Na luta de classes, na aliança das forças populares, reside a esperança do povo

A Secretária-Geral  do CC do KKE, Aleka Papariga, falou no domingo em um grande comício político da juventude grega. Em um estádio coberto, completamente  lotado, a Secretária-Geral  referiu-se ao desenrolar dos recentes  acontecimentos políticos  na Grécia.

Colocando  a questão -“quais circunstâncias determinaram  a criação, pelo governo,  da frente (política) das forças burguesas” – , a Secretária-Geral  observou , entre outros  aspectos:

“A principal causa, o que levou o governo à criação da  frente das forças burguesas, foi a dificuldade de um governo burguês de partido único, isto é, o PASOK(1), em governar sozinho, enquanto cresce o descontentamento popular  (…) e, sem  o referendo , algo teria que acontecer  para que outros partidos assumissem  a responsabilidade pela tragédia do povo.

Claro que isso não é uma derrubada  ou  queda real  do PASOK, porque no novo governo tripartite,  com exceção de 3 ou 4 dos ministros, o governo anterior reemergiu com todo o seu pessoal, agora, juntamente com o ND e LAOS(2). Diante de nossos olhos,  o corpo do sistema político burguês, da ponta de seus dedos às suas entranhas, chegou à superfície e empreende uma tarefa permanente na cooperação com as forças do capital. A extrema-direita sai do ventre das mesmas forças burguesas.

Esta não é uma originalidade grega, o exemplo mais representativo foi a criação do partido de  LePen  por Mitterand, e depois os votos, de  todos os partidos, incluindo o Partido Comunista Francês, para Chirac ser eleito Presidente da República, evitando a eleição de Le Pen, o inimigo. (…) Não esqueçamos, ainda, que o acordo de ND e PASOK, em junho passado, entrou em colapso no último momento, um acordo que previa, também, uma mudança de primeiro-ministro. Ele entrou em colapso sob o pretexto de alguns teimosias e palhaçadas, porém a unidade organizacional do PASOK foi salva com a intervenção, principalmente do fator americano (…) A formação deste governo constitui uma importante peça de evidência de que o sistema político burguês não pode governar, como  tinha feito através de uma  rotação dos partidos. Eles não podem mais  controlar e persuadir as pessoas como fizeram há pouco tempo atrás.

Por esta razão, todos eles esperam que o governo permanecerá após  19 de fevereiro(3). Uma seção do mundo burguês, políticos e principalmente os empresários encontrarão uma oportunidade para que, nas eleições, não ocorra algo que exigimos  (…). O senhor Papademus  tem  a missão de tomar medidas adicionais para reduzir o déficit, para avançar sobre o assunto em suspenso entre a Troika(4) e as autoridades gregas para determinar medidas equivalentes a um corte de 8,2 bilhões de euros em 2013 e 2014. É muito duvidoso que eles conseguirão, realmente, a implementação do “corte de cabelo”  (a implantação das medidas de austeridade e cortes no orçamento). “

A Secretária-Geral  do CC do KKE salientou que: “a questão, monopólios ou o povo, vem à tona, o que significa poder para o povo ou o poder para os monopólios. Mas a questão determinante é a postura em relação à guerra imperialista “.

Aleka Papariga observou que: “a profunda crise que estamos vivenciando é um sinal não só de novos focos de proliferação da guerra e um possível ponto de inflamação generalizada entre as potências imperialistas. O envolvimento da Grécia vai ser ainda mais perigoso para o povo. Já existe o envolvimento com a participação da Grécia em guerras localizadas através de bases, com o trânsito de forças militares, em nosso território,  e através da participação em exércitos de ocupação.” Ela exortou os jovens a lutar junto com o KKE contra a participação da Grécia nos designios imperialistas e lutar para estabelecer os planos para o poder do povo, que libertarão, finalmente, o país dos esquemas imperialistas.

