação da bendita inspeção técnica, quando um representante da Comissão de Conflitos Agrários, principal instância mediadora, solicitou, com absoluta razão, um prazo adequado para a execução dos trabalhos, tendo em vista que os dez dias determinados para o cumprimento da ordem de despejo já se vencem, em tese, domingo próximo.

Para surpresa de quase todos os presentes, o juiz do caso, doutor Gustavo, fez foi revalidar o laudo suspeito do oficial de justiça como embasamento exclusivo da verdade, deixando assim a cargo da parte autora, ou seja, do latifúndio, o poder de decidir se suspenderia ou não a ordem de despejo, para que a comissão pudesse realizar a inspeção. E o latifúndio disse “não”, não suspenderia.

É verdade que a crença em uma Justiça justa ficou ainda mais distante das consciências das famílias trabalhadoras da comunidade Poeta Colibri. Mas é fato também que a disposição de lutar até o final para que a verdadeira justiça social seja feita ganhou uma carga adicional de energia depois desta audiência.

A família camponesa mora onde planta e colhe o que produz. O empresário do agronegócio mora bem distante da fazenda, não é ele quem planta nem se alimenta do que vende. Quem você acha que tem mais interesse em produzir alimentos saudáveis, sem agrotóxicos?

Cada vez que uma comunidade camponesa é despejada da terra, mais agrotóxicos são derramados na mesa das famílias brasileiras!