Raimundão, um herói anônimo da luta de classes

Por Antônio Alves

Jornal O MOMENTO – PCB da Bahia

A construção de uma revolução passa por diversas mãos, com várias tarefas e responsabilidades. Num partido revolucionário como o PCB – Partido Comunista Brasileiro (O PARTIDÃO), existem muitos heróis anônimos. Pessoas que doaram os melhores anos de suas vidas para a causa revolucionária. Assumindo o compromisso com a organização, imbuídos de coragem e disciplina com objetivo de construir o socialismo em seu país.

Cada militante tem uma tarefa, alguns são figuras públicas, fazem discursos e agitação política. Outras pessoas são propagandistas, redigindo textos, desenvolvendo processos formativos para aumentar a capacidade intelectual dos demais militantes a fim de que possam preparar as bases, fortalecer e organizar a classe trabalhadora. Outros trabalham com panfletagem, na comissão de segurança, promovem atividades de finanças, entre outras tantas tarefas normais na vida de um (a) militante comunista.

Mas esse texto tem por objetivo homenagear de forma merecida um grande herói anônimo do Partidão, o camarada Raimundo Alves de Sousa, conhecido como Raimundão. Camarada natural de Nova York/MA. Um operário gráfico que por décadas foi o responsável pela impressão de nossos jornais.

Raimundão nasceu no município de Nova York, no Maranhão em 1925, filho de família humilde, passou sua infância ajudando o pai vaqueiro. Aos 8 anos vai morar em Teresina/PI, na casa de sua tia/madrinha. Com 17 anos, participa de protestos contra o nazifascismo e passa a frequentar a livraria do “seu Arthur Carvalho”, onde começa a ler livros de Plekhanov, Rosa Luxemburgo, Lenin. Entra no Liceu Piauiense e participa ativamente do movimento estudantil. Em 1943, é eleito presidente do Centro Estudantil Piauiense.

Após completar o ensino médio, optou por deixar a capital piauiense, já que não tinha emprego e a cidade era extremamente oligarca e reacionária. Decidiu fazer a prova de admissão para a Escola de Sargentos de Armas, no Realengo (RJ), onde foi aprovado com louvor. Recebeu a notícia e a ordem para embarcar para Realengo, porém, em Fortaleza (CE), foi retirado do navio com mais dois companheiros. Os três foram cassados por serem notórios subversivos.

Militando como Secretário de Organização do Comitê Estadual do PCB no Piauí, decide aprender tipografia e frequenta a oficina gráfica de Antônio Lemos (O Velho Semana), onde passou 3 anos se profissionalizando. Foi convocado pelo Comitê Central a integrar a equipe do jornal IMPRENSA POPULAR – ÓRGÃO CENTRAL DO PCB, no Rio de Janeiro.

Raimundão, em seu livro de memórias, ou melhor, de prestação de contas – OS DESCONHECIDOS DA HISTÓRIA DA IMPRENSA COMUNISTA – nos apresenta os bastidores da luta revolucionária. Demonstra como muitos militantes, profissionais do Partido e simpatizantes atuavam para levar as ideias dos comunistas até a classe trabalhadora, fosse no campo ou na cidade.

Os relatos desta prestação de contas, como ele admite, em alguns momentos são passíveis de autocrítica. Relata as dificuldades para conseguir profissionais, obter materiais, problemas de finanças e, principalmente, o enfrentamento à repressão que estava sempre nos calcanhares dos comunistas.

A situação era tão complicada que Raimundão relata: “As tarefas eram tão específicas que nos proibiam de ir a comícios, passeatas e comandos de jornais. Frequentar o sindicato era possível, desde que sem grande envolvimento. Essa proibição se justificava, pois não deveríamos ser reconhecidos.” (p. 27).

Outro relato emocionante é a última conversa com Toledo (Câmara Ferreira) e Menezes (Marighella). “… Disse-me que queria se despedir de mim, pois estava deixando o PCB para participar da luta armada… perguntei como ficava a responsabilidade, pois sabia que eu era o responsável pelo aparelho do Voz Operária e, portanto, fragilizado e com risco de uma ação armada contra o aparelho… me afirmou que jamais o aparelho seria revelado. Marighella apareceu e disse – Faço questão de me despedir, mas não sem antes te convidar para vir conosco!… saí daquele encontro muito abalado e nunca mais vi os camaradas” (p. 68).

Em 1975, foi preso e condenado a 3 anos e 4 meses de prisão, tendo seus direitos políticos cassados por 10 anos. Raimundão é um exemplo de coragem e dedicação à luta revolucionária. Fez parte do Comitê Central do PCB, dedicou seus últimos anos de vida ao processo de Reconstrução Revolucionária do Partidão. Seu livro de “prestação de contas” foi lançado em 2005. Infelizmente, no dia 13 de junho de 2006, entrou para eternidade aos 81 anos, como um dos grandes heróis anônimos da luta de classes no Brasil.

Raimundão, presente! Hoje e sempre!

Que seu exemplo fortaleça a prática das novas gerações de militantes comunistas!

Livro de memórias do Raimundão: https://vitrinecomunista.com.br/produtos/livro-os-desconhecidos-da-historia-da-imprensa-comunista/