Em seu discurso, a Secretária-Geral do CC do KKE também observou: “alguns oportunistas – vocês sabem quem são: são aqueles que quebram janelas ou são, infelizmente, as vítimas da repressão, aqueles que consideram que estamos à beira de uma revolta, que a classe burguesa tornou-se inofensiva e em pouco tempo teremos um governo de “esquerda” –  estão prontos para dizer a vocês, que a evolução do acontecimentos ocorreu como resultado do impacto do movimento de cidadãos indignados nas praças. Se os cidadãos indignados sentirem satisfação com a queda de G. Papandreou, deixemo-los felizes. Nós nunca duvidamos  que o objetivo dos oportunistas era mudar a fachada, apenas.

Mas, não, senhores, o que determinou a evolução recente dos acontecimentos que destacaram as rupturas no sistema político burguês foi a dificuldade na gestão da crise, bem como as lutas significativas do povo, as dezenas de mobilizações de greves, as ocupações de fábricas e outras formas avançadas de luta com exigências justas e radicais (…) que colocam a questão da derrubada do poder dos monopólios e falam do poder do povo, que divulgam a palavra de ordem que os trabalhadores, sem vocês,  não podem movimentar os mecanismos de mudança, vocês podem realizá-las sem os patrões. Estas são as mobilizações que têm um impacto a nível europeu e global. (…)

Todas as propostas do SYRIZA(5), que de tempos em tempos são promovidas e mudadas continuamente, hoje foram ultrapassadas pelo desenrolar da crise em si. Mesmo o “corte de cabelo” de 50% é um golpe grave para a sua proposta de cancelamento parcial da dívida que não foi criada pelo povo. Para começar, nada da dívida foi causada pelas  pessoas do povo; é uma utopia, uma ilusão falar em  separação da dívida. Suas propostas em relação ao Eurobond(6), que também são uma forma de empréstimo, já foram superadas, pois são propostas dos Estados-Membros da UE e várias forças políticas. Elas são os objetivos de um ou outro grupo de concorrentes em oposição ao resto.

Nenhuma força política, no entanto, é caracterizada como”esquerda”, “centro”, “boa” ou “social” e o PASOK governamental não é caracterizado como “anti-regime”, “anti-sistema” ou “anti-autoritários”, e não podem se livrar deste estigma: sua postura, em relação à posição real da classe trabalhadora sobre a exploração capitalista, bem como seu papel de liderança na produção social. (…) O povo tem o poder para enfrentar, com sucesso, os ataques, a calúnia sobre o movimento organizado e o anticomunismo.

Abaixo  a frente política burguesa, abaixo os partidos da plutocracia!

O reforço e a aliança com o KKE é a única perspectiva que traz esperança: de saída da União Européia e  cancelamento da dívida, com o poder popular “.

Notas do Tradutor

1 – PASOK – Movimento Socialista Pan-Helênico, partido do ex-Primeiro Ministro George Papandreou, recentemente demitido.

2 – ND e LAOS,  respectivamente (partidos) Nova Democracia e Concentração Popular Ortodoxa,  este de ultra-direita,  saído do ND. A ideologia desse partido, que conta com bons contatos e relações com a Igreja Ortodoxa grega, é uma mistura de nacionalismo radical, liberalismo extremo e xenofobia, incluindo o anti-semitismo aberto.

3 – Data marcada para a eleição legislativa nacional grega. Até lá, há um governo de transição, chefiado por Lucas Papademus.

4- “Troika”, (triunvirato) referência ao FMI, representado por Paul Thomsen, ao Banco Central Europeu, representado por Jurgen Kröger e à Comissão Européia, representada por Rasmus Ruffer.

5-Syriza – (partido) Coalizão de Esquerda e Progresso.

6- Eurobond – são títulosrepresentativos  de dívida estabelecida  em uma moeda diferente daquela do país em que são emitidos. São subscritos por uma união internacional de bancos  e distribuídos em diversos países.

Traduzido da versão em inglês que sencontra no site do KKE: http://inter.kke.gr/News/news2011/2011-11-15-alela-kne/

Tradutor: Humberto Carvalho, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e de seu CC.